Julian Gartner, sobrevivente do Holocausto que foi libertado ao final da guerra e veio ao Brasil recomeçar a vida

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Sobrevivente do Holocausto olhava sempre para frente

Judeu, Julian Gartner foi libertado ao final da guerra e veio ao Brasil recomeçar a vida

 

 

Julian Gartner (1924-2018), judeu sobrevivente do Holocausto, o maior genocídio do século XX, e que foi libertado ao final da guerra e veio ao Brasil recomeçar a vida.

 

Nascido Julian na Polônia, vivia na Cracóvia quando esta foi invadida pelos nazistas em 1939. Julian era judeu. O polonês Julian Gartner sobreviveu ao Holocausto, a cinco campos de concentração, enfrentou a Segunda Guerra Mundial com 15 anos e passou por cinco campos de concentração em outros países.

 

Filho de judeus, Gartner perdeu seus pais em um campo de concentração e, em 1947, emigrou para o Brasil, onde há alguns anos colabora com o Museu da Imigração Judaica, que em 9 de novembro de 2017 abriu ao público o primeiro Memorial do Holocausto de São Paulo.

 

Gartner enfrentou a Segunda Guerra Mundial com 15 anos e passou por cinco campos de concentração em outros países, de onde observou de perto a morte de muitos companheiros.

 

“Eu não estava acostumado a falar do assunto até passar pelo campo de extermínio de Majdanek (Polônia) mais de 70 anos depois da guerra. Ainda há montanhas de cinzas de pessoas que foram queimadas lá, inclusive meus pais, e isso me afetou. A partir desse momento, pensei que isso não poderia ser silenciado e abracei essa missão”, afirmou.

 

No Brasil, Gartner tornou-se um estudioso da Segunda Guerra Mundial e acredita que a abertura do Memorial do Holocausto evitará o esquecimento de um dos episódios mais obscuros da História, “um verdadeiro período de medo e terror”.

 

“Se alguém os flagrasse dando comida aos judeus, seriam castigados com a pena de morte”, disse.

 

Gartner passou pelo gueto judeu da Cracóvia, retratado no filme “A Lista de Schindler” (1993), onde as condições eram muito precárias, como se vê na réplica de um dos quartos dos campos de concentração.

 

Apesar de não contar com muitas peças originais, o Memorial submerge o espectador na história do Holocausto através de uma visita que começa com a famosa frase do campo de concentração de Auschwitz: “O trabalho nos torna livres”.

 

“A Alemanha se tornou um país de ‘serial killers’ durante o Holocausto. Quem cometeu o Holocausto não foi só o governo e o exército, mas também a sociedade civil, política e militar da Alemanha”, disse à Efe o cineasta e especialista no tema, Márcio Pitliuk.

 

“Foi um projeto planejado, executado por universitários e a elite alemã, o que faz do Holocausto um fato único”, acrescentou.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Nascido na Polônia em 1924, na cidade de Cracóvia, onde morou com seus pais e seus dois irmãos até o começo da II Guerra Mundial. Com 15 anos sua vida mudou completamente, virou um pesadelo. Depois da invasão alemã à Polônia, seus dois irmãos mais velhos, com medo de morrer, fugiram para a Rússia e ele e seus pais se mudaram para uma pequena aldeia no interior, menos visada que a capital do país. Viveram lá por nove meses, até que um decreto nazista ordenou que todos os judeus voltassem para as cidades grandes. Seus pais decidiram obedecer, mas Julian ficou na aldeia, vivendo na clandestinidade. Ele trabalhava de noite e de dia para poder se alimentar. Varria, cuidava do lixo e dos jardins das casas, ele trabalhava em que podia e quando podia. De noite, com medo de ser pego pelos nazistas, ele se escondia em buracos cavados na terra para estoque de alimentos. Em troca do seu trabalho os aldeões lhe davam um prato de comida por dia, que deixavam do lado de fora da porta de suas casas, como se deixa para um cachorro.

 

 

Seus pais foram enviados para o campo de concentração de Majdanek, onde foram assassinados nas câmaras de gás. Julian sobrevivia escondido na aldeia até que um de seus irmãos o encontrou. Ele não aguentou permanecer sempre fugindo e decidiu voltar à Polônia. No dia 3 de março de 1943 entraram no gueto de Cracóvia. Dez dias depois foram aprisionados e enviados para o campo de Plaszów, onde se ocupou como alfaiate por alguns meses. A vida lá era muito sofrida, cada dia que Julian sobrevivia era uma vitória.

