Oswaldo Porchat Pereira, filósofo e professor emérito da USP

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Porchat era talvez o único filósofo cético brasileiro e foi um dos primeiros quatro mestres formados pela tradição francesa

 

Oswaldo Porchat Pereira em foto de 2003 (Unicamp)

 

Oswaldo Porchat de Assis Pereira da Silva (Santos, São Paulo, 1933 – 15 de outubro de 2017), filósofo e professor emérito da USP

O filósofo paulista foi um dos mais importantes do país e professor emérito da USP (Universidade de São Paulo), foi fundador do Departamento de Filosofia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) e do Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência (CLE) da Universidade.

Na Universidade de Rennes, foi discípulo do filósofo Gilles-Gaston Granger (1920-2016). Teve contato com historiografia, lógica e epistemologia. A orientação foi o ponto de partida para a trajetória que levou o jovem brasileiro cerca de duas décadas depois a criar o Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

O filósofo e professor emérito da USP Oswaldo Porchat se formou em Letras Clássicas pela USP em 1956, e concluiu doutorado na mesma Universidade em 67. Ele foi professor da USP de 1961 a 1975, e de 1985 a 1988, quando se aposentou. Também lecionou na Unicamp, e fez estágios acadêmicos na Universidade da Califórnia e na London School of Economics and Political Sciences. A ênfase dos seus estudos era em História da Filosofia e Epistemologia. Em 2011, recebeu o título de professor emérito da USP.

Intelectual pioneiro no campo do ceticismo filosófico, Porchat foi formador de uma geração de filósofos no Brasil, criador do neopirronismo e defensor de uma filosofia aplicada ao cotidiano.

Nascido em Santos em 1933, ele estudou letras clássicas e direito, que abandonou para defender na França sua tese de doutorado sobre Aristóteles. Na Universidade de Rennes, foi discípulo do filósofo Gilles-Gaston Granger. Teve contato com historiografia, lógica e epistemologia. A orientação foi o ponto de partida para a trajetória que levou o jovem brasileiro cerca de duas décadas depois a criar o Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Porchat era talvez o único filósofo cético brasileiro e foi um dos primeiros quatro mestres formados pela tradição francesa, ao lado de Bento Prado Júnior (1937-2007), José Arthur Gianotti e Ruy Fausto.

Nos anos 1970, afastou-se da USP e fundou o centro de lógica, filosofia e história da ciência. Voltou à USP em 1985. Em 2011, recebeu o título de professor emérito da instituição. Ele afirmava ter encontrado no ceticismo clássico a oportunidade de conciliar a vida comum e a filosofia. Em entrevista à Folha de S.Paulo em 1994, afirmou que “ser cético não era apenas criticar os dogmatismos filosóficos, mas também assumir a vida comum, libertando-a de todo o enfoque dogmático. Assumir a precariedade, a contingência, a não fundamentação, a impossibilidade de manter o absoluto como meta.” Nos anos 1990, teve papel importante no crescente debate sobre o ensino de filosofia do país. Fez diversas críticas e autocríticas acerca do peso dado à história da filosofia na formação de filósofos na USP.

Para o filósofo fiel ao método estruturalista de leitura de obras filosóficas, o estudante deveria pôr-se em contato com os textos filosóficos originais a fim de ter contato estreito com os mestres. Mas a corrente, segundo ele, se tornou castradora. “Não nos teremos deixado dominar por um temor exagerado de que nossos estudantes se deixassem tentar pelo ensaísmo filosofante irresponsável, aconselhando-os, por isso, sempre e sempre a que lessem mais autores, conhecessem mais pontos de vista diferentes, estudassem mais textos, pesquisassem mais linhas de pensamento —adiando sempre, assim, suas elaborações filosóficas pessoais?”, questionou em artigo publicado na Folha de S.Paulo em 1998. Autor de “Rumo ao Ceticismo” (Edunesp), de 2007, e “Vida Comum e Ceticismo” (Brasiliense), de 1993, entre outros.

 

 

Oswaldo Porchat e o reitor Fernando Costa, 2011. (Foto: Reprodução/ Exposição Unicamp 50 Anos)

 

 

Trajetória

 

Oswaldo Porchat tinha bacharelado em letras clássicas pela USP (1956) e em filosofia pela Universidade de Rennes (1959), onde foi aluno de Victor Goldschmidt (1914-1981), de quem se considerava discípulo. Defendeu o doutorado em filosofia também pela USP (1967) e foi aluno residente da École Normale Supérieure, em Paris.

 

Fez pós-doutorado na Universidade da Califórnia (Berkeley), em 1969-70, e na London School of Economics and Political Sciences (Londres), em 1983. De 1961 a 1975, atuou como professor de filosofia da USP, onde voltou a lecionar depois da passagem de dez anos pela Unicamp, até 1998. Definia-se como um filósofo neopirrônico.

 

Oswaldo Porchat morreu em 15 de outubro de 2017, aos 84 anos.

Em uma entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo em 2013, o professor de filosofia política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Newton Bignotto falou sobre a obra de Porchat. “Porchat deu uma grande contribuição para a filosofia, com sua visão renovada do ceticismo. Em sua versão antiga, o ceticismo põe em dúvida a possibilidade de que proposições possam conter toda a verdade sobre uma coisa. Assim, elimina a ideia de que o papel da filosofia é explicitar a verdade em todas suas formas. Muitos céticos insistem não apenas sobre o fato de que o ceticismo introduz um elemento importante para a compreensão das ciências como processo de busca da verdade, mas altera nossa forma de olhar o cotidiano. Uma das consequências pode ser o afastamento da vida pública e o desenvolvimento de uma certa apatia, que seria adequada às sociedades atuais.”

O Departamento de Filosofia da USP publicou mensagens de professores e colegas de Porchat. “(Ele) não foi somente um professor de disciplinas, pois, a exemplo dos mestres do ceticismo antigo, filosofia a que ele já há muito tempo dedicava suas investigações, sabia fazer com que seus estudantes aprendessem a pensar. Sua maior lição. Faleceu, para completar uma vida exemplar, justamente no dia do professor”, escreveu o professor Alex Calheiros (Filosofia-UNB).

(Fonte: https://istoe.com.br – EDIÇÃO Nº 2496 – CULTURA / Por Estadão Conteúdo – 16.10.17)

(Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/10 – ILUSTRADA – DE SÃO PAULO – 16/10/17)

(Fonte: https://www.unicamp.br/unicamp/noticias/2017/10/16 – ATUALIDADES / Autor Manuel Alves Filho – 16, OUT – 2017)

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