Natsume Soseki, é autor da obra-prima e um de seus clássicos Eu Sou um Gato

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Natsume Soseki

Natsume Soseki

 

Soseki: paixão comum por Sterne e sátira sobre o tema das ideias emprestadas

Natsume Soseki (9 de fevereiro de 1867 – Tóquio, Japão, 9 de dezembro de 1916), grande nome da literatura universal, é autor da obra-prima e um clássico da literatura Eu Sou um Gato.

Patrono da literatura moderna do Japão, teve sua foto estampada na cédula de 1000 ienes. Muitas vezes comparado com Machado de Assis (1839-1908), pelo fato de que os dois autores compartilharam do mesmo humor, da mesma melancolia, e da mesma deliciosa veia estilística.

Soseki teve seu ponto de contato literário na Inglaterra. Era admirador de Laurence Sterne (1713-1768), cujo romance A Vida e as Opiniões do Cavalheiro Tristam Shandy inaugurou uma maneira de contar histórias cheia de digressões e rupturas, que causam um efeito cômico e desnorteiam o leitor.

Eu Sou um Gato, de 1905, foi a estreia de Soseki na ficção. É provável que ele se imaginasse ao mesmo tempo como o felino-narrador e como o seu pobre amo. Um gato com inclinações filosóficas. Esse gato nascido na rua acompanha as conversas com frequência ridículas de seu amo, o professor Kushami, explora a vida familiar dos vizinhos novos-ricos, passeia pelos banhos públicos de Tóquio – e relata tudo com uma língua autenticamente ferina.

Sua infância foi de gato abandonado. Seus pais o entregaram, aos 2 anos, a outro casal, e só o acolheram de volta aos 9 anos. Um sentimento misto de solidão e independência o acompanhou pela vida, refletido em seu pseudônimo literário (Soseki quer dizer “estorvo”).

Mas, tanto quanto o professor Kushami, Soseki era um “interi” – um intelectual, assombrado pelo influxo da cultura e dos costumes ocidentais sobre o Japão. Soseki nasceu em fevereiro de 1867, meses antes de uma transformação momentosa, a Restauração Meiji, que devolveu o poder à linhagem dos imperadores japoneses e com isso pôs fim a mais de dois séculos de feudalismo e política isolacionista.

A abertura para o mundo não se deu sem traumas. Boa parte de Eu Sou um Gato é dedicada a zombar do palavrório sem sentido a respeito de ideias estrangeiras. À medida que o livro se aproxima do final, contudo, Kushami perde um pouco da tolice, ganha um pouco de sabedoria, e reflete de maneira amarga sobre os dilemas japoneses e o sentido de sua própria vida.

Num ensaio de 1911, A Civilização Japonesa Moderna, o escritor descreveu o processo de modernização de seu país como externo e superficial, em vez de interno e orgânico. O perigo, disse ele, era que um povo inteiro se visse levado a um estado de “nevrose”. Parte dos temores de Soseki se viu confirmada nas décadas seguintes, quando o Japão abraçou uma forma agressiva de nacionalismo.

Em Eu Sou um Gato, contudo, o que esse grande nome da literatura universal exibe é aquele riso largo, apesar de melancólico.

 

 

(Fonte: Veja, 7 de maio de 2008 – ANO 41 – Nº 18 – Edição 2059 – LIVROS/ Por Carlos Graieb – Pág: 176/177)

 

 

 

 

 

 

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