Geneton Moraes Neto, escritor e jornalista apaixonado pelo exercício da reportagem

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Escritor e documentarista com carreira internacional na TV, passou por jornais, foi editor do ‘Jornal Nacional’ e do ‘Fantástico’ e apresentou por 10 anos o programa de entrevistas ‘Dossiê Globonews’

Geneton, que se dizia avesso às câmeras e procurava sempre que possível aparecer com discrição, acabou se tornando um dos rostos mais admirados e bem-sucedidos do jornalismo televisivo do Brasil - (Foto: José Paulo Cardeal/20-03-2016)

Geneton, que se dizia avesso às câmeras e procurava sempre que possível aparecer com discrição, acabou se tornando um dos rostos mais admirados e bem-sucedidos do jornalismo televisivo do Brasil – (Foto: José Paulo Cardeal/20-03-2016)

 

Com mais de 40 anos de carreira jornalística, trabalhava na Globo desde a década de 1980

Geneton Moraes Neto (Caruaru, 13 de julho de 1956 – Rio de Janeiro, 22 de agosto de 2016), escritor e jornalista apaixonado pelo exercício da reportagem

Com mais de 40 anos de carreira jornalística, trabalhava na Globo desde a década de 1980. Passou pelo RJTV, Jornal da Globo, Jornal Nacional e Fantástico. Produzia reportagens especiais para a GloboNews havia cerca de 10 anos e, até abril de 2016, mantinha um blog no G1.

Geneton entrevistou seis presidentes da República, três astronautas que pisaram na Lua, os prêmios Nobel Desmond Tutu e Jimmy Carter, os dois militares que dispararam as bombas sobre Hiroshima e Nagasaki, a mais jovem passageira do Titanic e o assassino de Martin Luther King, entre muitos outros personagens históricos.

“Nasci numa sexta-feira 13, num beco sem saída, numa cidade pobre da América do Sul. Tinha tudo para fracassar. Fracassei.” O ano era 1956, a cidade era o Recife, e o fracasso era só uma tirada de humor e modéstia — características sempre citadas por colegas e amigos — de um mestre do jornalismo que, em seus 60 anos de vida, ganhou o Brasil e o mundo com uma visão original e eclética dos fatos e uma predileção pela convergência entre jornalismo e História. “Todo profissional precisa de uma bandeira. Escolhi uma: fazer jornalismo é produzir memória. De certa forma, é o que me move” — registrou, em entrevista para o acervo da TV Globo.

Numa de suas reportagens mais citadas, foi testemunha ocular dos dois turnos da primeira eleição livre desde o fim da URSS, em junho de 1996. Naqueles dias, Geneton seguiu os passos de Mikhail Gorbatchev, artífice da transição e, como correspondente da emissora, realizou uma série de entrevistas com diversas peças-chave do ancien régime. A aventura, registrada anos depois no livro “Dossiê Moscou” (um dos vários títulos que lançou narrando em tom informal os bastidores da profissão), reforçaria sua marca de jornalista obstinado.

Em sua carreira de entrevistador, colecionaria uma longa lista de encontros, que inclui seis presidentes da República, três astronautas que pisaram na Lua, os prêmios Nobel Desmond Tutu e Jimmy Carter, os dois militares que dispararam as bombas sobre Hiroshima e Nagasaki, a mais jovem passageira do Titanic e o assassino de Martin Luther King, páginas de uma notável galeria de perfis.

Num de seus trabalhos de campo mais pungentes, embrenhou-se pelo sertão e focalizou um grupo de jovens estudantes marcados pela tradição musical brasileira em sua vertente clássica, com uma citação da câmera de Glauber Rocha em “Deus e o diabo na terra do Sol” transposta para uma passagem da reportagem em que uma menina canta a famosa “Aria” das Bachianas de Villa-Lobos e a imagem gira, como na famosa cena de Corisco.

