Hans Filbinger, importante membro da União Democrata Cristã, o principal partido de oposição, a plano federal, na Alemanha, e governador do Estado alemão de Baden-Württemberg

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Político alemão foi acusado de “relativizar crimes do regime nazista”

 

Hans Karl Filbinger (Mannheim, Alemanha, 15 de setembro de 1913 – Friburgo em Brisgóvia, Alemanha, 1° de abril de 2007), importante membro da União Democrata Cristã, o principal partido de oposição, a plano federal, na Alemanha, e governador do Estado alemão de Baden-Württemberg.

 

Hans Filbinger, como juiz da Marinha de Adolf Hitler, da Segunda Guerra Mundial, em 1945, fora o autor de quatro condenações à morte aplicadas contra marinheiros alemães acusados de deserção – sendo que, em pelo menos um dos casos, além de juiz ele foi também o comandante da execução.

 

Normalmente, em tempo de guerra, a condenação à morte contra desertores não é considerada uma pena cruel e, muito menos um crime. Pesava, contudo, contra Filbinger, um sério agravante: as quatro condenações foram lançadas apenas poucos meses antes do fim da Segunda Guerra Mundial – uma época em que nem o próprio alto comando alemão alimentava mais esperanças de uma possível vitória e quando, consequentemente, o moral da tropa era baixíssimo e o número de deserções, muito elevado.

 

 

 

 

Governador de Baden-Württemberg desencadeia polêmica ao chamar seu antecessor de “opositor do nazismo”. O político em questão foi afastado do cargo em 1978, após ser responsabilizado pela morte de vários desertores.

 

O democrata-cristão Hans Filbinger governava o estado de Baden-Württemberg, no sul da Alemanha, desde 1966, quando explodiu um escândalo sobre sua responsabilidade, como juiz da Marinha durante o regime nazista, pelo assassinato de vários desertores por ocasião do fim da Segunda Guerra.

 

O agravante é que Filbinger manteve sua postura, como juiz, mesmo quando o fim da guerra e do regime nazista já era iminente. Em 1978, pouco antes de sua renúncia forçada pelos escândalos, o ex-governador ainda chegou a comentar: “O que antigamente era justo não pode ter se tornado injusto hoje”.

 

 

Polêmica nacional

 

 

Na última semana, por ocasião da morte de Hans Filbinger (ocorrida no último 01/04), o atual governador de Baden-Württemberg, Günther Oettinger, fez um discurso em memória do político de seu partido. Entre outros, Oettinger afirmou que Filbinger “não foi um nazista” e sim “um opositor do regime nazista”.

 

As declarações do governador desencadearam uma verdadeira polêmica na Alemanha, movendo políticos dos mais variados partidos, incontáveis notícias na imprensa nacional e a indignação de organizações como o Centro Simon Wiesenthal, que chegou a pedir a renúncia do atual governador.

 

“Constrangimento e atrevimento”

 

 

Até mesmo a chanceler federal, Angela Merkel, entrou na questão, ao lembrar em telefonema a Oettinger que, por ocasião da morte de um político, é necessário lembrar os bons feitos, mas também as máculas de uma biografia.

 

O líder da bancada verde no Parlamento, Volker Beck, disse em entrevista ao jornal Netzzeitung, que o governador deveria “retirar suas declarações e demonstrar, com uma palavra de arrependimento, o respeito necessário às vítimas do nazismo”. Já o vice-presidente do Parlamento, o social-democrata Wolfgang Thierse, chamou as palavras do governador de “constrangedoras e até atrevidas”.

 

Carta aberta

 

 

Cercado por fogo cerrado, Oettinger enviou uma carta aberta a seus críticos, afirmando lamentar “os mal-entendidos”. O político revidou no documento sua suposta intenção de ter querido, com o discurso, relativizar os crimes cometidos sob o nazismo.

 

“Não tive de forma alguma essa intenção. Se houve mal-entendidos neste sentido, lamento muitíssimo”, escreveu o governador. Em entrevista ao jornal popular Bild am Sonntag, o secretário-geral do Partido Social Democrata (SPD), Hubertus Heil, declarou que tais palavras “ainda são insuficientes”.

 

 

Ultraje aos membros da resistência

 

 

Além dos políticos, vários historiadores entraram na discussão. Hans Mommsen, por exemplo, afirmou em entrevista ao jornal Rheinische Post, que não se pode de forma alguma caracterizar o falecido Filbinger como avesso à ideologia nazista, uma vez que “ele foi um cúmplice convencido do que fazia e que manteve esta convicção até mesmo quando o regime desmoronou”.

 

A tentativa de incluir o nome de Filbinger na lista de opositores do nazismo, segundo Mommsen, é um “ultraje aos membros da resistência alemã” contra o regime.

