Howard Phillips Lovecraft, escritor americano de romances e contos povoados por criaturas monstruosas

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Neuroses de Lovecraft impulsionaram horror inovador de sua ficção

Mestre do terror teve sua obra pouco celebrada em vida

 

 

Povoados por criaturas monstruosas, romances e contos do autor americano inspira trabalho de artistas e filósofos contemporâneos

 

Howard Phillips Lovecraft (Providence, 20 de agosto de 1890 – 15 de março de 1937), escritor americano de romances e contos povoados por criaturas monstruosas, foi um criador que inventou muitos dos conceitos consagrados de horror e ficção científica, autor de “O que Sussurrava nas Trevas”.

 

Nascido em Providence (Rhode Island), filho de um comerciante com a filha de um aristocrata descendente dos primeiros colonizadores dos EUA, Lovecraft cresceu abastado e isolado em meio a crises mentais dos pais. Adulto, defendia a tradição e a cultura anglo-saxã contra a modernidade e a intersecção entre povos.

 

Apesar de admirador do gótico e sobrenatural Edgar Allan Poe (1809-1849), ele expandiu suas próprias referências, que passavam também por Algernon Blackwood (1869-1951) e Ambrose Bierce (1842-1914), para arquitetar cuidadosamente um mundo singular.

 

Tornou-se um nome central da literatura de horror ao fazer de suas neuroses o impulso de uma obra inovadora e pessimista, na qual o ser humano é insignificante diante da natureza.

 

Histórias como “Um Sussurro nas Trevas” (1930), “Nas Montanhas da Loucura” (1931), “A Sombra de Innsmouth” (1931), “A Cor que Caiu do Espaço” (1927) e o incontornável “O Chamado de Cthulhu” (1926), entre várias outras, conquistaram centenas de leitores e chamaram a atenção para o potencial de Lovecraft.

 

Lovecraft tinha pensamentos racistas, xenófobos e eugenistas, expostos em várias dos milhares de cartas que trocou com interlocutores. Algo disso resvalou na sua ficção, especialmente depois da curta e desastrosa temporada em Nova York ao lado da esposa, Sonia Greene, com quem se casou em 1924.

 

Após algumas semanas de tranquilidade e empolgação com a nova vida no Brooklyn, Lovecraft passou a ter dificuldades financeiras. Recebia muito pouco pelas histórias que publicava em revistas “pulp”, disputava e perdia empregos para imigrantes e foi incapaz de se sustentar financeiramente após Greene buscar trabalho em outra cidade. Em 1926, ele retornou a Providence. Pouco tempo depois, ele e Greene, que já viviam distantes, se separaram.

 

Um mundo de monstros de proporções gigantescas com tentáculos saindo da cabeça e milhões de anos de idade. Um mundo totalmente distante do que chamamos de humano, com seres que não podem ser classificados como animais ou vegetais, nem mesmo se pode assegurar se estão vivos ou mortos. Um mundo com gosmas pegajosas, vapores malignos, odores repulsivos, mortes gratuitas. 

 

H.P. Lovecraft foi autor de contos e novelas como “O Chamado de Cthulhu” e “Nas Montanhas da Loucura”, o escritor americano publicava em revistas populares, as chamadas pulp fictions, como a “Weird tales”. Depois de sua morte, em 1937, apesar de se tornar cada vez mais popular, sua obra não passou pelo crivo de críticos como o americano Edmund Wilson, que declarou: “Lovecraft não era um bom escritor”.

 

Anos depois, porém, Lovecraft veio a ser considerado um continuador e aprofundador da literatura de horror encontrada em Edgar Allan Poe. Também se transformou em referência para autores e pensadores aceitos pela chamada “alta cultura”, como Jorge Luis Borges, Gilles Deleuze e Félix Guattari. Na década de 1990, Michel Houellebecq, antes de escrever seus livros mais famosos e ganhar os principais prêmios literários franceses, escolheu o americano para ser o protagonista do seu ensaio “Contre le monde, contre la vie” (“Contra o mundo, contra a vida”).

 

Mas Lovecraft só entrou em definitivo no cânone literário em 2005, quando sua obra foi publicada pela prestigiada coleção Library of America, uma espécie de selo de aprovação.

 

O que fez muitos intelectuais torcerem o nariz para Lovecraft foi o fato de ele ser um escritor de fantasia que funda uma mitologia, como J. R. R. Tolkien em “O Senhor dos Anéis”, mas ancorada no horror e na estranheza. Em vez de hobbits, elfos e orcs, seres ainda aparentados com os homens, encontramos shoggoths, mi-gos, os grandes antigos — nada que seja vagamente humano. São seres disformes, horríveis e de outras eras geológicas que parecem saídos de um bestiário.

 

Após gerações de filósofos que pensavam a partir da perspectiva do homem, o escritor americano, nascido na cidade de Providence, em agosto de 1890, teria conseguido retratar a alteridade extrema, ou seja, aquilo que seria radicalmente oposto ao humano. Teria indicado uma saída para a antropomorfização do mundo, o que seria um alento para uma geração que tenta pensar além do homem.

 

“Na ficção de Howard Phillips Lovecraft, apenas coisas inverossímeis acontecem, sem nenhuma referência à trivialidade da vida cotidiana”, diz o texto de apresentação das coletâneas de contos “A maldição de Sarnath”, “À procura de Kadath” e “O horror em Red Hook”, relançadas agora pela editora Iluminuras com novo projeto gráfico.

 

Mesmo ainda longe de ser unanimidade na crítica literária, Lovecraft despertou nos pensadores a necessidade de refletir sobre novas questões cada vez mais urgentes. Não mais pelo espanto, sentimento associado desde os gregos com esse “despertar”, mas pelo horror.

 

Pouco celebrado em vida, tornou-se um nome central da literatura de horror ao fazer de suas neuroses o impulso de uma obra inovadora e pessimista, na qual o ser humano é insignificante diante da natureza.

Morto em 1937, aos 46 anos, Lovecraft teve pouco reconhecimento em vida. É um dos autores mais estudados e referenciados da literatura norte-americana. Não só pelas obras que escreveu (cerca de 70 ficções, entre contos e novelas), mas também por sua presença constante como fonte em filmes, livros e um conjunto inesgotável de derivações.

(Fonte: http://oglobo.globo.com/cultura/livros – CULTURA / LIVROS / por Ronaldo Pelli / Especial para O GLOBO – 03/01/2015)

(Fonte: Veja, 11 de julho de 1973 – Edição 253 – LITERATURA/ Por Geraldo Galvão Ferraz – Pág: 82)

(Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2020/08 – ILUSTRÍSSIMA / Neuroses de Lovecraft impulsionaram horror inovador de sua ficção / Por Marcelo Miranda – 22.ago.2020)

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