James Stewart, ator em mais de 80 filmes, coronel de aviação condecorado durante a II Guerra Mundial

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Ator James Stewart; um dos mais amados atores da história do cinema nos EUA

O homem que sabia demais

Stewart: carreira com mais de oitenta filmes e criações complexas em companhia de grandes diretores

Ator ficou famoso com os filmes de Hitchcock

Ator genial, James Stewart ensinou ao mundo como encenar tipos conflituosos sem perder o charme

James Stewart (Indiana, 20 de maio de 1908 –Beverly Hills, Los Angeles, 2 de julho de 1997), foi um dos maiores astros da era de ouro de Hollywood, ator genial, ensinou ao mundo como encenar tipos conflituosos sem perder o charme.

Na quase totalidade dos 81 filmes em que atuou, Stewart representou personagens exemplares em termos de caráter. Ao contrário da maioria dos outros superastros norte-americanos, sua vida particular foi coerente com sua imagem pública: só se casou uma vez, serviu com distinção na Força Aérea de seu país e nunca se envolveu em escândalo de qualquer tipo.

James Stewart, conhecido em Hollywood como Jimmy, atuou em 80 filmes durante a sua carreira e foi indicado outras quatro vezes ao Oscar. No auge de sua carreira, era um dos principais atores do cinema norte-americano, embora alguns críticos dissessem que ele sempre interpretava James Stewart, o rapaz de cidade pequena.

Mas por trás de seus maneirismos estavam anos de aperfeiçoamento de uma técnica que atores como Cary Grant e diretores como Ford e Hitchcock consideraram “formidável”.

Stewart trabalhou com grandes diretores como John Ford e foi premiado com o Oscar de melhor ator em 1940 por “The Philadelphia Story”, no qual contracenou com Katherine Hapburn. Mas seus trabalhos mais conhecidos são com o mestre do suspense, o diretor inglês Alfred Hitchcock. Com ele fez filmes de sucesso como “Janela Indiscreta”, “Festim Diabólico” e “Um Corpo que Cai”, que recentemente voltou a passar nos cinemas brasileiros. Em 1980, foi agraciado com um Oscar honorário pelo conjunto de sua carreira.

Preferido de alguns dos mais importantes cineastas de Hollywood (entre eles Frank Capra, George Cukor e Alfred Hitchcock), ele tinha estilo de interpretação natural e despretensioso que reforçava a sua aparência de pessoa comum, vizinho do lado do espectador.

Respeitado por seus pares, ganhou um Oscar de melhor ator em 1940, por “Núpcias de Escândalo”, e ficou entre os cinco finalistas outras quatro vezes. Em 1984, ganhou Oscar especial.

Os dois filmes mais famosos de Stewart foram dirigidos por Frank Capra, cujo centenário de nascimento se comemora neste ano (ele morreu em 1991). Capra se transformou numa espécie de ideólogo informal das massas dos EUA durante a Depressão dos anos 30 e o governo de Franklin Roosevelt (1933-1945), com suas comédias sociais otimistas e laudatórias do sistema político americano.

Uma delas, “A Mulher Faz o Homem”, é até hoje lembrada com frequência por comentaristas políticos. Stewart é Smith, um líder escoteiro simplório indicado para substituir interinamente um senador recém-morto que chega a Washington encantado com os símbolos da democracia mas se decepciona ao deparar com o pragmatismo próximo da corrupção de seus colegas. Em vez de se acomodar ou de desistir, Smith resiste e, claro, vence.

O outro grande êxito de público da dupla Capra-Stewart é “A Felicidade Não se Compra”, repetido à exaustão em todos os Natais em dezenas de emissoras de TV nos EUA. Aqui, Stewart é um pequeno empresário generoso e desprendido que se vê em tremendas dificuldades e, às vésperas do Natal, planeja o suicídio, do qual só desiste por graça de seu anjo da guarda.

Mas os papéis mais complexos que interpretou lhe foram dados por Alfred Hitchcock (1899-1980). Os dois trabalharam juntos pela primeira vez em “Festim Diabólico” e tiveram seus melhores momentos em “Janela Indiscreta” e “Um Corpo Que Cai”.

 

James Stewart

Ator James Stewart com Gracy Kelly em “Janela Indiscreta” (Reprodução)

 

James Stewart nasceu em 20 de maio de 1908 na pequena cidade de Indiana, Pennsylvania, Costa Leste do país, onde hoje existe um museu dedicado a ele.

