Jean-Baptiste Debret, pintor e talentoso desenhista francês, o mais notável membro da chamada “Missão Francesa”

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O mais notável membro da chamada “Missão Francesa”

Jean-Baptiste Debret (Paris, 18 de abril de 1768 – Paris, 28 de junho de 1848), pintor e talentoso desenhista francês que viveu no Brasil de 1816 a 1831. O mais notável membro da chamada “Missão Francesa” – um conjunto de artistas e professores trazidos para o Rio de Janeiro, em 1816, por dom João VI.

Jean Baptiste Debret foi um artista que antecipou a timidez formal que viria a caracterizar o modernismo brasileiro. Lá estava, no Rio de Janeiro de 1816, o pintor neoclássico francês, contratado por dom João VI para adornar a corte fluminense dentro dos moldes beletristas imperiais.

A obra de Debret no Brasil, da fase napoleônica do pintor mantidas longe do público.

Transplantado para o Brasil ao fim da era napoleônica, à qual serviu com entusiasmo, Debret, aluno aplicado de Jacques-Louis David (1748-1825), o pintor oficial do imperador francês, não pôde reproduzir por aqui o ufanismo que dispensava a Napoleão.

No Rio de Janeiro escravocrata, de ruas poeirentas e sem esgoto, Debret viu-se constrangido a derivar sua produção para pinturas e desenhos acanhados, mais realistas que triunfais, antecipando de certa forma os entraves que a modernidade encontraria um século mais tarde no país. Na série de aquarelas que realizou sobre a vida urbana carioca, o constrangimento de Debret é evidente. Na aquarela Negra Tatuada Vendendo Caju, o pintor consegue demonstrar o alheamento a um só tempo tristonho e sensual da escrava que oferece seus frutos.

 

Jean-Baptiste Debret

Negra Tatuada Vendendo Caju, de 1827. Aquarela sobre papel (Foto: DezenoveVinte / Divulgação)

 

Longe de povoar um espaço seguro e nitidamente demarcado, como na arte neoclássica, a vendedora de caju é uma figura isolada diante do vazio ao fundo dela. Debret foi o primeiro pintor estrangeiro a se dar conta do que havia de enganoso na aplicação de um sistema preestabelecido na representação da realidade brasileira.

Nascido em Paris, em abril de 1768, Debret teve em sua pátria uma carreira de pintor oficial, entremeada de medalhas e menções honrosas, e interrompida pela queda de Napoleão. Convidado, ao mesmo tempo, a ir para São Petersburgo (onde o czar Alexandre precisava de um pintor e arquiteto) ou para o Brasil, Debret optou pela segunda alternativa, e aqui ficou até 1831.

Participou da organização da Academia de Belas-Artes (núcleo de onde brotou todo o ensino artístico brasileiro no século XIX) e realizou vários trabalhos para a corte. A marca mais importante de sua passagem, porém, data de Paris: são os três grandes volumes do álbum de gravuras da “Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil”, editado de 1834 a 1839.

Pintor parisiense que registrou a vida brasileira no século XIX, foi o pintor mais importante e mais interessante daquela era, e inspirou cenários e figurinos, em que os personagens parecem posar pra o pintor. Ele dava atenção muito especial às roupas de quem retratava, uma riqueza de detalhes que levamos para os figurinos.

Em 1816, um grupo de franceses aportou no Rio de Janeiro, trazendo grandes contribuições culturais para o país. A invasão cultural francesa, com seu espírito neoclássico e suas técnicas refinadas despejados subitamente num canto distante dos trópicos, foi com a chegada do veleiro Calpe, carregado de pintores, escultores e arquitetos simpatizantes de Napoleão, que haviam caído em desgraça em seu país quando o imperador perdeu o trono e o império.

Embora fugido de Portugal diante do furacão bonapartista, que revolucionou a Europa antes de ser apagado, o príncipe-regente português, Dom João VI, recebeu o grupo de braços abertos. Animado com a perspectiva de transformar a sede da corte em modelo de cidade moderna, ele chegou a criar e financiar um instituto onde os franceses da missão pudessem trabalhar livremente.

Integrou a Missão Artística Francesa, que fundou, no Rio de Janeiro, uma academia de Artes e Ofícios, mais tarde Academia Imperial de Belas Artes, onde lecionou pintura.

A Casa França-Brasil preparou e organizou grande parte do arquivo da exposição e, lembrou que os artistas da missão vieram para o Brasil impregnados de uma visão de paraíso. Eles esperavam encontrar aqui os bons selvagens com que sonhavam os filósofos do Iluminismo.

Para viajar ao Brasil, ele desprezou o convite feito pelo czar Alexandre I, para ensinar Belas Artes na Rússia a peso de ouro.

Convocado pelo escritor e crítico literário Joaquim Lebreton (1760-1819), Debret embarcou rapidamente na aventura tropical que acabaria por criar as imagens mais definitivas do Brasil colonial e que ajudaria os brasileiros de todas as gerações posteriores a encontrar pistas sobre seu passado.

