Markus Wolf, lendário espião da Alemanha Oriental, planejou operações audaciosas da Guerra Fria

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Markus Wolf, o espião “sem cara” da ex-Alemanha de Leste

O lendário espião

A Europa do pós-guerra fria idealizou-o como um intelectual sofisticado e terá até inspirado uma das mais míticas personagens de John Le Carré

Markus Wolf (Hechingen, 19 de janeiro de 1923 – Berlim, 9 de novembro de 2006), lendário espião da Alemanha Oriental cujas atividades durante a Guerra Fria teriam inspirado o romancista John le Carré.

Um dos maiores espiões da guerra fria – consensualmente aceite como fonte de inspiração para o mítico personagem Karla de John Le Carré, embora o autor sempre o tenha negado -, Wolf dirigiu entre 1958 e 1987 os serviços de espionagem externa da Segurança de Estado da Alemanha de Leste (a Stasi), pondo em ativo movimento uma impressionante rede de mais de quatro mil agentes. Durante aquelas três décadas permaneceu como “o homem sem cara”, por nunca ter sido fotografado.

Wolf foi o cérebro de algumas das mais audaciosas operações secretas da guerra fria, responsável pelo recrutamento de um agente junto do então chanceler da Alemanha Federal, Willy Brandt, que conduziu à queda deste último quando o espião comunista foi exposto em 1974.

Durante seus 34 anos de espionagem, Wolf galgou postos na polícia secreta da Alemanha Oriental, a Stasi, até chegar ao comando da divisão de inteligência estrangeira do órgão. O então espião planejou algumas das operações mais audaciosas da Guerra Fria – entre as quais, a colocação de um agente junto a Willy Brandt, chanceler da Alemanha Ocidental. Em 1974, quando se descobriu a presença do espião inimigo, Brandt acabou sendo deposto.

Após a reunificação da Alemanha, em 1990, Wolf foi entregue a seus inimigos do Ocidente. O espião foi acusado de traição em 1993 e condenado a seis anos de prisão. A pena, porém, acabou sendo suspensa.

Wolf contou ter se encontrado com o guerrilheiro Illich Ramírez Sánchez, conhecido como Carlos, o Chacal. O ex-espião relatou esse episódio em sua autobiografia, intitulada “Man Without a Face” (homem sem rosto). A Stasi mantinha uma política de fornecer treinamento militar e ajuda para grupos terroristas. Wolf referiu-se a Carlos, um venezuelano, como seu “cliente mais problemático”.

John le Carré deu indícios de que a personagem “Karla”, que aparece em romances como “Tinker, Tailor, Soldier, Spy” (funileiro, alfaiate, soldado, espião) e “Smiley’s People” (o pessoal de Smiley), havia sido inspirada em Wolf.

“Não posso dizer que me sinto orgulhoso do que fiz. Mas creio que não vivi em vão”, avaliou Wolf numa entrevista à Reuters em 1997. Em Memoirs of a Spymaster, Wolf diz que se fizer parte da história da espionagem será por ter aperfeiçoado o sexo na espionagem, referindo-se ao uso que fazia de agentes sedutores/as para obter segredos.

Após a reunificação da Alemanha, Wolf refugiou-se na Rússia, para onde a família, judia e comunista, fugira em 1934. Chegou a estar depois na Áustria até que, em Setembro de 1991, decidiu entregar-se à justiça alemã – que o condenou a seis anos de prisão por traição. A pena nunca foi cumprida por o Supremo alemão ter anulado todos os processos por espionagem feitos contra antigos responsáveis dos serviços secretos da ex-RDA.

Até ao momento da morte, Markus Wolf manteve a denúncia daquilo que descrevia como sendo uma “justiça dos vencedores”, que dele quis fazer “o símbolo do mal”, e jamais denunciou qualquer dos agentes que para ele trabalharam. Nos últimos anos vivia das conferências sobre espionagem e dos livros, entre os quais a autobiografia Man Without a Face.

Juventude

Nascido em 19 de janeiro de 1923, Wolf fugiu dos nazistas com a família em 1934 e passou a morar na Rússia. O pai dele, Friedrich Wolf, era um médico, dramaturgo e comunista judeu.

Depois da guerra, Wolf regressou para a Alemanha Oriental e trabalhou como jornalista antes de ajudar na organização dos serviços de inteligência.

Com a queda do Muro de Berlim, ele escapou para a Rússia, onde morou durante os anos de 1990 e 1991, até a queda do comunismo soviético.

Após ser condenado devido a suas atividades durante a Guerra Fria, Wolf apelou da sentença argumentando que ela seria um ato da “justiça dos vencedores” e que ele estava sendo punido pelo mesmo tipo de atividade realizado por agentes do Ocidente.

Em 1995, uma corte alemã concordou com os argumentos dele e decidiu ser injusto punir homens que, como Wolf, realizaram atos legais segundo o governo comunista da Alemanha Oriental. A sentença dele acabou sendo suspensa.

Nos últimos anos, Wolf levou uma vida discreta, concedendo poucas entrevistas e aparecendo raramente em público. Além de sua autobiografia, também escreveu sobre outra de suas paixões – cozinhar. As viagens que realizou em sua época de espião serviram de inspiração para o livro “Secrets of the Russian Kitchen” (segredos da cozinha russa). Wolf comparava a culinária com a espionagem porque as duas atividades exigiriam habilidade e criatividade.

Até sua morte, ele continuou sendo um membro inativo do partido PDS, que substituiu os comunistas. Quando o chefe dele na Stasi, Erich Mielke, um homem odiado, morreu, em 2000, Wolf preferiu não comparecer ao enterro dele.

Markus Wolf morreu em 9 de novembro de 2006, aos 83 anos de idade, enquanto dormia, em Berlim.

O mais célebre dos espiões da antiga Alemanha de Leste, Markus Wolf, morreu durante o sono, na noite de 9 de novembro de 2006, aos 83 anos, na sua casa na capital germânica – no mesmo dia em que se assinalam 17 anos sobre a queda do Muro de Berlim, marco histórico da reunificação alemã que o mestre espião sempre disse ter sido para ele “uma surpresa”.

Os herdeiros políticos do antigo partido comunista do Leste alemão (SED) celebraram ontem a memória do espião: um homem “cheio de contradições”, observou o presidente do pós-comunista PDS, Lothar Bisky.

“Tenho seguido com algum assombro a idealização de Markus Wolf como um intelectual cheio de glamour e reformista”, afirmava ontem à Reuters o historiador e analista político Timothy Garton Ash. “Mas a verdade é que ele foi parte de um dos piores engenhos de opressão da Europa pós-guerra”, avançou o autor de The File: A Personal History, livro em que o escritor conta como descobriu o seu ficheiro da Stasi.

(Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/mundo – MUNDO – GUERRA FRIA – REUTERS/O GLOBO ONLINE – 09/11/2006)

(Fonte: https://www.publico.pt/2006/11/10/jornal –  – 

(Fonte: http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,AA1344263-5602,00- MUNDO / Por Noah Barkin – BERLIM (Reuters) – 09/11/2006)

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