Luiz Carlos Miele, produziu shows, chegou a trabalhar com artistas como Wilson Simonal, Elis Regina, Sergio Mendes, Roberto Carlos, entre outros

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Miele ficou conhecido como um dos maiores produtores da Bossa Nova.

Luiz Carlos D’Ugo Miele (São Paulo, 31 de maio de 1938 – São Conrado, Zona Sul do Rio de Janeiro, dia 14 de outubro de 2015), produtor musical, compositor, apresentador de TV, ator e diretor

Entre os principais artistas que produziu na carreira estão Elis Regina, Roberto Carlos, Wilson Simonal e Sergio Mendes.

Nascido em 1938 em São Paulo, o artista, que começou a carreira como locutor de rádio, foi responsável por produzir shows de diversos cantores famosos. Ele se mudou para o Rio de Janeiro em 1959, onde trabalhou na TV Continental como diretor de estúdio.

Da amizade com Ronaldo Bôscoli, um dos principais nomes da Bossa Nova, passou a produzir shows no Beco das Garrafas — reduto que reuniu Sérgio Mendes, Elis Regina e Wilson Simonal. Com Bôscoli, foi dono da boate Monsieur Pujol, por onde passaram artistas como Ivan Lins, Stevie Wonder e Marcel Marceau (1923-2007).

 

Miele tinha uma estátua em tamanho real em casa (Foto: Henrique Coelho/G1)

Miele tinha uma estátua em tamanho real em casa (Foto: Henrique Coelho/G1)

Contratados pela Globo, Miele e Bôscoli produziram os programas “Alô, Dolly”, “Dick & Betty” e “Um Cantor por Dez Milhões, Dez Milhões por uma canção”. Na década de 1970, atuou como humorista em programas como “Faça Humor, Não Faça Guerra” e “Planeta dos Homens”.

Nos meados de 2000, ele retomou a carreira na televisão. No seriado “Mandrake”, viveu o advogado Wexler. Na Rede Globo, em 2008, participou de “Casos & Acasos” e “Tapas e Beijos”. Na novela “Geração Brasil”, interpretou o milionário Jack Parker.

 

TRAJETÓRIA

Luiz Carlos Miele nasceu em 31 de maio de 1938, em São Paulo. Desde criança, frequentava o ambiente das emissoras de rádio e televisão, acompanhando o trabalho da mãe, a atriz e cantora Irma Miele, que escolheu o nome artístico de Regina Macedo. Aos 12 anos, participou do programa Meu Filho, Meu Orgulho, na Rádio Excelsior de São Paulo. Depois, na TV Tupi, atuou em Clube do Canguru Mirim, programa infantil em que contracenou com Érlon Chaves, Régis Cardoso e Walter Avancini.

 

Miele começou a carreira profissional como locutor das rádios Nacional, Excelsior e Tupi. Em meados dos anos 1950, sua intimidade com o ambiente dos estúdios lhe valeu um convite do amigo Régis Cardoso (1934-2005), então diretor da TV Paulista, para trabalhar no programa Teledrama Três Leões. Começou como assistente de estúdio, e passou por diversas outras funções na emissora.

Em 1959, mudou-se para o Rio de Janeiro. Trabalhou na TV Continental, primeiro como diretor de estúdio, depois assistente de direção. A emissora enfrentava problemas financeiros, e os funcionários se viam forçados a receber seus salários na forma de produtos doados pelos patrocinadores da emissora, como pneus ou gêneros alimentícios. Na época, Miele dividia um pequeno apartamento no Catete com seis outros rapazes, entre eles o ator Francisco Milani. Mas, em pouco tempo, descobriu Ipanema e passou a fazer parte do grupo de artistas e intelectuais que frequentavam o bairro. Vários deles foram convidados para o programa Documentário de Arte, que Miele produzia na Continental.

Foi também em 1959 que Miele conheceu Ronaldo Bôscoli, repórter da revista Manchete, letrista e um dos nomes envolvidos na divulgação da Bossa Nova, que começava a surgir. Os dois passaram a dividir um apartamento em Copacabana, com mais três pessoas. Um ano depois, Miele dirigiu um especial com Silvinha Telles, João Gilberto e vários outros artistas da Bossa Nova para o programa Noite de Gala, da TV Rio. Empolgado com o programa, Bôscoli convidou Miele para trabalhar na produção dos shows apresentados no Beco das Garrafas, célebre reduto da música brasileira no Rio de Janeiro, onde se apresentaram artistas como Sérgio Mendes, Tamba Trio, Elis Regina e Wilson Simonal.

