Joaquín Torres García, considerado um dos artistas uruguaios, com maior projeção internacional

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Torres García: um pensador incansável

O apogeu de Torres García

Meteoro vivo

Joaquín Torres García (Montevidéu, 28 de julho de 1874 – Montevidéu, 8 de agosto de 1949), artísta uruguaio. Considerado um dos artistas uruguaios, com maior projeção internacional. Filho de um pai imigrante catalão e de mãe uruguaia, ele viveu desde a adolescência na Europa. De lá só saiu para uma curta temporada em Nova York e, em 1934, para voltar à pátria, depois de 43 anos de auto-exílio. Por formação e convivência, Torres García foi portanto um artista europeu. Ligou-se em fins da década de 20 aos criadores da arte abstrata geométrica – inclusive Piet Mondrian – e deles extraiu as bases para seu estilo do período áureo: o “universlismo construtivo.”

 

No fim da década de 1920, quando o uruguaio Torres García viveu em Paris, seu encontro direto com as vanguardas artísticas europeias, especialmente, com o abstracionismo, foi determinante para que ele alçasse o construtivismo simbólico que tornou sua marca. “Podemos admirar um cristal porque é perfeito, mas poderíamos, afinal, amálo?”, indagou Torres García num dos numerosos debates que participou na época.

Em 1894 o artista emigrou para Barcelona, na Espanha, para estudar na Academia de Belas Artes, e foi este um período de interesse pelo classicismo, até 1916. Além de ter trabalhado com o arquiteto Antonio Gaudí na criação dos vitrais da catedral de Palma de Mallorca e na obra da Sagrada Família de Barcelona, Torres García se dedicou a fazer afrescos para outras igrejas. Um conjunto de pinturas e desenhos de 1917, o ano marco de ruptura do artista com o classicismo. É em 1917 também que Torres García publica o livro Descobrimento de Si Mesmo, justamente nesse período de quebra de transição.

 

Antes de se mudar para Paris, o urugauio viveu, no início dos anos 1920, em Nova York. A metrópole norte-americana ainda foi o assunto das criações do artista, em composições nas quais o grafismo ficou mais intenso e foram incorporados elementos de anúnios, propagandas, letras, palavras. Nos Estados Unidos, ainda, Torres García criou os brinquedos de madeira que eram uma experiência de fragmentação de figuras, um meio que ele imaginou ter com esses objetos êxito comerical para sustentar a família.

 

Por fim, é na França, entre 1926 e 1932, que Torres García viveu a transformação de sua pesquisa artística. A relação do uruguaio com Theo Van Doesburg e Piet Mondrian, em 1928, foi fundamental para seu caminho de rumo à síntese. Torres García faz menção às culturas pré-colombiana e africana nas pinturas e objetos criados nesse processo e chega a uma composição pictória construtiva que se torna um sistema de planos e cores em camadas. Integrados a esse sistema estão símbolos, signos, alfabetos – a forma própria do artista de ralacionar o emocional e o racional.

 

POLIVALÊNCIA – Para o sucesso de Torres García vários fatores se juntaram. Entre eles, o próprio charme da personalidade do artista: um incansável pensador, de aparência messiânica, autor de vários livros, carismático fundador de movimentos de vanguarda, trabalhador polivalente sobre telas, murais, objetos, relevos de madeira e até brinquedos, criados para uma fábrica italiana na década de 20. Acima de tudo, entretanto, paira a qualidade, a vitalidade, a honestidade, a convicção e o fortíssimo talento de Torres García saltam aos olhos.

COMPARAÇÕES – Mas por índole Torres García era sem dúvida nenhuma um latino-americano, talvez o primeiro e mais brilhante da vaga crescente de latinoamericanidad. Inconsientemente – ou antes intuitivamente, já que sua lucidez teórica era impecável -, reuniu as raízes da América primitiva com a superestrutura intelectualizada da abstração europeia. Com menos talento, o resultado poderia ser dolorosamente híbrido e inseguro. Em Torres García se transformou apenas numa poesia pessoal.

Assim, à divisão nitidamente mondrianesca do espaço (áreas definidas e estanques) superpunha elementos simbólicos dos mais disparatados: sóis, relógios, barcos, serpentes, estrelas, peixes, chaves, bocas, sexos. Acrescentava ainda inscrições de sentido impreciso, cores densas, e tintas empastadas, sensuais e caprichosas. Cada quadro acabou conquistando o mistério e o encanto de um mito apenas entrevisto. Disciplina, organização e sensibilidade puramente intuitiva. Extremos aparentemente irreconciliáveis, que Torres García (como Volpi, que exclusivamente neste sentido ele faz recordar) conseguiu reunir na mesma tela, com um pincel transmudado em varinha de condão.

Torres García é um grande inventor nacional que consegue transcender o país e a região. O artista mostra como chegar ao universal, a partir da procura e do conhecimento de si mesmo. Torres García participou na Bienal de 1959 no Brasil, com uma obra vigorosa. Em setembro de 1979, quarenta trabalhos de Torres García ocuparam a sala nobre do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, ao lado de Velásquez, Renoir, Picasso e demais astros do acervo. Foi o apogeu, ao qual não faltou o fascínio de um toque de tragédia. Em julho de 1978, 86 peças escolhidas integravam uma exposição Torres García no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Foram todas destruídas no incêndio que liquidou o museu.

Nem por isso o sucesso é fruto de remorso. Na verdade, reflete a crescente valorização mundial do artista – nascido em julho de 1874, morto em agosto de 1949. Em termos histórico-críticos, o Museu da Universidade de Austin, Texas, dedicou-lhe em 1974 uma extensa retrospectiva e um pesquisado e cuidadíssimo catálogo.  Em termos de mercado, Torres García é um meteoro, disputado em leilão.

 

(Fonte: Veja, 19 de setembro, 1979 – Edição 576 – ARTE/ Por OLÍVIO TAVARES DE ARAÚJO – Pág: 156)

(Fonte: http://cultura.estadao.com.br/noticias/geral – CULTURA/ Por Camila Molina – O ESTADO DE SÃO PAULO – 2 de dezembro de 2011)

 

 

 

 

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