 

 

Depois de uns meses em Plaszów, levaram-nos de trem até o temido campo de Auschwitz. Tivemos muita sorte, pois fomos escolhidos para trabalhar no campo de Mauthausen, enquanto muitos outros foram mortos nas câmaras de gás. Nos dias que ficamos lá tivemos de fazer um trabalho pesado, carregar grandes pedras por uma escada de 102 degraus, descarregá-las e depois descer novamente para recomeçar. Trabalho de Sísifo: inútil e sem esperança. Depois, fomos mandados para o campo de Melk, onde se cavavam túneis que iriam conectar fábricas de armas alemãs. Fui escolhido para trabalhar como chefe de carpinteiro de uma equipe de dez pessoas dentro dos túneis. Um dos mestres do campo, um austríaco, era muito bom comigo e, mesmo correndo risco de vida, costumava me dar pedaços de pão para comer, o que me ajudou a sobreviver. Após alguns meses, fomos novamente enviados para outro campo, dessa vez de Ebensee.

 

 

Fizemos parte do percurso até lá de trem, mas tivemos de caminhar por aproximadamente 100 quilômetros. Andávamos em fila e aqueles que não conseguiam mais continuar por exaustão eram executados à sangue frio, na frente de todo mundo. Quando avançávamos podíamos ver dezenas de corpos deixados para trás; os nazistas não enterravam os mortos e não nos permitiam fazer isso. Os pés do meu irmão doíam tanto que ele simplesmente desistiu, mas consegui carrega-lo até chegarmos ao nosso destino. Ebensee era considerado um dos piores campos da Europa, pois a sobrevivência máxima lá era de apenas quatro semanas. Tinha certeza que iria lá para morrer. Essa caminhada rumo à morte foi um dos piores momentos da minha vida.

 

 

Mas, mais uma vez, um golpe de sorte salvou minha vida. Fui escolhido para participar de um grupo que deveria trabalhar na desobstrução de uma linha de trem que fora atingida por um bombardeio americano. Os vagões do trem destruído estavam cheios de mantimentos, como farinha, chicória, sal e açúcar. Comemos tudo que era possível e escondemos parte da comida em nossas roupas. Isso provavelmente prolongou minha vida mais um pouco, pois nessa época cheguei a pesar apenas 30 quilos, era pele e osso, não me reconhecia no espelho. Depois de alguns dias, acordamos com gritos de “portões abertos”, “não há mais guardas”. Era dia 5 de maio de 1945, o penúltimo dia da guerra. Fomos resgatados por soldados americanos que nos levaram para os acampamentos de recuperação montados pelo exército dos aliados. Lá, com a correspondência restabelecida, nosso irmão mais velho conseguiu nos contatar e avisou que estava se mudando para o Brasil. Nesse momento minha cabeça clareou e eu decidi que também iria, queria fugir deixar aquele terror para trás e reconstruir minha vida o mais rápido possível.

 

 

Cheguei ao Brasil em março de 1947, sem falar uma palavra de português. Trabalhei 35 anos no ramo de confecção, conheci minha mulher e tivemos dois filhos, quatro netos e um bisneto. Durante os primeiros anos não gostava de falar sobre meu passado, mas quando tive a chance de retornar pela primeira vez a Polônia com minha família percebi que não podia mais ficar calado. Só contando minha história as pessoas vão saber o que aconteceu e poderão evitar que esse pesadelo se repita.

 

 

Pitliuk, junto com Caio Cobra, levou até o cinema a história de Gartner com o documentário “Sobrevivi ao Holocausto”, que percorre 15 cidades da Polônia, Áustria, Itália, França e Brasil promovendo um encontro entre o passado e o presente.

 

Julian Gartner faleceu em 11 de novembro de 2018, após uma parada cardiorrespiratória, aos 94 anos.

 

(Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2018/11- COTIDIANO / Por Paulo Gomes – 19.nov.2018)

(Fonte: https://complemento.veja.abril.com.br/primeira-pessoa – PRIMEIRA PESSOA / por Julia Braun – 25 nov 2016)

(Fonte: https://exame.abril.com.br/brasil – BRASIL / Por EFE – 9 nov 2017)

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