Com o tempo, Miele e Bôscoli se tornaram uma das mais bem-sucedidas parcerias do show business brasileiro, sendo responsáveis pela produção e direção de espetáculos de artistas como Wilson Simonal, Sérgio Mendes, Sarah Vaughan e Roberto Carlos, entre muitos outros. Entre 1970 e 1974, os dois também foram proprietários do Monsieur Pujol, boate no Rio de Janeiro por onde passaram, entre outros artistas, a cantora Dione Warwick, os músicos Burt Bacharach, Ivan Lins e Stevie Wonder e o mímico Marcel Marceau.

Em abril de 1965, Miele e Bôscoli foram contratados pela Rede Globo. Juntos, produziram os programas Alô, Dolly – no qual o cantor Hilton Prado e as atrizes Márcia de Windsor, Marli Tavares e Darlene Glória apresentavam números musicais arranjados pelo maestro Eumir Deodato; Dick & Betty 17 – espécie de sitcom musical estrelada pelo cantor Dick Farney e pela atriz Betty Faria; e Um Cantor por Dez milhões, Dez Milhões por uma Canção – show de atrações e concurso musical, patrocinado pela rede de lojas O Rei da Voz.

Até final dos anos 1960, Miele e Boscoli produziram e dirigiram vários programas nas principais emissoras da época: na TV Rio, fizeram o Cara & Coroa; na TV Excelsior, trabalharam em Dois no BalançoSe Meu Apartamento FalasseRio ReiOs 7 Pecados e Musical em Bossa 9; e na TV Record, promoveram o famoso O Fino da Bossa.

 

Luiz Carlos Miele como o personagem milionário Jack Parker, da novela 'G3R4ÇÃO BR4S1L' (Foto: João Cotta/Rede Globo/Arquivo)

Luiz Carlos Miele como o personagem milionário Jack Parker, da novela ‘G3R4ÇÃO BR4S1L’ (Foto: João Cotta/Rede Globo/Arquivo)

 

De volta à Globo em 1970, Miele substituiu Agildo Ribeiro na apresentação do Mister Show, no qual contracenava com o ratinho Topo Gigio. Junto com Bôscoli, produziu e dirigiu dois especiais de Elis Regina, em 1971 e 1972. Também em 1972, dirigiu Marília Pêra no programa mensal Viva Marília, que unia shows e atualidades; e compôs a música de abertura do Show da Girafa, programa de variedades apresentado por Murilo Néri e Sandra Bréa.

A partir de 1973, e durante alguns anos, Miele foi responsável junto com Ronaldo Bôscoli pela parte musical do Fantástico. Em 1976, apresentou ao lado da atriz Sandra Bréa o musical Sandra & Miele, inspirado no universo dos shows da Broadway e filmes de Hollywood, que era dirigido por Augusto César Vannucci.

Miele também atuou como humorista na maior parte da década de 1970. Fez participações nos programas Faça Humor, Não Faça Guerra (1970), Satiricom (1973) e Planeta dos Homens (1976). Também protagonizou alguns monólogos no Fantástico. Dirigiu o especial Raul Solnado – O Descobrimento do Brasil, estrelado pelo famoso humorista português, em 1973. Em 1977, ocupou o banco da Praça da Alegria, contracenando com nomes consagrados do humor, como Walter D’Ávila e Ronald Golias, entre muitos outros.

Em 1979, Miele produziu com Bôscoli um especial com o cantor Sérgio Mendes. Nos anos seguintes, foi apresentador dos festivais de música MPB 80 (março a agosto de 1980) e MPB Shell 81 (março a setembro de 1981). Também em 1981, ao lado de Sandra Bréa, Edwin Luisi e Zezé Motta, foi um dos apresentadores do Show do Mês, musical dirigido por Augusto César Vannucci. Em 1983, apresentou o Batalha dos Astros, dirigido por Oswaldo Loureiro, programa em que atores, diretores de cinema, humoristas, jogadores de futebol, músicos e cantores disputavam uma partida de jogo-da-velha.