James Maitland Stewart faturava cerca de US$ 3 mil por semana como ator de cinema quando se alistou na Força Aérea dos EUA em 1941 para ganhar US$ 21 por mês. Ele terminou a guerra com três condecorações e o posto de coronel. Nunca abandonando o jeito de “herói relutante”, Stewart recusou toda a publicidade que os militares pretendiam fazer em cima de sua carreira nas forças armadas e insistiu para ser tratado como qualquer outro soldado.

Filho do principal comerciante local, e de descendência irlandesa, estudou arquitetura na prestigiosa Universidade de Princeton, onde fez parte do grupo de teatro com Henry Fonda e optou pela arte dramática. Após curta passagem pela Broadway, começou a fazer cinema em 1935. Casou-se em 1949 com Gloria McLean e teve quatro filhos.

 

Ator James Stewart em “Philadelphia Story”, que lhe rendeu o Oscar (Reprodução)

 

Aos 89 anos, James Stewart ainda mantinha o corpo esguio da época em que era um astro dos bons. Morava na mesma casa havia décadas, no luxuoso bairro de Beverly Hills em Los Angeles. Em 1994 perdera a mulher, Gloria, com quem era casado desde 1949 – uma estabilidade conjugal raríssima num astro de sua grandeza. Ator em mais de oitenta filmes, coronel de aviação condecorado durante a II Guerra Mundial, autor de um livro de poesias que permaneceu meses na lista de sugestões do jornal The New York Times, Stewart teve uma vida e tanto. “Dei muita sorte”, nas palavras do próprio.

No dia 2 de julho de 1997, ela chegou ao fim, após um ataque cardíaco. Longe dos estúdios desde os anos 70, ainda que de lá para cá tenha dado as caras em quatro produções, o ator seguia desfrutando um prestígio único entre os galãs de sua geração. Chegou a ser apontado, com algum exagero, como o mais completo do cinema americano. Isso numa época em que a concorrência era bem mais dura que a de hoje. Sua carreira, que começou por acaso quando um amigo da faculdade de arquitetura o convenceu a fazer um teste para a MGM, ficou marcada por personagens psicologicamente complexos, coisa difícil na profissão.

Ao afastar-se das câmaras, já entrando em anos, James Stewart havia cumprido uma filmologia clássica. Ainda que seu único Oscartenha sido produto da comédia Núpcias de Escândalo (1940), dirigida por George Cukor, Stewart trabalhou preferencialmente com quatro diretores. Todos grandes. Sob a batuta de Frank Capra atuou em Do Mundo Nada Se Leva (1938), A Mulher Faz o Homem (1939) e A Felicidade Não Se Compra (1946), entre outros. Foi o ator predileto de Alfred Hitchcock, com quem fez Festim Diabólico (1948), Janela Indiscreta (1954), O Homem que Sabia Demais (1956) e Um Corpo que Cai (1958).

 

Ator James Stewart com Kim Novak em “Um Corpo que Cai” (Foto: Reprodução)

 

Brilhou também em faroestes de Anthony Mann, como E o Sangue Semeou a Terra (1952), e do magistral John Ford, com quem filmou O Homem que Matou o Facínora (1962), ao lado de John Wayne e Lee Marvin.

Sujeito comum – A figura de Stewart foi fundamental para todos esses filmes. O crítico americano John Belton observou que as características físicas do ator, alto, magro e aparentemente frágil, fizeram dele um tipo singular nas telas. “Ele não era o estereótipo do herói do Oeste, mas deu forma à vulnerabilidade dentro do gênero, interpretando alguém, psíquica e moralmente falível.” Isso aparece não apenas em seus filmes de bangue-bangue, mas também nos suspenses de Hitchcock que o ator estrelou. Seu personagem de Janela Indiscreta, prostrado numa cadeira de rodas, tenta deter um crime sem a menor condição física para tanto. Em Um Corpo que Cai, Stewart vive um detetive precocemente aposentado por sofrer de acrofobia e que, mais tarde, se torna esquizofrênico.

Perfeito para viver personagens conflituosos, traumatizados ou paranóicos, o ator acabou se superando ao representar o sujeito comum, aquele sem grandes glórias na vida, que não é exatamente fracassado nem heróico. Talvez isso tenha um pouco a ver com sua personalidade fora das telas. Quando apareceu no cinema, não era particularmente bonito nem sequer tão charmoso quanto Gary Cooper, Clark Gable ou James Cagney. Seu trunfo era mais cerebral que estético.