O momento mais significativo da passagem desse artista pelo Brasil foi reunido na exposição A Missão Artística Francesa e os Pintores Viajantes, em cartas em 16 de dezembro de 1990 na Casa França-Brasil, no Rio de Janeiro.

De Debret, a exposição teve um pouco de tudo: gravuras de plantas e de beija-flores, que fogem aos seus assuntos mais frequentes, telas que retratam episódios e personagens da família imperial – a chegada da arquiduquesa austríaca Leopoldina ao Brasil, em 1817, para seu infeliz casamento com Dom Pedro I e a monumental coroação do primeiro imperador brasileiro -, além das cenas do cotidiano pelas quais ficou mais conhecido, como em O Caçador de Escravos.

 

 

Jean-Baptiste Debret

O Caçador de Escravos (1820-1830) – Aquarela sobre papel (Foto: Wikimedia Commons / Divulgação)

 

 

Estilo neoclássico que os franceses da missão trouxeram para o Brasil. Proclamada a independência, eles foram convocados para dar um inequívoco toque francês a toda a simbologia do novo país, desenhando assim a bandeira imperial, as moedas nacionais e as comendas mais importantes, como a Ordem do Cruzeiro do Sul.

Para aqueles fugitivos da França da restauração da monarquia, o Brasil foi um exílio dourado, no qual puderam exercitar o ideal de liberdade artística e política que estava sufocado em seu país.

Mas, apesar doa poio oficial, os franceses da missão não tardaram a enfrentar a oposição e a hostilidade dos portugueses da corte, que acusavam seus rivais estrangeiros de terem reduzido a um plano insignificante a até então prestigiada arte barroca, com ênfase nos aspectos sacros, que se praticava no país.

A primeira oportunidade para a revanche surgiu em 1819, quando o chefe da missão, Joaquim Lebreton, morreu sem conseguir ver construído seu maior projeto – a sede da Academia Imperial de Belas Artes, que só ficaria pronta em 1826. Esperava-se que Nicolas Antoine Taunay substituísse Lebreton na chefia do grupo, mas depois de dezesseis meses de espera foi escolhido o desenhista português Henrique José da Silva, que passou a tratar o grupo com o mais puro espírito revanchista e privilegiou o desenho em detrimento das demais técnicas artísticas. Com esse abalo, a equipe francesa começou a desmoronar, embora o grupo só deixasse de existir de fato depois da partida de dom Pedro I para Portugal, em 1831.

AR JUVENIL – Antes do declínio, porém, os artistas tiveram tempo para criar obras admiráveis. A variada produção da missão francesa inclui desde pequenas preciosidades, como a escultura equestre de dom Pedro I, de Louis Rochet, uma estátua na Praça Tiradentes, no centro do Rio de Janeiro, até a panorâmica social retratada nas gravuras mostrando cenas de efstas religiosas e da malhação do Judas, feitas pelo filho mais novo de Nicolas Antoine Taunay, Aimé Taunay, que morreu afogado no Rio Guaporé, em Mato Grosso, em 1828, quando acompanhava a expedição do barão prussiano Georg von Langsdoff pelo interior do Brasil.

Outro trabalho que chama a atenção é a tela pintada por Raymond Monvoisin em 1847, mostrando um dom Pedro II vestido com seus trajes reais, e um ar juvenil com o qual o público não está acostumado.

Apesar do esfacelamento gradual da missão e da dispersão dos viajantes depois de 1831, muitos deles fincaram raízes no Brasil. Foi o caso dos irmãos escultores Marc e Zéphyrin Ferrez, cuja contribuição para a mostra são os bustos em bronze de dom Pedro I, de José Bonifácio de Andrada e Silva e medalhas do Senado Fluminense. Ambos ficaram no país até morrer e deixaram descendentes ilustres, como um dos mais importantes fotógrafos do início do século 20, Marc Ferrez, filho de Zéphyrin, que herdou da missão o gosto pelo registro das paisagens e cenas cotidianas da cidade.

Durante um século, praticamente só se conheceram de Debret as pinturas oficiais que executara na França e no Brasil, e as gravuras do álbum. No início dos anos 50, porém, o colecionador Raymundo de Castro Maia localizou cerca de 350 aquarelas originais, que estavam com uma bisneta do artista, e mais tarde pertenceram à Fundação Castro Maia, no Rio de Janeiro.

Notável leveza – Fazem parte obras de interesse variado. As duas mais importantes são um estudo colorido para uma gravura de índios, em expedição guerreira, e um esboço a lápis para a pintura que representa o casamento de dom Pedro I com a imperatriz dona Amélia.

(Fonte: Veja, 19 de dezembro de 1973 –- Edição 276 –- ARTE/ Por Olívio Tavares de Araújo –- Pág: 148/150)

(Fonte: Veja, 21 de novembro de 1990 – ANO 23 – N°46 – Edição 1 157 – ARTE – Pág; 110/111/112)

(Fonte: Veja, 25 de setembro de 1996 – ANO 29 – Nº 39 – Edição 1463 – Arte / Por Angela Pimenta – Pág: 132/133)

(Fonte: https://oglobo.globo.com/ela/moda – ELA – MODA/ POR EMILIANO URBIM – 26/06/2017)

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