Em 1985, Miele deixou a Globo e foi trabalhar na TV Manchete, onde apresentou os programas Miele & Cia. e Ele & Ela, com Leila Richers. Em 1992, no SBT, apresentou o programa Coquetel. Em 1997, atuou no filme O Homem Nu, de Hugo Carvana, baseado no livro de Fernando Sabino. Depois de uma temporada afastado da televisão, retornou em 2002, para apresentar o programa de entrevistas A Vida é um Show, na TV Educativa do Rio.

Em 2004, Miele assinou a direção de um DVD com uma apresentação sua no Tom Brasil, em São Paulo. No mesmo ano, lançou o livro Poeira de Estrelas: Histórias de Boemia, Humor e Músicas, publicado pela Ediouro; e organizou o Bossa Nova in Concert, espetáculo realizado no Canecão, Rio de Janeiro, com a participação de Roberto Menescal, Wanda Sá, Johnny Alf, João Donato, Carlos Lyra, Durval Ferreira, Pery Ribeiro, Eliane Elias, Leny Andrade, Marcos Valle, Os Cariocas e Bossacucanova.

Luiz Carlos Miele retomou sua carreira na televisão em meados dos anos 2000. Em 2005, viveu o advogado Wexler, no seriado Mandrake, baseado nos contos de Rubem Fonseca e produzido pela Conspiração Filmes para o canal por assinatura HBO. Na Rede Globo, em 2008, participou de um episódio do seriado Casos & Acasos e, em 2011, do seriado Tapas & Beijos, como Giusepe, o pai do personagem de Vladimir Brichta. No ano seguinte, interpretou um poderoso e corrupto político na minissérie O Brado Retumbante, de Euclydes Marinho. De tão emblemático, seu personagem era apenas chamado de Senador. Em 2014, Miele trabalhou em duas produção da Globo. Na minissérie A Teia, interpretou o ex-senador Walter Game e na novela Geração Brasil, o milionário Jack Parker.  Sua última participação na emissora foi no programa Tomara que Caia, em setembro de 2015.

Durante mais de dez anos, Luiz Carlos Miele foi o apresentador oficial do Moliére, maior prêmio do teatro brasileiro. Entre outras atividades, gravou com Cauby Peixoto e Elis Regina e se apresentou como crooner da Rio Jazz Orquestra. Em 2005, apresentou-se com Roberto Menescal e Wanda Sá no espetáculo Bênção Bossa Nova e lançou o DVD Miele, um Showman Brasileiro. Também foi diretor artístico da Casa de Cultura da Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro.

Em 2008, atuou no filme A Casa da Mãe Joana, de Hugo Carvana. Em 2012, participou de As Aventuras de Agamenon, o Repórter, de Victor Lopes, e de Os Penetras, de Andrucha Waddington. Em 2014, participou da Dança dos Famosos no Domingão do Faustão.

 

Luiz Carlos Miele e a bailarina Aline Riscado, dupla que competiu no quadro 'Dança dos Famosos' do Faustão, em julho de 2014 (Foto: Paulo Belote/Rede Globo/Arquivo)

Luiz Carlos Miele e a bailarina Aline Riscado, dupla que competiu no quadro ‘Dança dos Famosos’ do Faustão, em julho de 2014 (Foto: Paulo Belote/Rede Globo/Arquivo)

Sua última participação foi no programa “Tomara que Caia”, em setembro.

Luiz Carlos Miele de 77 anos, foi encontrado morto em sua casa em São Conrado, Zona Sul do Rio de Janeiro, dia 14 de outubro de 2015.

“Miele é uma das figuras mais importantes do entretenimento brasileiro. Foi um cara que ajudou a desenvolver a linha de shows, sobretudo da TV Globo. Foi o homem que dirigiu o Roberto Carlos a vida inteira. Miele teve uma vida bem intensa, cheia de experiências. É uma figura emblemática do entretenimento pela relação que teve com vários artistas. [Foi] uma pessoa de excelente bom humor. Foi uma experiência mágica poder vê-lo em ação”, disse João Marcelo Bôscoli, filho de seu maior parceiro.

(Fonte: http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2015/10 – RIO DE JANEIRO – Do G1 Rio – 14 de outubro de 2015)

[Depoimento concedido ao Memória Globo por Luiz Carlos Miele em 29/08/2005.]

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