Georg Grimm, pintor e desenhista alemão que chegou ao Brasil em 1874

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Johann Georg Grimm (Kempten, Alemanha, 22 de abril de 1846 – Palermo, Itália, 24 de dezembro de 1887), pintor e desenhista alemão que chegou ao Brasil em 1874, aos 28 anos de idade, em busca de alento para seus pulmões debilitados. 

Grimm lutou com as maiores dificuldades, até poder transferir-se para Munique, onde frequentou a Academia de Belas Artes.

O que o teria feito deixar a Alemanha e após sete anos de viagens pelo Mediterrâneo e Oriente Próximo, aportar em terras brasileiras é motivo de especulação. O mais provável é que tenha saído de sua terra natal devido à forte perseguição religiosa iniciada por Bismarck contra os católicos. Essa medida provocou um verdadeiro êxodo de intelectuais e artistas, revoltados com o autoritarismo. Sabe-se que, em 1870, o pintor engajou-se na guerra Franco-Prussiana como combatente. Data desse período o início de sua amizade com Thomas Georg Driendl

A Itália e o Mediterrâneo, sem dúvida, foram um forte atrativo para esse jovem cheio de vigor, interessado em buscar outros cenários para inspirar suas pinturas. Os invernos rigorosos da Alemanha, a escassa luz do sol, a Floresta Negra com cores sombrias – todos esses pontos reunidos – devem ter sido argumentos bem decisivos na hora de fazer as malas. A maior bagagem que levou de sua terra, essa Alemanha que ele nunca mais voltaria a ver, foi incontestavelmente o aprendizado rigoroso da arte da pintura. A disciplina e a exigência de muitos mestres deixaram marcas profundas em sua personalidade.

Em 1868, quando iniciou seus estudos em Munique, o ambiente artístico alemão era essencialmente romântico. Inebriado pela sensação de liberdade que facilitava infindáveis pesquisas de efeitos novos, os artistas produziam em larga escala, procurando diferentes motivos. A geração de Grimm foi a de pintores plein air, ao mesmo tempo românticos e realistas, da segunda metade e fim do século passado. Na Europa Central, foram os que sucederam aos Nazarenos; na França foram os precursores do Impressionismo, com várias tendências, de Corot aos pintores da Escola de Barbizon.

Em 1878, o estudo das artes no Brasil, apenas iniciava-se, cercado de cuidados para que seus alunos não saíssem dos moldes Acadêmicos. Qualquer iniciativa, fora desses parâmetros era interceptada e nada deveria perturbar a ordem reinante na Academia Imperial de Belas Artes, que se mantinha fiel ao estilo francês tradicional. Os artistas brasileiros ao voltarem da Europa, poucas notícias traziam das inovações por lá ocorridas.

Em 1882, após quatro anos de residência e elaboração de trabalhos no Brasil, Grimm expôs suas telas no Liceu de Artes e Ofícios, obtendo enorme sucesso. O público habituado às cores sombrias e temas Neoclássicos deslumbrou-se com a exuberância que percebeu nos quadros. Grimm foi aclamado pela crítica e brotou daí a necessidade, quase imperiosa, de passar aos pintores brasileiros essas técnicas tão pouco divulgadas por aqui.

Com a entrada de Grimm para o corpo docente da Academia Imperial de Belas Artes, foi dado um grande passo para o desabrochar da pintura de paisagem no Brasil.

O mestre alemão passou a ocupar este cargo devido ao reconhecimento público do valor de suas obras. Teve como mérito principal apresentar a paisagem, antes simples pano de fundo, como um dos gêneros mais ricos e inspiradores, despertando interesses. Logo em seguida à sua entrada na Academia assume como mestre, a cadeira de Paisagem, Flores e Animais e leva seus alunos para fora das salas, afim de que sintam a natureza, emocionem-se e passem para a tela seus sentimentos e emoções. Isto é uma atitude romântica.

Começou assim, a procura de rumos novos, a fuga do que era imposto, frio e apenas copiado de estampas, para entrar numa dimensão nova.

No entanto, as obras desses primeiros paisagistas não abandonaram completamente os traços acadêmicos. A própria pintura de Grimm tem suas bases no desenho, na linha. A visão linear procura o sentido do objeto no seu contorno; distingue nitidamente uma forma da outra. A linha acentua as margens da forma, os limites firmes aos quais tudo se adapta, se subordina. É, pois uma concepção de forma fechada, onde a clareza absoluta e uma certa autonomia se fazem sentir.

Em 1885, de passagem pelo colégio e seminário do Caraça, um casarão encravado na Bacia do Caraça, a 120 quilômetros de Belo Horizonte, onde passaram mineiros ilustres como Afonso Pena (pai e filho), Arthur Bernardes, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada e vários senadores do Império e da República, Grimm pintou a Paisagem do Caraça, onde retratou o colégio entre as serras que o cercam. Além de um exuberante e autêntico São Vicente de Paula (1878).

A permanência de Georg Grimm no Brasil não chegou a dez anos, porém sua atuação foi das mais marcantes. Como professor, impôs o trabalho incansável e uma atitude profissional rígida; como pintor e viajante errante, procurou a natureza como modelo, afastando-se dos padrões. Simples e autêntico, libertou a paisagem, definindo-a como pintura ao ar livre, por excelência.

 

(Fonte: Veja, 10 de agosto de 1983 – Edição 779 – ARTE/ Por A. C. SCARTEZINI – Pág: 141)

(Fonte: http://www.dezenovevinte.net/artistas – Isabel Sanson Portela)

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