José Márcio Ayres, ficou internacionalmente conhecido como o idealizador do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM), a primeira reserva amazônica a produzir resultados econômicos significativos, unindo pesquisa e preservação ambiental

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Conservacionista José Márcio Ayres foi criador de grandes reservas amazônicas

 

Área protegida tinha o tamanho da Costa Rica

 

Guardião da Amazônia

 

José Márcio Ayres, criador de grandes reservas amazônicas

José Márcio Ayres, um zoólogo que coordenou a criação de uma área de proteção ambiental na Amazônia maior do que a Costa Rica no início dos anos 90

 

José Márcio Corrêa Ayres (Belém, Pará, 21 de fevereiro de 1954 – Nova York, 7 de março de 2003), pesquisador, cientista, primatologista, zoólogo e conservacionista que coordenou a criação de uma área de proteção ambiental na Amazônia maior do que a Costa Rica no início dos anos 90.

 

O pesquisador e conservacionista José Márcio Ayres, ficou internacionalmente conhecido como o idealizador do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM), a primeira reserva amazônica a produzir resultados econômicos significativos, unindo pesquisa e preservação ambiental. Localizada no município de Tefé, no Amazonas, a reserva foi criada em 1990 e tem 1,124 milhão de hectares, boa parte dos quais permanecem inundados durante mais de seis meses por ano.

 

Em Mamirauá, vivem 6 mil habitantes e 180 cientistas e tem sido especialmente bem-sucedidas as iniciativas de manejo participativo, com o desenvolvimento e comercialização de produtos extrativistas e agrícolas. Destaca-se, por exemplo, o projeto de restabelecimento da população de pirarucus, o maior peixe amazônico, comercializado de forma racional na reserva, enquanto é dizimado pela pesca predatória em outros rios amazônicos.

 

Também são modelos, o manejo racional de madeira, extraída da várzea pelos ribeirinhos, e a infra-estrutura ali implantada para o ecoturismo, testada em duas ocasiões, por Fernando Henrique Cardoso, enquanto Presidente da República. Além de ser responsável pela implantação da Reserva de Mamirauá, Márcio Ayres lutou pela criação, em área contígua, da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã, efetivamente constituída em 1998, com 2,35 milhões de hectares.

 

Junto com o Parque Nacional do Jaú, as duas reservas formam um vasto corredor ecológico, de mais de 5,7 milhões de hectares. No Museu Emílio Goeldi, de Belém, José Márcio Ayres destacou-se por seu trabalho com os macacos uacaris, em especial o uacari de cabeça branca (Cacajao calvus calvus), nativo da região de Mamirauá. Também foi responsável pela descoberta ou identificação de algumas espécies novas, juntamente com outros pesquisadores, entre as quais está, por exemplo, o sauim-de-maués (Mico mauesi).

 

Márcio Ayres pertencia a instituição Wildlife Conservation Society, entidade responsável pela administração de mais de 350 projetos de preservação em 53 países, como zoólogo preservacionista sênior.

 

Ayres foi propositor e gerenciador da criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, com 1,1 milhão de hectares. Primeiro estabelecida em 1990, iniciou a execução de um plano de manejo dos recursos da região em 1996. O objetivo era, entre outras coisas, evitar extinções como a do macaco ucari-branco, símbolo da região.

 

Uma segunda reserva, Amaña, foi estabelecida dois anos depois.

 

Márcio Ayres recebeu diversos prêmios, nacionais e internacionais, como a Medalha Duque de Edimburgo de Conservação, entregue pessoalmente pelo Príncipe Philip, do Reino Unido, em 1992. Em 2002, foi homenageado com o prêmio da Sociedade de Biologia da Conservação (SCB) e o Rolex Award for Enterprise. Ele ainda é um dos autores do livro “Grandes Áreas Naturais: as Últimas Áreas Silvestres da Terra”, organizado pela Conservation International e Agrupación Sierra Madre, lançado em dezembro de 2002, em Washington, e com lançamento no Brasil dia 20 de março de 2003.

 

Ayres faleceu em 7 de março de 2003, em Nova York, aos 49 anos. Ele vivia a maior parte do tempo em Belém.

 

O pesquisador e conservacionista José Márcio Ayres, vítima de um câncer, que iniciou no pulmão. A doença havia sido diagnosticada há 17 meses e Ayres estava licenciado do Museu Emílio Goeldi para o tratamento, no Hospital Monte Sinai. O corpo foi transladado para o Brasil, e o sepultamento foi em Belém, no Pará, no dia 13. Márcio Ayres tinha 49 anos, era casado e deixa dois filhos.

