Lasar Segall, formou ao lado de estrelas como Vassili Kandinsky, Max Liebermann e Otto Dix o movimento expressionista alemão

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Artista reverenciado e de obra consagrada

Lasar Segall (Lituânia, 21 de julho de 1891 – São Paulo, 2 de agosto de 1957), pintor judeu-russo, foi uma estrela que revelou sua paixão pela paisagem brasileira, foi um dos três artistas modernos brasileiros mais caros, ao lado de Tarsila do Amaral e Cândido Portinari.

Lasar Segall e sua primeira mulher, a atriz Margarete Quack, estavam a caminho de São Paulo quando seu navio fez uma escala no Rio de Janeiro. Era o verão de 1923 e Segall ficou extasiado. “Casas como que feitas de cristal, toaletes fantásticas, mulatas muito bonitas e os europeus despreocupados e muito sorridentes”, se lembraria depois.

Margarete não enxergou nada disso na paisagem e não achou a menor graça no Rio de Janeiro. Depois, também detestou São Paulo – acabou se separando do marido e voltando para a Europa em seguida. Decidido a viver no Brasil, o Segall que chegava, aos 32 anos, era um artista de futuro promissor na Europa. Ao lado de estrelas como Vassili Kandinsky, Max Liebermann e Otto Dix (1891-1969), formava a linha de frente do combativo e ascendente movimento expressionista alemão. Ele sabia que o Brasil nunca poderia lhe dar a fama e o prestígio que certamente teria na Europa. Mas, traumatizado pela guerra e apreensivo com a conjuntura alemã, resolveu trocar Berlim por São Paulo.

 

De temperamento retraído, Segall viu na cidade um lugar tranquilo para morar, pintar, desenhar, gravar e esculpir. No Brasil, casou-se com Jenny Klabin, teve dois filhos e deixou uma obra vasta e preciosa, marcada por um estilo pessoal inconfundível. Uma produção de esculturas em bronze, num total de 38 peças. Nela, é possível admirar uma série de clássicos torsos femininos, casais, nus femininos reclinados e figuras maternais. Além de 167 obras, onde se exibe um artista ao mesmo tempo clássico e compassivo, mas episodicamente luminoso e até radiante com a paisagem brasileira.

Sobre as cores e luzes brasileiras, Segall escreveria em 1928: “O Brasil revelou-me o milagre da cor e da luz. Sinto que neste país todas as coisas parecem mais leves e mais altas. Elevam-nos da terra. Ensinam a alegria”. O grande mérito da mostra é expor momentos pouco conhecidos da carreira do artista, principalmente sua “fase brasileira” da segunda metade dos anos 20. É acompanhada por uma fotobiografia que documenta a relação de Lasar Segall com o Rio de Janeiro. Em 1943, quando organizava uma grande exposição retrospectiva de sua obra para o Museu Nacional de Belas Artes, o artista se mudou para a cidade e foi morar na Avenida Atlântica.

O Encontro (1924), a tela não poderia ser mais emblemática. Nela, Segall retratou-se junto com a primeira mulher, Margarete Quack. Alterando a realidade, ele se pintou com a cor mulata e os lábios grossos, olhando para o infinito. Margarete, de pele alva e cabelo louro, tem o olhar caído e parece não olhar para nada ou para ninguém. Depois da II Guerra Mundial, Margarete reconsideraria sua opinião sobre o Brasil, retornando a São Paulo, onde morou e viveu até morrer, no início dos anos 60. Outro momento de luminosidade de Segall é Paisagem Brasileira (1925), tela que estampa uma favela pintada em tons delicados, como o salmão e o azul.

A seguir, com a pintura Bananal (1927), Segall funde cor e desgosto na expressão sombria da cabeça de um mulato que se ergue de uma plantação de bananas. O artista inspirou-se nas feições de um velho camponês nascido escravo, chamado Olegário, empregado de uma fazenda em Araras, no interior paulista, onde o artista e Jenny Segall passavam a lua-de-mel, em 1925. Em Bananal, o pintor beira o geometrismo, nas folhas das plantas, e pinta o rosto do mulato com boca carnuda e um nariz torto e imenso, próximo do cubismo.

