Marc Ferrez, fotógrafo franco-brasileiro, filho de um dos artistas que chegaram com a missão francesa, em 1816

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Marc Ferrez foi importante fotógrafo do final do século XIX e do começo do século XX registrou paisagens, fazendas de café, obras públicas, e outros cenários

 

Pão de Açucar visto do alto de Santa Teresa, em foto de Marc Ferrez de 1885. (Foto: Marc Ferrez / Divulgação)

 

A máquina do tempo

 

Marc Ferrez fez imagens bucólicas de São Paulo, Pernambuco e Rio de Janeiro, entre 1867 e 1922. Há registros de obras públicas importantes, como a construção da Avenida Central, no Rio – atual Av. Rio Branco -, além de fotos que mostram o trabalho escravo em fazendas de café. 

 

Marc Ferrez

Palácio Imperial em São Cristóvão, 1885. (Foto: Marc Ferrez / Divulgação)

 

Marc Ferrez (Rio de Janeiro, 7 de dezembro de 1843 – Rio de Janeiro, 12 de janeiro de 1923), fotógrafo franco-brasileiro, filho de um dos artistas que chegaram com a missão francesa, em 1816 – Zeferino Ferrez.

Um artista de intensa sensibilidade, que não se deixou dominar pelo mero virtuosismo da técnica. Embora um pioneiro na história da fotografia mundial, Marc Ferrez foi sobretudo um artista que usou a recém-criada máquina de fotografar como meio de expressão.

Marc era filho e sobrinho de artistas ligados a corte – seu pai Zeferino  e seu tio  Marc esculpiram o berço em madeira dourada da primeira filha de dom Pedro I, a princesa Maria da Glória, e também faziam medalhas e esculturas. O jovem Marc porém preferiu arriscar-se numa aventura nova. Aos 16 anos foi trabalhar com um amigo da família, George Leuzinger, dono de uma famosa papelaria e litografia carioca, onde se iniciou meteoricamente na fotografia.

Já em 1865, aos 21 anos, inaugurava o seu estúdio, Marc Ferrez & Cia. De temperamento irrequieto, Ferrez não queria apenas trocar os pincéis dos retratistas pela máquina de retratos. Enquanto começavam a surgir no Rio de Janeiro os estúdios de retratos, atividade mais simples e de lucro certeiro, ele especializou-se em paisagens do país e em fotografias de navios – coisas que ninguém queria comprar e que eram muito mais difíceis de fazer.

 

Foi assim que Ferrez, equilibrando-se num bote, aperfeiçoou um sistema para fotografar os navios da Marinha de Guerra ancorados no porto do Rio de Janeiro, o que lhe valeu o título de “Fotógrafo da Marinha Imperial”. Começou, também, a viajar pelas cercanias do Rio de Janeiro, explorando os melhores ângulos para visualizar a cidade.

 

É na escala dessas fotos que se pode perceber a rapidez das mudanças na cidade. Em 1895, por exemplo, Ferrez fotografou o Posto 6, em Copacabana, na altura da Rua Francisco Otaviano – um dos eixos que fazem a ligação com Ipanema. O que ele retrata ao lado de algumas casinholas é o célebre cabaré da Mère Louise, um modesto barracão.

Mais tarde, Ferrez se deslocou até as ilhas da Baía da Guanabara, de onde fotografou o porto e as praias do Rio de Janeiro. Subiu à floresta da Tijuca, para retratar a mesma luxuriante vegetação das gravuras de Debret. Finalmente, nas últimas fotos de 1918, dedicou-se a registrar, com grandes vistas da Avenida Beira-Mar, uma belíssima paisagem da cidade – de um passado recente e que durou menos de meio século.

 

 

Trabalhadores escravizados em fazenda de café no Vale do Paraíba, 1885. (Foto: Marc Ferrez / Divulgação)

 

 

MAR E MONTANHAS – O que surpreende em tudo isso é a mobilidade de Ferrez em fazer suas panorâmicas sem levar em conta as dificuldades técnicas de seu equipamento – na época, toda uma maquinaria pesada, desajeitada e indócil. Mesmo suas máquinas menores exigiam chapas de grandes dimensões, que obrigavam o artista a subir atalhos e ladeiras a lombo de burro, levando consigo todo o peso da complicada parafernália que utilizava.

Uma de suas máquinas especialmente encomendadas em Paris, que permitia fotos abrangentes, enormes, pesava nada menos de 110 quilos. Cada uma de suas chapas de cristal, usadas para gravar a imagem, media 1,10 metro x 40 centímetros e tinha cerca de 8 quilos de peso.

 

As panorâmicas que valeram a Ferrez prêmios internacionais nos Estados Unidos e na França e sua participação na Exposição Universal de Paris, em 1889, revelam um fotógrafo com total domínio de composição e talento próprio de quem conviveu com outras artes. Seja nas vistas da Baía da Guanabara, ou no perfil das montanhas e do mar, há sempre um tronco ou uma palmeira na lateral para orientar a visão e alinhar o conjunto.

Nas vistas do porto ou da arquitetura da cidade, Ferrez equilibra as proporções como o faziam os paisagistas holandeses – um céu imenso e as casas, navios e outros elementos alinhados na parte inferior da tela. Mas isso não é tudo, com exemplos bem dosados de como ele não se esquecia da escala humana, mesmo ao tratar a natureza em cenas monumentais, Ferrez fotografou uma galeria de tipos humanos populares, sobretudo vendedores ambulantes, com traços psicológicos marcantes.

Contudo, Ferrez deixou uma quantidade de chapas fotográficas do país inteiro, além de suas próprias fotos ele também arquivou material de outros fotógrafos de sua época.

Quando a Marinha brasileira se revoltou contra o presidente Floriano Peixoto, em 1893, a Baía da Guanabara ganhou uma inesperada paisagem bélica, com uma frota numerosa ancorada na linha do horizonte. O fotógrafo Ferrez -, conseguiu levar seu equipamento para um morro então distante, junto ao Cemitério da Gamboa, e registrar, numa grande panorâmica, os navios agrupados em frente ao porto do Rio de Janeiro à espera de novas ordens de comando.

As fotos panorâmicas, sem distorção, que fizeram as expectativas do século XIX, eram a marca registrada de Marc Ferrez, em precioso material marcado por gigantescas fotografias horizontais.

Com equipamento fabricado sob encomenda em Paris, ele subia morros, enfrentava florestas e tornou-se um mestre sem rival nos registros da costa, dos acidentes geográficos e dos grandes momentos de sua cidade, Rio de Janeiro, no fim do século XIX e começo do XX.

São imagens fiel da vida de Marc Ferrez, uma seleção de seus melhores momentos como observador do velho Rio de Janeiro, que deram vida nova a uma linguagem fotográfica – a panorâmica – esquecidas nos dias de hoje. Um projeto especial no qual Marc Ferrez retrata as fachadas da atual Avenida Rio Branco, em 1906, ao tempo de sua inauguração. São imagens divididas em dois tempos – antes e depois da explosão da cidade promovida pelo prefeito Pereira Passos, a partir de 1902.

 

(Fonte: Veja, 18 de julho de 1984 – Edição 828 – FOTOGRAFIA / Por Paulo Moreira Leite – Pág: 156/158)

(Fonte: https://oglobo.globo.com/rioshow – RIO SHOW / Exposição “Marc Ferrez: território e imagem” / Por O Globo – 06/12/2019)

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