João Semedo, antigo coordenador do Bloco de Esquerda, médico que chegou a partilhar a liderança do partido com Catarina Martins

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João Semedo, antigo líder do Bloco de Esquerda

 

A vida de Semedo dividiu-se entre a política e a medicina. Destacou-se nos últimos anos pela defesa da despenalização da eutanásia e pela proposta de uma nova Lei de Bases da Saúde. Antigo militante do PCP, onde lutou pela renovação interna, liderou posteriormente o Bloco de Esquerda com Catarina Martins.

 

 

João Pedro Furtado da Cunha Semedo (Lisboa, 20 de junho de 1951 – Lisboa, 17 de julho de 2018), antigo coordenador do Bloco de Esquerda, médico que chegou a partilhar a liderança do partido com Catarina Martins.

 

O médico, antigo deputado e ex-candidato à Câmara Municipal do Porto aderiu ao Bloco de Esquerda em 2007, destacou-se nos últimos anos pela defesa da despenalização da eutanásia. Em fevereiro de 2018, por ocasião do debate no Parlamento em torno da morte medicamente assistida, apelou a uma discussão racional, “sem medos”. Considerava-a “um projeto democrático e humanista que não obriga ninguém, mas também não impede ninguém”, e que tornaria a “democracia mais perfeita”. Depois de a proposta ter sido chumbada, Semedo disse que a sua aprovação “é uma questão de tempo: não foi agora, será na próxima legislatura”.

 

Foi também um dos autores da nova proposta de Lei de Bases da Saúde, tendo lançado com António Arnaut (que morreu em Maio) o livro Salvar o SNS – Uma nova lei de bases da Saúde para defender a democracia.

 

Coordenador do Bloco entre 2012 e 2014, teve uma vida dedicada à atividade política nacional e internacional, às artes e à medicina, tendo sido um dos autores da nova proposta de Lei de Bases da Saúde.

 

Membro da direção do movimento cívico “Direito a morrer com dignidade”, João Semedo nasceu a 20 de junho de 1951, em Lisboa, cidade onde veio a licenciar-se na Faculdade de Medicina de Lisboa, em 1975. Em 1973 chegou a ser detido pela PIDE/DGS, acusado de atividades subversivas.

 

Participou na fundação do Sindicato dos Médicos do Norte e da Universidade Popular do Porto e integrou a direção do Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica e da cooperativa artística Árvore.

 

Foi presidente do Conselho de Administração do Hospital Joaquim Urbano entre 2000 e 2006. Deixou a administração da unidade de saúde para se tornar deputado à Assembleia da República em regime de exclusividade, substituindo João Teixeira Lopes.

 

Em 2015, após lhe ter sido diagnosticado cancro nas cordas vocais, renunciou ao mandato.

 

João Semedo chegou ainda a protagonizar candidaturas autárquicas em Gondomar (enquanto independente em 2005), Gaia (2009) e Lisboa (2013). Como deputado integrou diversas comissões parlamentares: Saúde, Assuntos Europeus, Orçamento e Finanças.
Em 2016 foi distinguido pela Câmara Municipal do Porto com a Medalha de Mérito/grau Ouro da cidade.
“Ímpar e diversificado percurso”
João Semedo nasceu em Lisboa, onde frequentou o Liceu Camões. A sua longa atividade política iniciou-se com a tragédia das cheias de 1967, quando ainda andava no liceu, através da mobilização estudantil no apoio às vítimas. “Foi um acontecimento muito marcante para mim e para a minha geração, não sabia nem sequer imaginava como se podia viver tão miseravelmente às portas de Lisboa”, contava ao PÚBLICO.

 

Mais tarde, em 1972, aderiu ao PCP através da União de Estudantes Comunistas, e acabou por mergulhar na clandestinidade e por ser preso pela PIDE por distribuir panfletos a exigir eleições livres. Em 1975, licenciou-se na Faculdade de Medicina de Lisboa.

 

Mudou-se para o Porto e, a partir daí, o seu percurso dividiu-se entre a política e a medicina. Entre 2000 e 2006, foi director do Hospital Joaquim Urbano, no Porto.

 

Semedo militou no PCP até 2000, ainda que tenha entrado em ruptura e saído do Comité Central em 1991, tendo lutado durante uma década pela renovação do partido. No ano em que se desfiliou do partido, considerou que “deixou de haver massa crítica no PCP para fazer a sua renovação”.

Após a saída de Francisco Louçã da coordenação do Bloco de Esquerda, em 2012, João Semedo e Catarina Martins assumiram a liderança do partido. Foi deputado pelo BE em três legislaturas, até renunciar ao mandato por motivos de saúde, em Março de 2015. Regressaria brevemente à atividade política como candidato à Câmara Municipal do Porto em 2017, acabando por renunciar em favor de João Teixeira Lopes, novamente devido à doença.

 

“Tive a vida que escolhi, a vida que quis, não tenho nada de que me arrependa no que foi importante, segui sempre a minha intuição, nunca me senti a fazer o que não queria. Sim, fui muito feliz, sou e acho que continuarei a ser”, admitia numa entrevista ao Observador, em 2017. “Nunca desejei morrer, mas sempre achei que, se morresse, a morte me apanharia feliz com a vida que tive.”

João Semedo faleceu em 17 de julho de 2018, na unidade hospitalar onde se encontrava internado.

 

Em nota de pesar entretanto enviada às redações, o Bloco de Esquerda transmite à família de João Semedo “as mais sentidas condolências”.

Depois de recordar o “ativismo e participação cívica” desde os anos de 1960, assim como a militância no PCP, antes da aproximação ao Bloco, o partido de Catarina Martins escreve que ação de João Semedo “foi multifacetada e incluiu, entre muitas outras, a participação nas campanhas de alfabetização pós-25 de Abril, a intervenção na Cooperativa Árvore, na direção do FITEI, na Universidade Popular e na fundação do Sindicato dos Médicos do Norte”.

“Na década de 90, João Semedo regressa à atividade médica, com passagem por um centro de abrigo para toxicodependentes e em Serviços de Atendimento Permanentes. Foi nomeado diretor do Hospital Joaquim Urbano, no Porto, onde durante seis anos liderou o processo de remodelação do hospital especializado no tratamento de doenças respiratórias e infecciosas, trazendo inovações no campo do tratamento da SIDA e das hepatites”, lembra ainda o BE.

“Em 2004, aproxima-se do Bloco de Esquerda integrando como independente a lista do Bloco de Esquerda para a Eleições Europeias, encabeçada por Miguel Portas e em 2006 substitui João Teixeira Lopes como deputado à Assembleia da República. Durante o mandato, filiou-se no Bloco de Esquerda, do qual viria a ser Coordenador em 2012. Em 2015, interrompe o seu terceiro mandato como deputado por motivos de saúde”, prossegue o partido.

O Bloco recorda, por último, que “a doença prolongada e as crescentes limitações da voz” não impediram João Semedo “de manter a atividade política”.

“Nos últimos meses da sua vida, João Semedo publicou um livro com António Arnaut para uma nova Lei de Bases da Saúde e deu força e conteúdo ao Movimento Direito a morrer com dignidade”.

(Fonte: https://www.rtp.pt/noticias/politica – NOTÍCIAS / POLÍTICA – 17 Jul, 2018)

(Fonte: https://www.publico.pt/2018/07/17/politica/noticia – POLÍTICA / NOTÍCIA / por Claudia Carvalho Silva e Pedro Guerreiro – 17 de Julho de 2018)

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