Entre os desenhos que destacaram-se na carreira de Segall, os melhores são os que fez entre 1924 e 1928 sobre o Mangue, a antiga zona de prostituição carioca. Parte de seus trabalhos originou o álbum Mangue, editado em 1943, que reúne cenas de grande beleza. Com grafite, creiom e técnicas mistas, seus desenhos, como boa parte de seus quadros, trazem a marca registrada de Segall – a compaixão. Longe de incorrer na demagogia, ele constrói seus personagens com traços e linhas geralmente soltos que resultam numa melancolia desconcertante.

Fiel a seus temas – a guerra, a emigração, a pobreza, a prostituição, a família, o judaísmo e as evocações russas -, o Segall da maturidade, que vai da segunda metade dos anos 30 até sua morte em 1957, retomaria a sobriedade de cores e formas numa trajetória personalíssima. Ainda na juventude,  mesmo identificado com o expressionismo, ao contrário de seus colegas, ele já preferia as linhas clássicas e os tons mais tristes, principalmente os marrons, os cinza e os azuis.

O Museu Lasar Segall que aguarda a maior parte das obras e acervo, foi criado pela família Segall nos anos 70, na casa ateliê do artista, no bairro de Vila Mariana, é o maior centro difusor de sua obra. Em publicações como: O Desenho de Lasar Segall, constam-se  um álbum de obras do artista. No Brasil a obra de Segall sofreu uma influência significativa, que fez dele um artista simultaneamente brasileiro e europeu. A situação de maior miséria e menor conflito social levou sua obra a uma progressiva classicização e simplicidade.

Lasar Segall faleceu em agosto de 1957.

(Fonte: Veja, 11 de dezembro de 1991 – ANO 24 – Nº 50 – Edição 1212 – ARTE / Por ÂNGELA PIMENTA, do Rio de Janeiro – Pág: 118/119)

 

 

 

 

 

 

Lasar Segall: poucas obras no mercado

Lituano tropical

Pogrom (1937)

Pogrom (1937)

Lasar Segall, foi um dos mais finos modernistas brasileiros

Tudo indicava que, em 1923, ao tomar um navio para o Brasil, o pintor lituano Lasar Segall não estava fazendo a coisa certa. Depois de cursar as melhores academias de arte alemãs e se engajar na proa da vanguarda expressionista, o melhor para sua carreira teria sido embarcar para Nova York, destino de artistas e intelectuais judeus, ameaçados, como Segall, pelo anti-semitismo alemão.

Mas o pintor veio para o Brasil. Se na época o modernismo já era um estilo hegemônico na Europa, por aqui ainda engatinhava. A mudança de Segall para os trópicos explica a pálida repercussão de sua obra na Europa e nos Estados Unidos até hoje.

As duas principais vertentes da obra do artista, as telas luminosas e algo eufóricas pintadas logo após a mudança de Segall para os trópicos. É o caso de Paisagem Brasileira, de 1925, que, à moda de um vibrante mosaico geométrico, prenuncia a obra de Alfredo Volpi.

 

Paisagem Brasileira, de 1925 (Foto: Arte no Colégio Costa Viana/Reprodução)

Paisagem Brasileira, de 1925 (Foto: Arte no Colégio Costa Viana/Reprodução)

 

Sobre sua nova terra, o pintor viria a declarar: “É compreensível que o Brasil influencie o meu trabalho, e que o tenha influenciado para melhor.” E há também o Segall contrito dos tons sombrios e das perspectivas enviesadas, recursos usados para tratar de temas como a miséria, a prostituição e a perseguição aos judeus.

Um grande artista, como é o caso de Segall, não é feito dos temas que aborda ou das bandeiras que venha a defender, mas da qualidade estética de seu trabalho. O que faz dele um mestre são características como o golpe de vista certeiro para escolher o ângulo e a porção dos personagens que retrata, bem como o traço preciso e o uso sensível da cor.

(Fonte: Veja, 25 de fevereiro de 1998 -– ANO 31 – N° 8 – Edição 1535 – ARTE – Pág: 77)

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