Gilberto Chierice, professor e pesquisador da USP que desenvolveu a ‘pílula do câncer’

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Pai da fosfoetanolamina

Professor aposentado da USP que desenvolveu a ‘pílula do câncer’

 

O pesquisador Gilberto Orivaldo Chierice. (Foto: Geraldo Magela/Agência Senado / Estadão)

 

Fosfoetanolamina foi produzida e distribuída por 20 anos na Universidade de São Paulo.

Professor da USP que criou ‘pílula do câncer’

 

Substância foi produzida e distribuída por 20 anos na universidade.
Gilberto Orivaldo Chierice (Rincão (SP), – São José do Rio Preto (SP), 19 de julho de 2019), pesquisador da USP que desenvolveu a ‘pílula do câncer’, era professor aposentado do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP), em São Carlos.
Chierice ficou conhecido no Brasil por desenvolver a fosfoetanolamina sintética, conhecida popularmente como a “pílula do câncer”.
O pesquisador Gilberto Orivaldo Chierice, conhecido por ter desenvolvido a fosfoetanolamina sintética, droga buscada por seus supostos efeitos contra o câncer, era professor aposentado do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP), campus daquela cidade.

Chierice fabricou e distribuiu durante 20 anos a fosfoetanolamina, conhecida como “pílula do câncer”, em seu laboratório no Instituto de Química de São Carlos. Sem testes clínicos que comprovassem sua eficácia, a droga, sintetizada a partir da monoetanolamina e ácido fosfórico, ganhou fama como eficaz contra vários tipos de câncer. Ele chegou a distribuir 50 mil cápsulas por mês, até que, em 2016, notificada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a USP suspendeu a produção e distribuição das cápsulas.

A medida desencadeou uma corrida de pacientes e familiares à Justiça, obtendo liminares para que o fornecimento da fosfoetanolamina fosse continuado. Em abril daquele ano, a então presidente Dilma Rousseff (PT) chegou a sancionar uma lei para que a medicação fosse fornecida para pacientes com tumores malignos. Em maio do mesmo ano, por 6 votos a 4, o Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu a lei e as decisões judiciais que obrigavam o governo a fornecer a substância.

Na época, o governo paulista havia autorizado uma pesquisa clínica para para testar a eficácia da ‘pílula do câncer’. Meses depois, o Instituto do Câncer suspendeu os trabalhos porque a substância não apresentou resultados significativos. A suspensão dos testes foi bastante criticada por grupos criados em redes sociais que defendiam a eficácia da fosfoetanolamina. Uma das alegações foi a de que a substância usada nos testes não era a mesma desenvolvida pelo professor Chierice. Desde então, o laboratório da USP não voltou a produzir a ‘pílula do câncer’.

Trajetória

Nascido em Rincão (SP), Chierice se formou em química pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da Unesp de Araraquara (1969), realizou mestrado (1973) e doutorado (1979) em química pela USP, na capital. Em 1976, ingressou no quadro docente da USP de São Carlos e se aposentou em 2013 como professor titular.

No final dos anos 1980, ele desenvolveu um polímero a partir do óleo de mamona, que era perfeito para fabricar próteses bem mais baratas que as de silicones e que também não causavam rejeição. O trabalho que deu a ele, em 1996, reconhecimento como um dos 100 melhores cientistas brasileiros dos últimos 100 anos.

Em nota, a diretoria do Instituto de Química da USP lamentou a morte do professor. “Foram 37 anos de trabalho dedicados ao Instituto, desde seus primeiros anos no curso de bacharelado em química, até a consolidação do programa de pós-graduação em química analítica, do qual foi orientador de dezenas de mestres e doutores. Os professores, alunos e funcionários do IQSC expressam suas condolências aos familiares e amigos do Prof. Gilberto e esperam que todos consigam encontrar amparo neste momento de tristeza”.

Pai da fosfoetanolamina

Cápsulas de fosfoetanolamina produzidas desde os anos 90 no Instituto de Química de São Carlos — (Foto: Cecília Bastos/USP Imagem)

Por 20 anos Chierice produziu e distribuiu gratuitamente a fosfoetanolamina. A pesquisa em seu laboratório do IQSC/USP chegou a distribuir 50 mil cápsulas por mês, mesmo sem testes clínicos comprovados em humanos.

Em agosto de 2015, o G1 mostrou que pacientes com câncer estavam entrando na Justiça para obter as cápsulas.

Segundo o próprio professor, a fosfoetanolamina é a combinação de uma substância muito comum, utilizada em muitos xampus de cabelo, chamada monoetanolamina, e o ácido fosfórico, que é um conservante de alimentos. Juntas elas geram uma substância que é um marcador de células diferenciadas, que são as consideradas células cancerosas.

Em entrevista ao G1, ele afirmou que a substância curava o câncer. “A fosfoamina está aí, à disposição, para quem quiser curar câncer”, disse na ocasião.

Distribuição suspensa

Em 2015, o assunto gerou polêmica envolvendo a USP e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que proibiram a distribuição da fosfoetanolamina e pacientes que entraram na Justiça para ter direito ao composto.

Em dezembro, o Instituto do Câncer de São Paulo (Icesp) anunciou a coordenação da pesquisa para testar a substância.

A universidade fechou o laboratório em abril de 2016 e suspendeu a distribuição até que obtivesse o registro junto à Anvisa que, por sua vez disse que não identificou processo formal para a avaliação do produto em seus registros. Segundo a agência, para obter o registro, além da requisição, era preciso apresentar documentos e análises clínicas, o que não constava da pesquisa.

Em abril de 2016, apesar de a Anvisa ver com preocupação a liberação sem garantia de eficácia e segurança, a então presidente Dilma Rousseff (PT) sancionou a lei que autorizava o uso da substância por pacientes diagnosticados com tumores malignos.

Em maio do mesmo ano, por 6 votos a 4, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu suspender a lei e manteve suspensas decisões judiciais que obrigavam o governo a fornecer a substância.

Em março de 2017, o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) suspendeu as verbas para a pesquisa e a inclusão de novos pacientes nos testes clínicos com a fosfoetanolamina devido à ausência de “benefício clínico significativo” nas pesquisas realizadas até então.

Em outubro de 2017, a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) abriu uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que, em abril de 2018, concluiu que houve falhas na eficácia, na pesquisa e nos testes de segurança do composto e recomendando que novos estudos fossem feitos antes que ela fosse distribuída.

Em junho de 2019, a Universidade Federal do Ceará (UFC) começou os primeiros testes da chamada pílula do câncer em seres humanos. Ao todos, 64 voluntários vão participar do experimento, realizado pela primeira vez no Brasil.

 Gilberto Chierice faleceu aos 75 anos, em 19 de julho de 2019, no Hospital Instituto de Moléstias Cardiovasculares, em São José do Rio Preto (SP).
A causa da morte foi infarto do miocárdio.
(Fonte: https://g1.globo.com/sp/sao-carlos-regiao/noticia/2019/07/19 – SÃO CARLOS E ARARAQUARA / REGIÃO / NOTÍCIA / Por G1 São Carlos e Araraquara – 19/07/2019)
(Fonte: https://www.terra.com.br/noticias/brasil/cidades – NOTÍCIAS / BRASIL / CIDADES / Por José Maria Tomazela – 19 JUL 2019)
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