Ao receber o prêmio honorário em 1980, ele disse sobre si mesmo para uma audiência coalhada de estrelas. “Eu lhes dou James Stewart, um cara de muita sorte. Este prêmio amarra uma fita em volta de uma vida inteira em que me deixaram ser pago para fazer aquilo que mais gosto.” Ainda na década de 80, quase surdo, ele liderou uma campanha contra os estúdios para tentar impedir a colorização dos filmes preto e branco, inclusive do clássico lançamento de Natal, “It’a a Wonderful Life”, um dos seus maiores sucessos.

Stewart se destacou por ter uma facilidade incomparável de verbalizar. Era capaz de articular ideias abstratas com clareza, qualidade rara entre os galãs de Hollywood e fundamental para o aprofundamento psicológico de seus personagens, coisa que em sua época ainda contava num filme americano. Mais que tudo, o ator foi quem ensinou ao cinema como encenar personagens mentalmente conflituosos sem recorrer a afetações. Sabia demais.

A morte de sua mulher, Gloria McLean, em fevereiro de 1994, afetou James Stweart imensamente. Depois disso, ele raramente foi visto deixando sua casa em Berverly Hills e sua saúde se deteriorou. Os amigos diziam que ele nunca se conformou. Eles haviam se casado em 1949 e tinham duas gêmeas, Judy e Kelly. Gloria, que também foi atriz, tinha um filho do primeiro casamento, Ronald, que foi morto na Guerra do Vietnam. Stweart sempre se referia a ele como “meu filho”.

 

Filmografia selecionada de James Stewart

 

“Uma Voz que Acusa” (The Murder Man, 1935), de Tim Whelan

 

“A Comédia dos Acusados” (After the Thin Man, 1936), de W.S. Van Dyke II

 

“Rose Marie” (idem, 1936), de W.S. Van Dyke II

 

“Do Mundo Nada se Leva” (You Can’t Take It With You, 1938), de Frank Capra *

 

“Que Papai Não Sabia” (Vivacious Lady, 1938), de George Stevens

 

“Atire a Primeira Pedra” (Destry Rides Again, 1939), de George Marshall

 

“A Mulher Faz o Homem” (Mr. Smith Goes to Washington, 1939), de Frank Capra

 

“Núpcias de Escândalo” (The Philadelphia Story, 1940), de George Cukor

 

“A Loja da Esquina” (The Shop Around the Corner, 1940), de Ernst Lubitsch

 

“Ouro do Céu” (Pot O’Gold, 1941), de George Marshall

 

“A Felicidade Não se Compra” (It’s a Wonderful Life, 1946), de Frank Capra *

 

“Cidade Mágica” (Magic Town, 1947), de William Wellman *

 

“Festim Diabólico” (Rope, 1948), de Alfred Hitchcock *

 

“E o Sangue Semeou a Terra” (Bend of the River, 1952), de Anthony Mann

 

“O Maior Espetáculo da Terra” (The Greatest Show on Earth, 1952), de Cecil B. DeMille *

 

“O Preço de um Homem” (The Naked Spur, 1952), de Anthony Mann

 

“Borrasca” (Thunder Bay, 1953), de Anthony Mann

 

“Música e Lágrima” (The Glenn Miller Story, 1954), de Anthony Mann

 

“Janela Indiscreta” (Rear Window, 1954), de Alfred Hitchcock *

 

“Região do Ódio” (The Far Country, 1955), de Anthony Mann

 

“Um Certo Capitão Lockhart” (The Man From Laramie, 1955), de Anthony Mann

 

“Comandos do Ar” (Strategic Air Command, 1955), de Anthony Mann

 

“O Homem que Sabia Demais” (The Man Who Knew Too Much, 1956), de Alfred Hitchcock *

 

“Águia Solitária” (The Spirit of St. Louis, 1957), de Billy Wilder

 

“Um Corpo que Cai” (Vertigo, 1958), de Alfred Hitchcock *

 

Adorável Feiticeira (Bell, Book and Candle, 1958), de Richard Quine

 

“Anatomia de um Crime” (Anatomy of a Murder, 1959), de Otto Preminger *

 

“Terra Bruta” (Two Rode Together, 1961), de John Ford

 

“O Homem que Matou o Facínora” (The Man Who Shot Liberty Valance, 1962), de John Ford *

 

As Férias do Papai (Mr. Hobbs Takes a Vacation, 1962), de Henry Koster

 

“A Conquista do Oeste” (How the West Was Won, 1963), de John Ford, Henry Hathaway *

