James Lovelock, cientista e ambientalista britânico que ficou conhecido por ter feito o alerta precoce da crise climática e por sua “hipótese de Gaia”, em que apresenta a Terra como um ser vivo capaz de autorregulação

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James Lovelock, ambientalista e autor da teoria de Gaia

(© AFP – JACQUES DEMARTHON)

 

James Ephraim Lovelock (Hertfordshire, 26 de julho de 1919 – 26 de julho de 2022), cientista e ambientalista britânico, ficou conhecido por ter feito o alerta precoce da crise climática e por sua “hipótese de Gaia”, em que apresenta a Terra como um ser vivo capaz de autorregulação.

 

Autor influente entre ambientalistas e ecólogos nas décadas de 1970 e 1980, criador da teoria de Gaia. No meio científico, Lovelock foi sempre  uma figura controversa, mas que provocou reflexões importantes. A teoria de Gaia (batizada com o nome da deusa grega que representa a Terra) postulava que o planeta como um todo possui uma espécie de consciência própria, um mecanismo orgânico de autorregulação que atua para criar condições para a vida.

 

Por seu apelo místico, a hipótese atraiu inicialmente muitos adeptos do movimento Nova Era, que ajudaram a impulsionar a militância ambientalista no fim do século XX. No meio acadêmico, porém, até hoje a hipótese de Gaia enfrenta obstáculos, por ser considerada uma  abordagem falha para a questão do ponto de vista filosófico, atribuindo intenção a fenômenos da natureza.

 

O debate que a teoria provocou, porém, ajudou a consolidar a ideia de que existem de fato alguns mecanismos de autorregulação no planeta, alguns deles desencadeados atualmente pela mudança climática. No meio ambientalista, Lovelock, que é formado em medicina, é um dos grandes responsáveis pela ideia mais bem aceita de que a Terra pune os humanos quando estes destroem os ecossistemas.

A teoria de Gaia, criada na década de 1960, ganhou muita popularidade a partir da década seguinte, após a bióloga Lynn Margulis ajudá-lo a desdobrar e modernizar sua ideia. Após os anos 2000, uma forma menos esotérica da hipótese aumentou sua aceitação acadêmica.

 

No Brasil, um dos cientistas inspirados pelo mecanismo de Gaia é Antonio Nobre, pioneiro no estudo do transporte de umidade da Amazônia que ajuda a sustentar outros biomas do continente. Sua ideia ficou conhecida como teoria dos “rios voadores”.

 

A despeito da notoriedade que Lovelock ganhou ao longo das décadas, algumas de suas posições — particularmente a defesa das usinas nucleares — o colocaram em conflito com a comunidade ambientalista. Por ser uma fonte de energia que não emite CO2, ele acreditava que a energia atômica merecia um papel maior no combate ao aquecimento global, a despeito de outros risco que oferecia.

Também foi alvo de críticas a sua defesa da contracepção como forma de combate à mudança climática, para que a redução do crescimento populacional freasse a demanda por combustíveis fósseis no planeta. A declaração não foi bem recebida por ativistas dos direitos reprodutivos.

O legado que James Lovelock deixa, porém, vai além da elaboração da teoria de Gaia e da vocação para o polêmico. O cientista teve importantes trabalhos em infectologia, particularmente sobre a transmissão do vírus da gripe. Foi também pioneiro de estudos sobre criogenia, a preservação de organismos vivos por meio do congelamento.

Um dispositivo que o cientista inventou (um detector de moléculas por captura de elétrons) foi uma ferramenta importante na década de 1960 para estudo dos clorofluorcarbonos, gases que danificam a camada de ozônio.

 

Em uma vida dedicada à ciência, ao longo de sua carreira, Lovelock se apresentava como um “cientista independente”, gerando polêmica, às vezes, com a sua visão apocalíptica da crise climática. “Hoje já é tarde, tarde demais para salvar o planeta como o conhecemos”, explicou ele à AFP, em 2009, poucos meses antes da Conferência do Clima de Copenhague (COP15), que terminou em um fracasso retumbante.

 

“Esteja pronto para a mudança, adapte-se à mudança que está por vir. E prepare-se para enormes perdas humanas”, declarou ele, então uma posição minoritária no mundo científico.

 

Tarde demais para salvar o planeta

 

Ao longo de sua carreira, Lovelock se apresentava como um “cientista independente”, gerando polêmica, às vezes, com a sua visão apocalíptica da crise climática. “Hoje já é tarde, tarde demais para salvar o planeta como o conhecemos”, explicou ele à AFP, em 2009, poucos meses antes da Conferência do Clima de Copenhague (COP15), que terminou em um fracasso retumbante.

