João das Neves, nome histórico do teatro brasileiro foi da resistência à ditadura militar e também trabalhou com músicos como Baden Powell, João do Vale e Chico Buarque

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João das Neves, um dos fundadores do Grupo Opinião

Diretor e dramaturgo foi importante nome da resistência contra o regime militar

 

Neves era considerado um dos maiores dramaturgos brasileiros.

 

 

João das Neves (Rio de Janeiro, 31 de janeiro de 1934 – Lagoa Santa, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, 24 de agosto de 2018), dramaturgo, diretor, ator e escritor, foi um dos maiores nomes do teatro brasileiro, foi da resistência à ditadura militar e também trabalhou com músicos como Baden Powell, João do Vale e Chico Buarque.

 

 

 

 

O artista era natural do Rio de Janeiro, ganhou prêmios diversos como o Molière, Bienal Internacional de São Paulo, Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), Golfinho de Ouro e Quadrienal de Praga e foi também diretor do Centros Populares de Cultura (CPC).

Nascido no Rio de Janeiro em 1934, Neves teve contato com teatro no início na adolescência e em 1950 se formou ator e diretor na Fundação Brasileira de Teatro. Seu primeiro grupo chamava-se Os Duendes, quando também dirigia o Teatro Arthur Azevedo, no bairro do Campo Grande. A companhia não teve grande atuação, pois o governo Carlos Lacerda expulsou o diretor do teatro sob acusação de comunismo e propaganda subversiva.

Nesse intervalo, fundou o Centro Popular de Cultura (CPC), onde era responsável pelo Teatro de Rua. Após o golpe militar de 1964, o CPC é posto na ilegalidade e os integrantes se reoganizaram para a criação do emblemático Grupo Opinião, um dos primeiros coletivos de teatro engajado no Rio.

Neves não esteve ligado apenas ao teatro, trabalhando com artistas como a cantora Titane na direção do show Inseto Raro (1993). Também dirigiu shows de Baden Powell, João do Vale, Chico Buarque, Milton Nascimento e Geraldo Vandré.

Ele estreou em 1964 com o Grupo Opinião o espetáculo “Show Opinião”, reunindo no palco, em um protesto contra a ditadura, Nara Leão, Zé Keti e João do Vale.

Nos Anos de Chumbo, período de muita resistência do teatro brasileiro, a obra do João era concebida em um período de grande investigação e busca por novos modelos dramatúrgicos para flagrar a realidade instaurada pelo regime militar.

Fez teatro de rua com o CPC, do qual fez parte e, com o Grupo Opinião participou de uma série de montagens em teatros de arena. Foi neste período que apresentou sua primeira ruptura com o espaço cênico tradicional.

Quebrou o teatro por dentro ao criar para o espetáculo “O Último Carro” uma arena invertida em que a ação se desenvolve em volta do público que é deslocado para o centro da arena e fica inserido na ação. Em cartaz por cerca de dois anos, no Rio de Janeiro e em São Paulo, “O Último Carro” foi assistido por mais de 200 mil pessoas, tendo rendido inúmeros prêmios a João das Neves, como o Prêmio “Arte não catalogada” na 14ª Bienal de São Paulo.

O período em que esteve à frente do Grupo Opinião é marcado também por peças como “O Quintal” em que problematiza o golpe militar de 1964 e a atuação de três importantes polos das esquerdas nesse período: o CPC, o Partido Comunista Brasileiro (PCB) e a União Nacional dos Estudantes (UNE); “Mural Mulher”, em que João escreve sua dramaturgia a partir de entrevistas com mulheres de diferentes classes sociais e profissionais, apresentando a condição das mulheres brasileiras no período; “A pandorga e a lei” em que denuncia a tortura; e “Café da Manhã” que apesar de mais intimista transmite o clima de tensão de um país submetido à severa ditadura militar. João das Neves somente encerrou as atividades do Grupo Opinião com o fim da ditadura no Brasil, cumprindo o propósito do Grupo de resistir a este sistema.

Findado este ciclo João das Neves se muda para o Acre, onde mergulha no contexto da floresta amazônica e realiza um trabalho com atores não profissionais que gerou o espetáculo “Caderno de Acontecimentos” e resultou na criação do Grupo Poronga.

Posteriormente, escreve e dirige o espetáculo “Tributo a Chico Mendes” em que leva ao palco os conflitos e contradições resultantes do choque de costumes entre índios e seringueiros de um lado e latifundiários e governo, de outro. “Yuraiá – O Rio do Nosso Corpo” é sua última peça escrita no Acre, ainda inédita, e que retrata a saga do povo Kaxinawá que, iniciada na cidade de Rio Branco, sua capital, ganha corpo nos seringais e tem seu auge nas regiões mais afastadas da floresta amazônica, onde vive este povo contatado há mais de cem anos pelos brancos.

Em 2012 encenou a versão de Zumbi, de Augusto Boal e Gianfrancesco Guarnieri, com 10 atores negros em cena. A peça remete ao clássico Arena Conta Zumbi, dos anos 1960, apresentada no Teatro de Arena. Em 2015, nas comemorações de 80 anos, o ator e diretor ganhou uma exposição, Ocupação João das Neves, no Itaú Cultural. Radicado em Minas Gerais, ele encenou Zumbi, Madame Satã, sobre a personagem ícone da Lapa carioca.

Homenagens e acervo

No fim de 2015, João das Neves dirigiu no Rio o infantil “A Lenda do Vale da Lua”, escrito por ele 40 anos antes. Na época, ele disse ao Globo Teatro que não via diferença em dirigir um espetáculo adulto ou infantil. “A única questão é que as crianças gostam de se envolver e interferir no que elas estão assistindo, elas vão muito de acordo com o próprio instinto. Por isso, é preciso que a peça seja aberta e esteja preparada para o improviso”, afirmou.

No ano de 2016, a obra de João das Neves foi tema de mostra no Itaú Cultural, em São Paulo. Na ocasião, houve uma apresentação da peça “Madame Satã”, escrita nos anos 80. A mesma peça com direção do dramaturgo voltou a entrar em cartaz em Belo Horizonte em 2018.

João das Neves doou seu acervo para a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). As obras estão atualmente no Setor de Coleções Especiais.

 

João das Neves morreu em 24 de agosto de 2018, em casa, em Lagoa Santa, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Tinha 84 anos. O dramaturgo morreu de metástase óssea.

 

 

Leia a íntegra da nota de pesar da Fundação Clóvis Salgado

“A Fundação Clóvis Salgado lamenta, profundamente, o falecimento de João das Neves. Dramaturgo, diretor, ator e escritor, João das Neves foi figura fundamental para o fortalecimento das artes cênicas em todo o país.

Para o teatro, sua contribuição é imensurável, além de representar um novo fazer artístico, nos ajudando a ver o teatro como uma ferramenta de resistência, valorização e ressignificação da arte.

Seu legado irá perdurar em cada artista que o conheceu, pessoalmente ou não. Fecham-se as cortinas para João das Neves, mas o caminho do teatro segue a passos firmes, na luta, na resistência e na transformação artístico-cultural.

Aos familiares, amigos e admiradores, nossos sentimentos.

Fundação Clóvis Salgado.”

 

(Fonte: https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2018/08/24 – MG – MINAS GERAIS / NOTÍCIA / Por G1 MG, Belo Horizonte – 24/08/2018)

(Fonte: https://cultura.estadao.com.br/noticias/teatro-e-danca – NOTÍCIAS / TEATRO E DANÇA / CULTURA / Por O Estado de S.Paulo – 24 Agosto 2018)

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