(Fonte:https://ciencia.estadao.com.br/noticias/geral – NOTÍCIAS / GERAL / CIÊNCIA / Por Agencia Estado, 10 Março 2003)

(Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia – CIÊNCIA / MEMÓRIA / DA REDAÇÃO – São Paulo, 12 de março de 2003)

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O senhor da floresta

Com duas reservas de desenvolvimento sustentável na Amazônia, José Márcio Ayres revolucionou o conceito de área protegida

 

Belém é a porta de entrada da Amazônia. Por seu porto fluvial passa toda a navegação que se destina ao interior da floresta. Foi nessa cidade que nasceu e cresceu José Márcio Ayres. Biólogo, especializou-se em primatas, viveu embrenhado na selva e foi o idealizador de duas reservas de desenvolvimento sustentável, no coração da mata, hoje lar de 10 mil pessoas. A Amazônia era seu mundo. Mas o encontro que mudou seu destino aconteceu longe de casa, do outro lado do Atlântico.

 

Na Faculdade de Ciências Biológicas da USP de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, destacou-se na área de primatologia. Logo recebeu convite para dirigir o zoológico municipal. Foi nesse cargo que, aos 19 anos, José Márcio viajou para a Alemanha. No zoológico de Colônia, viu pela primeira vez o uacari-branco, macaco endêmico da região do Médio Solimões.

 

O encontro o marcou profundamente. Anos mais tarde, o uacari-branco foi tema de seu doutorado, em Cambridge, Inglaterra. Para estudá-lo, José Márcio ficou dois anos isolado na Amazônia. Começou a surgir assim a ideia de uma área de proteção permanente para o animal. Ele fez contato com políticos, circulou por Brasília, e, em 1990, o estado do Amazonas criou a Estação Ecológica Mamirauá (EEM). O uacari-branco estava salvo.

 

Mas havia um problema. A condição de estação ecológica não permitia a permanência das comunidades locais. Foi aí que veio a grande sacada. José Márcio sugeriu novo modelo de área protegida, em que a população ajudasse na conservação, usando os recursos naturais de forma controlada. A legislação foi alterada e, em 1996, a EEM tornou-se Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. Dois anos mais tarde, foi criada uma reserva ainda maior chamada Amanã, que liga Mamirauá ao Parque Nacional do Jaú, formando o maior corredor de floresta tropical protegida do mundo, com 5,7 milhões de hectares.

 

Quando o então presidente Fernando Henrique Cardoso visitou Mamirauá, em 1999, José Márcio conseguiu quebrar o protocolo com seu jeito brincalhão. Em pouco tempo, os dois riam juntos como velhos amigos. Pessoa simples, tratava da mesma maneira autoridades e gente do povo. Seu uniforme básico era camiseta, bermuda e sandálias. Era assim que se sentia feliz em sua floresta.

 

José Márcio passou o último ano e meio de vida em tratamento no hospital Mount Sinai, em Nova York. Nesse tempo, deixou os Estados Unidos apenas duas vezes. Uma para receber em Tóquio o Prêmio Rolex, um reconhecimento por seu trabalho inovador. A outra, quando voltou pela última vez a Mamirauá. Foram 15 dias no paraíso. A maior alegria foi ver que seu trabalho estava bem encaminhado. Em 7 de março de 2003, aos 49 anos, o cientista foi derrotado pelo câncer.

 

“Marcinho era um visionário. Enquanto se discutiam problemas do presente, ele já olhava para o futuro”, diz Carolina Diniz, sua terceira mulher. Com a esposa anterior, Deborah Lima, teve dois filhos, Daniel e Lucas. Deborah o ajudou a criar Mamirauá, assim como Ana Rita, hoje diretora do instituto que administra as duas reservas.

(Fonte: https://super.abril.com.br/ideias/o-senhor-da-floresta – O senhor da floresta / Por Bruno Leuzinger – 31 out 2016)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O primatologista divulgava a Amazônia e suas teorias de preservação

 

Entre caminhadas, acampamentos e navegações ribeirinhas, passou cerca de quinze anos dentro da selva, onde percorreu 30 000 quilômetros.

 

A estação ecológica de Mamirauá foi criada em 1990, sete anos depois dos primeiros contatos entre o cientista e o macaco. A reserva foi filmada e divulgada em dezenas de documentários internacionais.

 

Com a criação da reserva, Márcio Ayres ganhou um laboratório de 11 200 quilômetros quadrados para colocar em prática suas teorias sobre preservação ambiental. O modelo adotado em Mamirauá difere de tudo o que sempre se preconizou como política conservacionista.

(Fonte: Revista Veja, 1° de setembro de 1999 – ANO 32 – Nº 35 – Edição 1613 – Perfil / Por Klester Cavalcanti – Pág: 88/89)

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