Pietro Germi, diretor do neo-realismo italiano de Em Nome da Lei e O Caminho da Esperança

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Pietro Germi: despojado, ascético e coerente

Pietro Germi, diretor do neo-realismo italiano (www.corriere.it)

Marcello Mastroianni e o diretor Pietro Germi (www.corriere.it)

Entre todos os diretores do neo-realismo italiano, ele foi, talvez, o mais despojado, ascético e coerente. E se de seus primeiros e ainda desiguais filmes se dizia que mostravam mais miséria, sofrimento e corações partidos que os de Luchino Visconti, Vittorio de Sica e Roberto Rossellini, realizados no mesmo período do pós-guerra, isso guardava singelos motivos. Afinal, Pietro Germi, o diretor de “Em Nome da Lei”, de 1949, e “O Caminho da Esperança”, de 1950, não era um duque (como Visconti) nem um festejadíssimo ator (como De Sica). Nem mesmo um teórico brilhante como Rossellini. Mas um genovês de origem e ofícios tão humildes quanto o seu cinema – composto de modestas produções dedicadas ao drama dos trabalhadores italianos. E um populista tão convicto quanto os seus heróis mais humanos e sensíveis – “O Ferroviário”, de 1956, e “O Homem de Palha”, de 1957.

À siciliana – A própria glória que Pietro Germi conheceu, a partir de 1962, quando o bombástico humor de “Divórcio à Italiana” explodiu e fez escola, não chegou a lhe afetar os credos. Só aparentemente, de súbito ele se tinha transformado num cineasta de grande público, vencedor de Oscar, vedete de festivais. Porque, muito além do rush de dom-junianismo e hilariante talento exibido por Marcello Mastroianni – ou o barão Ferdinando Cefalù, apaixonado pela linda prima e já nas raias da loucura para eliminar a esposa gorda e de bigode -, o filme desencadeava um ataque à vida e aos conceitos de honra, na Sicília. Na verdade, Germi apenas mudava de tática, deixando a contundente crítica dos primeiros dramas pela ironia cruel de sua comédia.

Com o sucesso, o “Divórcio” comportou um segundo ato, “Seduzida e Abandonada” (1964), e impôs um “cinema siciliano”. Contudo, sua própria carreira logo resvalaria por sátiras menos inspiradas (“Como Viver com Três Mulheres”, de 1966) e tardias e monótonas sinfonias pastorais (“Serafino”, de 1968). Dos seus 28 anos de atividades cinematográficas, que registram dezenove obras como diretor, também ficaram alguns sinceros momentos interpretativos. Homem solitário, Germi gostava de interpretar papéis introspectivos em seus filmes – como o inspetor de polícia de “Aquele Caso Maldito” (1959) e, sobretudo, “O Ferroviário”.

Assim, ao morrer aos 60 anos de idade, de câncer no fígado, no dia 5 de dezembro de 1974, em Roma, permanecia como um neo-realista, um artista orgulhosamente arredio aos novos rumos tomados pelo cinema de seu país. “Quero temas e personagens bem regionais, italianos, que tratem do casamento, do divórcio e da nossa moral pública”, insistia ele, em 1972, num restaurante de Nova York, falando à imprensa americana de “Alfredo, Alfredo”, sua última obra. Taxativo, junto ao seu vinho e seus amados charutos “Mezzo Toscano”, também explicava que ter filmado com um astro de Hollywood, Dustin Hoffman, não siginificava um deslumbramento ou uma concessão. “Foi uma imperiosa necessidade dramática”, sustentou, exibindo fotos do ator. “Dustin tem traços tipicamente italianos”.
(Fonte: Veja, 11 de dezembro de 1974 -– Edição 327 -– CINEMA -– Pág; 106)

 

 

 

Pietro Germi (Gênova, 14 de setembro de 1914 -– Roma, 5 de dezembro de 1974), diretor italiano de cinema em “Seduzida e Abandonada” (1964). Pietro Germi era ótimo e ganhou o Oscar de roteiro original por “Divórcio à Italiana”. Germi foi meio que cruficicado por seu neo-realismo tardio.
Em um país onde eles contam as amizades, as afiliações, Germi cultivou algum time de inimigos. Fellini definiu ele como o grande carpinteiro, unindo aspecto físico e qualidade profissional que brincam naquele ar severo e solitário de um artesão teimoso. Germi deu o melhor de si no filme O Ferroviário (1955) Nós podemos lhe reprovar talvez em um só defeito: O sentimentalismo, se alguns filmes dele tivessem sido menos sofridos, menos pessoal, teria estado perfeito.

Em tempos de julgamentos e preconceitos, de conformismo, de ideologias Germi se apresentou muito humano, reacionário, espinhoso, em tempos de conjuntura e redenção, se apresentou muito ocupado, inflexível, moralista. Pequeno intelectual para os intelectuais, pequeno esnobe para os círculos fantásticos.
(Fonte: Veja, 21 de outubro de 1981 -– Edição 685 -– ISRAEL -– Pág; 57/58 -– DATAS -– Pág; 115)
(Fonte: www.cineitalia.vilabol.uol.com.br)

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