João Sayad, foi ministro do Planejamento, ex-secretário estadual da Fazenda e da Cultura de São Paulo e ex-secretário de Finanças da prefeitura paulistana

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JOÃO SAYAD é professor da Faculdade de Economia e Administração da USP. Foi ministro do Planejamento, ex-secretário estadual da Fazenda e da Cultura de São Paulo e ex-secretário de Finanças da prefeitura paulistana (Foto: Filipe Redondo/ÉPOCA)

JOÃO SAYAD é professor da Faculdade de Economia e Administração da USP. Foi ministro do Planejamento, ex-secretário estadual da Fazenda e da Cultura de São Paulo e ex-secretário de Finanças da prefeitura paulistana (Foto: Filipe Redondo/ÉPOCA)

João Sayad , economista sem vínculo partidário, ele navega com desembaraço por diferentes correntes políticas. Foi ministro do Planejamento, ex-secretário estadual da Fazenda e da Cultura de São Paulo e ex-secretário de Finanças da prefeitura paulistana.

Foi secretário da Fazenda de São Paulo (1983-1987) no governo Franco Montoro, ministro do Planejamento (1985-1987) no governo José Sarney, no Plano Cruzado, secretário de Finanças (2001-2003) de Marta Suplicy na prefeitura paulistana e secretário paulista de Cultura (2007-2010) na gestão de José Serra.

Professor da Faculdade de Economia e Administração da USP, com doutorado pela Universidade Yale, nos Estados Unidos, Sayad ainda teve sua fase de banqueiro, como sócio do banco SRL, comprado pela American Express, de 1988 a 2000. 

Autores clássicos, como David Ricardo (1772-1823), Adam Smith (1723-1790) e John Stuart Mill (1806-1873), defenderam a economia de mercado e o capitalismo, que viam nascer como a melhor forma e a alternativa natural para organizar a sociedade humana.

O paradigma keynesiano, inspirado na crise da década de 30, tentou ‘salvar’ a economia capitalista de seus próprios defeitos. Clássicos e keynesianos formam um dueto. O barítono monetarista, soturno e ameaçador, clama pela disciplina, pela ordem que garanta a estabilidade do valor dos créditos e do capital acumulado. A disciplina que mantém a estabilidade dos salários nominais mesmo que à custa do desemprego. Os tenores keynesianos cantam a favor do emprego e contra a desigualdade na distribuição de renda, que ameaça o capitalismo.

Cada uma sonha e faz propostas para dois desejos diferentes, dois mundos diferentes. Um mundo de indivíduos autônomos, responsáveis pelo próprio futuro, livres de qualquer obstáculo para viver seu destino. Ou um mundo harmonizado pela intervenção do Estado, que ameniza o sofrimento dos desafortunados, que pode ameaçar a estabilidade da democracia.

A cada crise da economia capitalista, começa um novo dueto no qual tenor e barítono se revezam. O debate é infindável.

A economia capitalista está associada ao mesmo tempo às crises de desemprego e inflação, à concentração de renda, ao crescimento rápido da produção e à prosperidade material. Mais recentemente, é acusada de usar recursos naturais como ar, água e a diversidade da vida como se fossem bens privados, colocando em risco a sustentabilidade da existência humana.

Há um debate permanente entre monetaristas e seus críticos. Os clássicos refletiam sobre uma nova organização social que acabava de nascer. Seus descendentes propõem teorias originadas naquela época e reprogramadas para cada etapa da economia capitalista e dos mercados financeiros. São sacerdotes que mantêm os ritos necessários ao estabelecimento da moeda como instituição soberana.

As crises monetárias reinstituem a soberania da moeda por meio de reformas monetárias. Corte de gastos, novas regulamentações bancárias, novos arranjos internacionais. Apesar de mito, o dinheiro é um evento que se renova por meio de crises financeiras, guerras e revoluções.

É preciso ver os monetaristas como defensores da disciplina da instituição monetária. Grandes polemistas, criativos, puxam a política monetária para a defesa dos créditos e do mercado financeiro. Nas crises, apontam a regra de cada momento como a que foi violada pela irracionalidade das autoridades econômicas ou pelo populismo dos políticos.

Os keynesianos, por sua vez, querem desmitificar a moeda, reduzir sua atratividade como investimento. Propõem jogar areia nas engrenagens tão lubrificadas do mercado financeiro internacional, como o imposto de Tobin (uma espécie de CPMF para as transações financeiras internacionais).

As boas intenções dos keynesianos se chocam de frente com a ética do capitalismo nos piores momentos de crise. Exatamente quando o capitalismo é ameaçado e é preciso restaurar a ética capitalista, quando o Estado é eleito como bode expiatório das vicissitudes do capitalismo, quando a crise ameaça.

Mas a economia não é uma ciência madura, como as ciências exatas e as ciências da natureza. Nessas, o livro-texto se baseia no último paradigma, na última visão de mundo que orienta os pesquisadores de determinado campo do conhecimento. Em biologia, o livro-texto fala de DNA e de pesquisas cujo objetivo é testar e investigar seus pressupostos. A economia não faz parte desse grupo de ciências. Não há um paradigma vencedor.

Dos três vencedores do Prêmio Nobel de Economia em 2013, Gene F. Fama e Lars Peter Hansen, ambos professores da Universidade de Chicago, e Robert Shiller, professor da Universidade Yale, dois são responsáveis por teorias diametralmente opostas sobre como funcionam os mercados de capitais ao redor do mundo.

Um debate sem fim

Talvez o melhor keynesianismo — no sentido de salvar o capitalismo de si mesmo — seja uma combinação. De um lado, políticas e discurso conservadores para as questões monetárias. De outro, gastos públicos que atenuem o sofrimento, diminuam o desemprego e melhorem a renda dos eleitores.

É uma estratégia quase impossível. A política monetária é ágil e decidida em comitês. E tende a ser conservadora. A política fiscal depende de aprovação parlamentar, é lenta e apontada como culpada por todas as mazelas da economia. O governo que administra ‘o meu dinheiro, o seu dinheiro, o nosso dinheiro’ é amarrado por regras formais de administração pública que impedem que seja rápido, flexível e eficiente.

A dificuldade é que a política monetária pode ser insuficiente, principalmente em momentos de crise, enquanto a política fiscal eficiente é paralisada pelas regras da administração pública e, mais importante, por sua visibilidade, o que a torna alvo de críticas e oposição. Ainda não apareceu uma forma de organizar a sociedade capitalista e democrática que não seja em torno da moeda.

 

O economista João Sayad é cético em relação ao atual cenário político. Para ele, faltam a Dilma as características necessárias para exercer a Presidência – e a oposição também não se coloca como solução.

(Fonte: http://epoca.globo.com/ideias/noticia/2015/07/o- IDEIAS – 09/07/2015)

(Fonte: http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/1092/noticias – João Sayad, de Revista EXAME – 24/06/2015)

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