 

(Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/folha/dw – da Deutsche Welle, na Alemanha – 14/04/2007)

 

 

 

 

 

 

(Fonte: Revista Veja, 16 de agosto de 1978 – Edição 519 – ALEMANHA – Pág: 44)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O pouco conhecido ‘tribunal de Hitler’

Juízes alemães condenaram mais de 5 mil pessoas à morte entre 1934 e 1945

Imagem da exposição sobre o “tribunal popular”, que mostra como condenações à morte eram feitas durante o nazismo (Foto: KUvD/Stiftung Topographie des Terrors)

(Fonte:https://oglobo.globo.com/sociedade/historia – SOCIEDADE / HISTÓRIA / Por Graça Magalhães-Ruether – 02/07/2018)

O “tribunal de Hitler”: juízes alemães condenaram mais de 5 mil pessoas à morte entre 1934 e 1945

Setenta e três anos anos depois do fim da Segunda Guerra, pela primeira vez uma exposição traz detalhes do tribunal político instituído por Adolf Hitler, o chamado “tribunal popular” (Volksgerichtshof), que entre 1934 e 1945 proferiu mais de 15 mil sentenças, com 5.200 pessoas condenadas à morte. Segundo a curadora, Claudia Steur, o objetivo da mostra, que fica aberta até o fim de outubro em Berlim, é “causar consternação” por um capítulo terrível de injustiças que continuaram a acontecer mesmo depois de 1945. Poucos dos 577 juízes e promotores que fizeram parte dos tribunais foram punidos, e pelo menos metade seguiu a carreira com sucesso.

 

Um juiz, por exemplo, chegou a ser condenado a dez anos de prisão, mas foi absolvido em segunda instância. O presidente do tribunal popular, Roland Freisler, responsável pessoalmente por centenas de sentenças, morreu durante um bombardeio em fevereiro de 1945, um mês antes do fim da guerra.

 

Andreas Nachama, diretor da Fundação Topografia do Terror, onde acontece a exposição, lembra que os juristas da era nazista conseguiram limpar sua imagem no pós-guerra, como se não tivessem apoiado de forma tão intensa o regime:

 

“Quando a Segunda Guerra acabou, tinham entre 40 e 50 anos e fizeram carreira na Alemanha Ocidental.”

 

Nem os Estados Unidos manifestaram grande interesse em perseguir os juristas. Já no início dos anos 1950, os novos inimigos de Washington eram os comunistas da União Soviética.

 

Assim, quase todos viveram bem financeiramente. A viúva de Roland Freisler processou a Alemanha Ocidental para receber sua pensão, argumentando que, se o marido não tivesse morrido ao final da guerra, poderia ter apoiado a família com recursos.

 

Antes de condenar as vítimas à morte, era comum que os juízes trabalhassem também na destruição psicológica dos réus. O ex-chanceler Helmut Schmidt, oficial da Wehrmacht que chegou a prestar serviços ao tribunal de Freisler, escreveu que a humilhação era parte do procedimento, “como se a morte não bastasse”. Anos mais tarde, esse mesmo oficial se tornou um dos chefes de governo mais queridos da Alemanha Ocidental.

 

Os juízes usavam uma toga vermelha, e a sala do julgamento era decorada com faixas vermelhas e a cruz suástica, como revelam fotos e documentos. Em áudios originais de seus pronunciamentos, percebe-se que alguns, como Freisler, chegavam a imitar o estilo teatral de Hitler.

 

Inimigos do Regime eram perseguidos

 

O tribunal era um dos pilares do regime de opressão. Quando assumiu o poder, no final de janeiro de 1933, Hitler foi eleito por uma população fascinada com as suas promessas de prosperidade e grandeza da Alemanha e só aos poucos o regime do terror foi instaurado. A condenação à morte de apenas um dos supostos envolvidos no incêndio do Reichstag, o prédio do Parlamento, no início dos anos 1930, deixou o Führer furioso. A Justiça era influenciada pelo regime, mas não estava inteiramente tomada. Assim, o tribunal que deveria cuidar apenas dos casos de traição nacional foi fundado. Pouco depois, sua área de atuação foi ampliada: todos aqueles que eram considerados inimigos do regime eram condenados.

 

As vítimas eram presas, julgadas e executadas em tempo recorde, como foi o caso dos irmãos Hans e Sophie Scholl, que faziam parte do grupo de estudantes “Rosa branca”, de Munique, que distribuía folhetos com frases críticas ao regime. Freisler e seus ajudantes embarcaram para Munique, onde o julgamento foi acompanhado de muita propaganda e terminou em sentença de morte.

 

Em julho de 1944, depois da mais importante tentativa de matar Hitler, o ministro da propaganda Joseph Goebbels escreveu em seu diário: “Mesmo aqueles que não tiveram uma posição clara devem ser condenados à morte”. Os julgamentos depois do atentado levaram à condenação de 50 pessoas à morte.

 

Segundo Claudia Steur, o vermelho está presente em muitas partes da exposição não só porque esta era a cor da toga dos “juristas terríveis”, mas também porque o tom mostra ao visitante como o tribunal tornou-se um instrumento do terror que tinha o sangue das vítimas em suas mãos.

 

Nem só os juízes do tribunal popular tiveram pouca preocupação em ocultar seu passado depois da guerra. Hans Filbinger era juiz da Marinha e nazista tão convicto que no final da guerra continuou condenando à morte jovens que haviam desertado. Depois de 1945, ele chegou a ser governador do estado de Baden Württemberg e só renunciou quando, em 1972, seu passado nazista causou uma grande polêmica.

 

Philipp Gassert, autor de uma biografia de Kurt Georg Kiesinger, o ex-nazista que foi chanceler nos anos 1960, lembra que depois da guerra havia um silêncio sobre o que cada um havia feito nos 12 anos de ditadura:

 

“Com o movimento de 1968, os alemães começaram a debater o passado nazista dos seus pais.”

(Fonte: http://www.osul.com.br – CULTURA – 2 de julho de 2018)

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