 

“Crepúsculo de uma Raça” (Cheyenne Autumn, 1964), de John Ford

 

“Shenandoah, o Vale Heróico” (Shenandoah, 1965), de Andrew V. McLagen *

 

“Minha Querida Brigitte” (Dear Brigitte, 1965), de Henry Koster

 

“O Vôo do Fênix” (The Flight of the Phoenix, 1965), de Robert Aldrich

 

“Raça Brava” (The Rare Breed, 1966), de Andrew V. McLagen

 

“Cheyenne” (The Cheyenne Social Club, 1970), de Gene Kelly *

 

“O Último Pistoleiro” (The Shootist, 1976), de Don Siegel *

 

“Aeroporto” (Airport’77, 1977), de Jerry Jameson

 

“A Morte Inevitável” (The Big Sleep, 1978), de Michael Winner

 

“Direito de Morrer” (Right of Way, 1983), de George Schaefer

 

“Fievel Vai para o Oeste – Um Conto Americano 2″ (Fievel Goes West – An American Tale 2”, 1991), somente a voz do xerife Wyatt Earp

* lançados em vídeo no Brasil

James Stewart morreu em 2 de julho de 1997, de parada cardíaca, aos 89 anos, em sua casa em Beverly Hills, Califórnia, Costa Oeste do país.

(Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1997/7/03/mundo – FOLHA DE S.PAULO – MUNDO / Por CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA/DE WASHINGTON – São Paulo, 3 de julho de 1997)

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(Fonte: Veja, 9 de julho, 1997 – ANO 30 –N° 27 – Edição 1503 – Memória/ Por Celso Masson – Pág; 113)

(Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fol/cult –  FOLHA – Brasil Online / De Los Angeles – (Com informações da Reuter) – 02/07/97)

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América inocente se despede de seu maior símbolo

Lá se vai o ícone da América puritana e inocente. Cabem muitos outros adjetivos para o grande James Stewart, o mais popular ator de Hollywood. Na maioria dos filmes que vermos com James Stewart, a sensação continuará inalterável: a de estarmos vivendo os melhores anos de nossas vidas.

Muitas vezes confundido com a perseverança de seus personagens, Stewart foi símbolo de patriotismo, herói da aviação da Segunda Guerra, sempre insistindo em representar uma atônita e desengonçada figura traída na sua confiança frente a um mundo corrompido.

Apesar de já ter aparecido em filmes de William Wellman e Henry King, é “Do Mundo Nada se Leva” (“You Can’t Take It with You”), de Frank Capra, Oscar de melhor filme e direção de 1938, que marca a sua consagração. Com Capra, sua imagem passaria a ser confundida com a do otimismo por um sistema teria que dar certo.

O apogeu dessa investida é outro filme consagrador da dupla no ano seguinte, “A Mulher faz o Homem” (“Mr. Smith Goes to Washington”), em que um jovem caipira vai à capital para combater a corrupção dos senadores.

Foi o filme “Núpcias de Escândalo” (“The Philadelphia Story”), de George Cukorde, de 1940, que lhe valeu o único Oscar da carreira. Investindo no gênero do bom-mocismo displicente, a estatueta teria permanecido por gerações na pequena loja da família em Indiana, na Pensilvânia.

“Festim Diabólico” (“Rope”), de 1949, liga Stewart a Alfred Hitchcock pela primeira vez. É o cinema de estilo arrojado para um ator que passou a agregar a ironia na sua grandiloquência.

Esse primeiro filme colorido de Hitchcock foi mais uma marca indelével na carreira do ator de gestos nobres. Com Hitchcock, vem mais um clássico que confunde patriotismo e democracia. É o hoje premonitório “Janela Indiscreta”, execrado em 1954 pelos simpatizantes do comunismo no Leste Europeu. “Vertigo” ou “Um Corpo que Cai” é um Hitchcock-Stewart que será sempre achado na lista de melhores da história do cinema.

Poucos atores firmaram-se como James Stewart com a proeza de se fazer confundir com os filmes e suas épocas. A galeria de mestres do cinema que o dirigiu tem ainda John Ford, Don Siegel, Oto Preminger e Billy Wilder.

Para ele, e num tempo em que esse era o maior referencial da cultura popular, o cinema consagrou o triunfo do bem sobre o mal.

(Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1997/7/03/mundo – MUNDO / Por LEON CAKOFF DA EQUIPE DE ARTICULISTAS – São Paulo, 3 de julho de 1997)

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