Participou do grupo que veio a criar o primeiro parque indígena: o Parque Nacional do Xingu

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Participou do grupo que veio a criar o primeiro parque indígena: o Parque Nacional do Xingu

Noel Nutels (Ananyev, 1913 – Rio de Janeiro, 10 de fevereiro de 1973), médico sanitarista – e antropólogo, sertanista, protetor do índio brasileiro.

O judeu nordestino – Brasileiro nascido na Ucrânia, Noel Nutels chegou ao Brasil em 1921, com oito anos, acompanhado da mãe, Bertha. O pai, Salomão, tinha vindo antes para a América do Sul. Depois de uma experiência comercial na Argentina, resolveu voltar para a Europa. Mas, quando o navio passava por Recife, começou a Primeira Guerra Mundial. E o cauteloso Salomão, apesar de judeu e russo, teve medo de ser confundido com um alemão e foi se fixar no interior alagoano, em Laje do Canhoto, depois São José da Laje, que Noel Nutels sempre considerou como sua terra natal.

Estudante em Garanhuns, interior pernambucano, e formado em medicina no Recife pela Faculdade de Medicina do Recife (1936), ele seria um dos lançadores do frevo no sul do país. Como cantor e dançarino de um conjunto de estudantes, exibiu-se em teatros cariocas, nos anos 30. E ficaria pelo Rio de Janeiro até 1943, quando iniciaria seu trabalho pelos índios do Xingu, da Amazônia, do litoral. Trinta anos de sua vida reservou para eles: nas selvas e nas reservas litorâneas, em campanhas contra a tuberculose e a malária: nas cidades e pelo exterior, em conferências denunciadoras de defeitos da cultura branca (como as doenças infecciosas e o apego aos bens materiais, inexistentes entre os índios).

O médico pajé – Médico da histórica e heróica expedição Roncador-Xingu, destinada a desbravar o oeste brasileiro, Noel Nutels primeiro comandou o combate à malária no interior de Goiás e, mais tarde, criou e chefiou o Setor de Unidades Sanitárias Aéreas, do Ministério da Saúde. Em aviões, jipes e barcos fornecidos pela Força Aérea Brasileira, Noel Nutels realizaria então um dos mais intensos e exaustivos trabalhos de preservação do povo indígena já tentados no Brasil: 200 000 quilômetros de viagens por ano, a mais de duzentas localidades, para tirar cerca de 300 000 abreugrafias e aplicar perto de 500 000 doses de vacinas variadas. Quase desconhecida nos meios urbanos, à sua ação se deve, em grande parte, a sobrevivência de algumas tribos inteiras (as treze do Parque Nacional do Xingu tiveram sua assistência durante mais de vinte anos).

Tolerante, improvisador, Noel Nutels obteve muitos de seus triunfos no tratamento de índios, ao conquistar os pajés, que chamava de colegas. Sem outros meios de eliminar a oposição encontrada, que diminuía o número de consultas e, desse modo, prejudicava todo o trabalho, o médico viu-se obrigado a propor ao pajé uma ação conjunta. E escreveria: “Parece que conseguimos convencê-lo de que a reunião dos dois daria melhores resultados”. Por trinta anos atuando em áreas indígenas, criou e desenvolveu um trabalho de atendimento médico às populações indígenas e interioranas no Brasil – o SUSA, Serviço de Unidades Sanitárias Aéreas (1956-1973), participou com Darcy Ribeiro e os irmãos Villas Boas do grupo que veio a criar o primeiro parque indígena: o Parque Nacional do Xingu.

Há quatros anos, desde 1968, o médico sanitarista Noel Nutels descobriu que sua doença era um câncer imune a qualquer operação ou outro tipo de tratamento. Desde então, só fez esconder a verdade de seus amigos. Um destes, o tradutor e enciclopedista Antônio Houaiss, diz que “Noel Nutels ensaiou um simulacro de ignorância”. Isto é, quando os mais chegados à sua casa já tinham conhecimento do mal, ele mesmo fingia de nada saber.

Assim, sua morte, ao cair da noite do dia 10, a quase ninguém surpreendeu. Ainda no dia anterior, avisado de que o fim de Noel Nutels se aproximava, o sertanista Orlando Villas Boas teve tempo de se deslocar do interior de Mato Grosso, onde acabava de estabelecer contato com a tribo gigante dos índios kranhacãrore, e viajar para o Rio de Janeiro. No domingo, dia 11 de fevereiro, juntava-se ao cortejo fúnebre, no cemitério da colônia judaica no Rio de Janeiro em Vila Rosali. Onde, segundo os versos de Carlos Drummond de Andrade, “Noel Nutels repousa / Do desamor alheio aos índios / E de seu próprio amor maior aos índios”.
(Fonte: Veja, 21 de fevereiro de 1973 – MEMÓRIA – Edição 233 – Pág; 24/25)

NOEL NUTELS (1913-1973)

“Eu não clinico, não tenho consultório. Fazia Malária e agora faço Tuberculose. Minha mania: o índio.”

Noel Nutels nasceu na cidade russa de Ananiev (hoje na Ucrânia), em 24 de abril de 1913. Alguns meses antes do nascimento do filho, o pai de Noel viajou para o Brasil para fixar residência. Entretanto, durante a 1ª Guerra Mundial, a família perdeu contato, que foi somente restabelecido em 1920. No ano seguinte, Noel, a mãe e a tia desembarcaram no Recife para depois morar no interior de Alagoas. Lá, Noel Nutels concluiu o ensino básico e em seguida transferiu-se para um colégio católico, em Garanhuns (Pernambuco). Em 1936, graduou-se na Faculdade de Medicina do Recife.

Os interesses do jovem médico voltaram-se para a saúde pública, especializando-se como sanitarista e tisiologista. A tuberculose era na época uma doença extremamente resistente e, assim como hoje, atingia com maior incidência as populações de baixa renda. Em 1938, um ano após obter a naturalidade brasileira, ingressou no serviço público, com a nomeação para o Instituto Experimental Agrícola de Botucatu, São Paulo. Em seguida, mudou-se para o Rio de Janeiro e, na Companhia de Saneamento da Baixada Fluminense, aperfeiçoou-se no combate à malária.
A partir da admissão como médico da Fundação Brasil Central, em 1943, e na participação da Expedição Roncador-Xingu (1946), ao lado dos Irmãos Villas-Bôas, Noel Nutels tornou-se incansável amigo dos índios brasileiros, dedicando-se à preservação do patrimônio físico e cultural das populações indígenas. Como conseqüência, em toda a produção acadêmico-científica do sanitarista, encontra-se uma constante preocupação com a saúde do índio, especialmente no campo da tisiologia.
Em 1952, Noel Nutels elaborou o “Plano para uma campanha de defesa do índio brasileiro contra a tuberculose” e, em 1961, publicou o “Cadastro tuberculínico na área indígena”. Como reconhecimento acadêmico, participou dos Congressos Brasileiros de Tuberculose e Doenças Respiratórias entre 1951 e 1972 e, em 1963, do Congresso Internacional de Tuberculose, em Roma.
Noel Nutels foi ainda criador e primeiro diretor do SUSA (Serviço de Unidades Sanitárias Aéreas), diretor do Serviço de Proteção aos Índios e membro do Conselho Diretor da FUNAI. Casado em 1940 com Elisa Trachtenberg, teve dois filhos, Salomão e Berta. Faleceu no Rio de Janeiro, em 10 de fevereiro de 1973.

(Fonte: www.saude.rj.gov.br – 05 de Abril de 2010)

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