“Esteja pronto para a mudança, adapte-se à mudança que está por vir. E prepare-se para enormes perdas humanas”, declarou ele, então uma posição minoritária no mundo científico.

 

Nascido em 1919, Lovelock cresceu no sul de Londres entre as duas grandes guerras e trabalhou para o Instituto Britânico de Pesquisa Médica durante 20 anos. Na década de 1950, inventou o dispositivo usado para detectar o buraco na camada de ozônio.

 

Contratado pela NASA no início dos anos 1960, James Lovelock foi para a Califórnia para trabalhar em projetos que investigavam a possibilidade de vida em Marte.

Gaia

James Lovelock é conhecido por ter formulado, em 1970, a “hipótese de Gaia”, apresentando a Terra como um ser vivo capaz de autorregulação. Na época, sua teoria foi criticada por seus pares.

Defensor da energia nuclear

Seu apoio à energia nuclear e suas críticas às energias renováveis ​​– ele disse, em 2009, que elas “não tinham o menor impacto na luta contra o aquecimento global” – chocaram os ambientalistas.

“Indiscutivelmente, o cientista independente mais importante do século passado, Lovelock estava décadas à frente de seu tempo em seu pensamento sobre a Terra e o clima”, elogiou, por sua vez, o Museu de Ciências de Londres.

No imaginário público, Lovelock também deixa um legado importante, por ter contribuído para a ideia de que os humanos não são um elemento apartado da natureza.

“Nós somos a elite inteligente da vida animal na Terra, e quaisquer que sejam nossos erros, a Terra precisa de nós. Esta pode parecer uma afirmação estranha depois de eu ter dito que os humanos se tornaram um organismo patogênico para o planeta no século XX”, escreveu o cientista em seu livro “The Vanishing Face of Gaia”, de 2009. “Mas a Terra levou 2,5 bilhões de anos para evoluir um animal capaz de pensar e comunicar seus pensamentos. Se nós nos extinguirmos, ela tem poucas chances de evoluir outra espécie dessas”.

 

Na véspera de seu 101º aniversário, em 2020, Lovelock disse à AFP que estava gostando de ficar confinado com sua esposa no sul da Inglaterra, enquanto a pandemia de coronavírus varria o país. “Cresci como filho único, quase não vendo ninguém – não é uma grande dificuldade para mim”, revelou ele, acrescentando que o clima ensolarado e a falta de outras pessoas eram “desejáveis”. Apesar de suas tendências antissociais declaradas, Lovelock era infalivelmente educado e charmoso, de acordo com seus interlocutores.

 

Ele também disse que o mundo havia “exagerado” à reação à Covid-19. Na entrevista à AFP em junho de 2020, Lovelock relativizou a pandemia de coronavírus que “mata principalmente os da minha idade – os mais velhos – e eles já são muitos”, disse. “A mudança climática é mais perigosa para a vida na Terra do que quase qualquer outra doença concebível”, alertou.

 

James Lovelock faleceu nesta terça-feira (26), aos 103 anos. De acordo com a família, sua saúde havia se deteriorado após uma queda recente.

“James Lovelock morreu ontem em casa, cercado por sua família em seu 103º aniversário”, informaram os parentes do cientista em comunicado nesta quarta-feira. “Para o mundo, ele era conhecido como um pioneiro, profeta climático e inventor da teoria de Gaia”, acrescenta a mensagem, saudando “um marido amoroso, pai fabuloso, com curiosidade infinita e um senso de humor malicioso”.

“Que vida e que histórias! O gênio de Jim (seu apelido) fez dele o Forrest Gump da ciência, dando forma às primeiras ciências climáticas, a busca de vida em Marte, a descoberta do buraco na camada de ozônio, a concepção do mundo como um sistema autorregulador”, homenageou, em um tweet, seu biógrafo, o jornalista do Guardian, Jonathan Watts.

“Trabalhando para a Shell, NASA, MI6 (British Foreign Intelligence) e Hewlett Packard, ele tinha acesso e conhecimento. Quando alertou o mundo sobre a crise climática, falou com imensa autoridade”, sublinhou Watts, enfatizando a tensa relação que Lovelock teve com os movimentos ambientalistas.

Ele “trabalhou para grupos petrolíferos, conglomerados químicos e para o Exército. Era apaixonadamente pró-nuclear”, acrescentou o biógrafo.

(Fonte: Por Rafael Garcia — São Paulo – 

(Fonte: https://www.msn.com/pt-br/noticias/mundo – NOTÍCIAS / MUNDO / por RFI – 27/07/2022)

(Com informações da AFP)

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