Nassib Mofarrej (1915-1988), empresário libanês radicado no Brasil, austero nos negócios, audacioso

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Nassib Mofarrej (1915-1988), empresário libanês radicado no Brasil, austero nos negócios, audacioso nos cassinos. A história do empresário começou como a de boa parte dos imigrantes libaneses que vieram para o Brasil no inicio do século 20. Ele nasceu em Rachaia, uma cidade no sul do Líbano, em 1915, e tinha 11 anos quando emigrou com a família. Foi mascate, junto com o pai e o irmão, vendendo banana e cachaça pelo interior de São Paulo. Deu duro na vida – e chegou à velhice com uma fortuna calculada em 600 milhões de dólares, capaz de colocá-lo em qualquer das melhores listas internacionais de grandes fortunas particulares. Deixou uma história de sucesso nos negócios e também uma rica coleção de casos de um homem que conseguia combinar extremos de austeridade em sua atividade profissional com uma fascinação pelo risco nas mesas de jogo. “Velho Mofa”, como era chamado, obrigava os filhos a trabalhar, nunca permitindo que dormissem além das 10 horas da manhã, mantinha um estilo de vida relativamente modesto, concentrava o grosso de seus investimentos numa área conservadora e de valorização absolutamente segura – os imóveis. E, no entanto, tornava-se capaz de perder milhões, com um sereno sorriso no rosto, quando se via diante de um pano verde: Mofarrej ficou célebre como um dos maiores e mais fiéis clientes dos cassinos de Las Vegas, onde, contam os amigos, chegou a deixar 500 000 dólares numa de suas viagens.

O grande lance que abriu as portas da fortuna para Nassib ocorreu nos anos 50, pouco depois de sua chegada à capital paulista, quando comprou um alagadiço de 2 milhões de metros quadrados na Vila Leopoldina, um bairro da periferia da cidade, Saneou o charco, abriu ruas e transformou o terreno numa mina de ouro. Hoje a área é um importante distrito industrial que abriga empresas do porte da General Electric, Gessy Lever e White Martins. “O difícil foi ganhar os primeiros 500 contos”, costumava dizer Nassib Mofarrej. “Depois as águas do rio correram para o mar.”

A última grande empreitada de Mofarrej foi a construção, com recursos próprios, de um luxuoso hotel de vinte andares na região da Avenida Paulista, em São Paulo – o Mofarrej Park, avaliado em 50 milhões de dólares. Ele pretendia administrá-lo diretamente, mas acabou arrendando-o à rede hoteleira internacional Sheraton por um aluguel que engordou 250 000 dólares os rendimentos mensais do empresário, proprietário de mais de 700 imóveis apenas na cidade de São Paulo. Ele dizia aos amigos, porém, que nenhuma transação lhe dera tanta alegria quanto a compra da Fazenda Santa Lúcia, situada em Ourinhos, no interior paulista. Nos anos 30, o pai de Nassib foi proibido de vender seus produtos na fazenda e chegou inconformado em casa. “Não fique triste, papai. Um dia a gente compra essa fazenda”, disse Nassib. Este ano (1988), Mofarrej mandou plantar 1 milhão de pés de café na Santa Lúcia.

Reverenciado por suas doações a instituições de caridade e a comitês de campanha política nas últimas eleições, Nassib deixou uma viúva, três filhos e uma sucessão tranqüila. Assumiu o comando do império Mofarrej, formado por cinco empresas, Miguel Mofarrej Neto, um administrador de empresas de 33 anos de idade que há quinze vinha sendo preparado pelo pai para dirigir o grupo. Em 1981, Miguel ficou conhecido quando foi seqüestrado por uma quadrilha que exigiu inicialmente 5 milhões de dólares pelo resgate. Após demoradas negociações, Nassib conseguiu reduzir o valor do resgate para 2 milhões de dólares e teve seu filho de volta. Em abril de 1988, o sucessor de Nassib já pode contabilizar sua primeira proeza na área de imóveis em São Paulo.

A Cesp – Companhia Energética de São Paulo -, cujos escritórios foram destruídos por um incêndio em 1987, ocupará um prédio de vinte andares que os Mofarrej acabam de erguer na Avenida Paulista. Aluguel: 20 milhões de cruzados por mês. Nassib Mofarrej morreu dia 11 de abril, 1988, aos 72 anos, de insuficiência respiratória, em São Paulo.

(Fonte: Veja, 20 de abril, 1988 – Edição N° 1024 – DATAS – Pág; 95 – MEMÓRIA – Pág; 110)

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