Dono de um estilo discreto, dizia-se avesso às câmeras. Frequentemente aparecia de perfil ou mesmo oculto, e algumas de suas reportagens eram narradas por terceiros. Atrás das câmeras, por sinal, desenvolveu a vertente de editor, atuando no “Jornal Nacional”, e de comando, como editor executivo do “Jornal da Globo”. Em 1995 passou a chefiar, junto com Ernesto Rodrigues, o escritório da Globo em Londres, período em que foi também correspondente do jornal O GLOBO. Na emissora do Jardim Botânico, em que trabalhou desde o início dos anos 1980, também teve atuação destacada no “Fantástico”, chegando a editor-chefe.

Antes de se tornar um homem de televisão, escreveu nas páginas do jornal “O Estado de São Paulo”, para o qual se transferira depois de iniciar a carreira no “Diário de Pernambuco”. Colaborou também com o caderno “Ideias”, do “Jornal do Brasil’’. Em 2011 interromperia a carreira na TV para dirigir o documentário em três partes “As canções do exílio/Uma labareda que lambeu tudo”, exibido pelo Canal Brasil, onde conta as histórias do exílio de Caetano Veloso e Gilberto Gil durante o regime militar. A ideia partiu de uma foto em que, com apenas 15 anos, aparece entrevistando os músicos baianos para o “Diário de Pernambuco”. No ano seguinte, recebeu a Medalha João Ribeiro concedida anualmente pela Academia Brasileira de Letras (ABL) a personalidades que se destacam na área de cultura.

Além de reportagens, Geneton Moraes Neto publicou diversos livros, dentre eles “Hitler/Satalin: o Pacto Maldito”, “Nitroglicerina Pura”, “O Dossiê Drummond: a Última Entrevista do Poeta”, “Dossiê Brasil”, “Dossiê 50: os Onze Jogadores Revelam os Segredos da Maior Tragédia do Futebol Brasileiro”, “Dossiê Moscou, “Dossiê História: um repórter encontra personagens e testemunhas de grandes tragédias da história mundial” e “Dossiê Gabeira”.

O jornalista também produziu documentários como o “Canções do Exílio”, exibido no Canal Brasil, com depoimentos de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Jorge Mautner e Jards Macalé, sobre o período em que moraram em Londres, e “Garrafas ao Mar: a Víbora Manda Lembranças”, que reúne entrevistas que ele gravou nos 20 anos de convivência com o jornalista Joel Silveira, um dos maiores repórteres brasileiros.

A partir de 2013, a veia documental encontrou-se com a pulsão televisiva ao dirigir “Garrafas ao mar”, primeiro documentário de longa-metragem produzido pela Globonews, dedicado àquele que é considerado o maior repórter da história do jornalismo brasileiro: Joel Silveira. O filme reúne entrevistas que Geneton gravou com Joel em duas décadas de convivência. No mesmo ano, pela emissora, dirigiu “Dossiê 50: Comício a favor dos náufragos”, um painel audiovisual dos onze jogadores que enfrentaram o Uruguai na épica derrota da final da Copa do Mundo de 1950.

Em 2015 ganhou o prêmio especial do júri do 25º Festival Ibero-Americano de Cinema, realizado em Fortaleza, por “Cordilheiras no mar: a fúria do fogo bárbaro”, sobre as relações de Glauber Rocha com o projeto de distensão política de Ernesto Geisel. Geneton lançaria uma dezena de livros (um deles traz a última entrevista de Carlos Drummond de Andrade), a maioria de dossiês com aprofundamentos de suas reportagens, sobre as quais escrevia num blog de “confissões”.

Geneton Moraes Neto faleceu no Rio de Janeiro, em 22 de agosto de 2016. Geneton estava internado desde maio na Clínica São Vicente, na Gávea. Morreu vítima de um aneurisma dissecante na aorta. 

(Fonte: http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2016/08 – Do G1 Rio – RIO DE JANEIRO – 22/08/2016)

(Fonte: (Fonte: http://oglobo.globo.com/rio  – RIO DE JANEIRO/ POR ARNALDO BLOCH – 22/08/2016)

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