Foi membro da primeira unidade do Exército formada por mulheres que pilotavam aviões e treinavam homens para fazer isso

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Foi membro da primeira unidade do Exército formada por mulheres que pilotavam aviões e treinavam homens para fazer isso

Mulher piloto da Segunda Guerra

Foto sem data de Elaine Harmon, que serviu como piloto durante a Segunda Guerra Mundial e morreu em abril de 2015 (Foto:The New York Times)

Foto sem data de Elaine Harmon, que serviu como piloto durante a Segunda Guerra Mundial e morreu em abril de 2015 (Foto:The New York Times)

 

Levou um ano e meio após sua morte, em 2015, para que o Exército reconhecesse formalmente o que Elaine D. Harmon soube durante quase toda a sua vida: que o serviço das mulheres pilotos na Segunda Guerra Mundial se equiparou ao dos homens que combateram. Na quarta-feira (7), em um recanto silencioso do Cemitério Nacional de Arlington, o Exército tornou seu reconhecimento permanente, ao permitir que os restos mortais de Harmon fossem finalmente depositados com plenas honras militares ao lado de seus colegas veteranos.

Harmon, que morreu em abril de 2015 aos 95 anos, fora membro das Mulheres Pilotos a Serviço da Força Aérea (WASPs na sigla em inglês), uma unidade do Exército que foi a primeira do tipo, formada por mulheres que pilotavam aviões e treinavam homens para fazer isso, durante a Segunda Guerra Mundial. Essa experiência foi tão importante na vida de Harmon que depois de sua morte sua família encontrou uma carta escrita no papel bege timbrado das WASPs e deixada em uma caixa à prova de fogo, com seu último desejo.

“Eu gostaria de ser enterrada no Cemitério de Arlington”, escreveu ela, acrescentando mais tarde: “Mesmo que não restem cinzas, eu gostaria que uma urna vazia fosse depositada em Arlington”.
Carta escrita por Elaine Harmon, ex-integrante da unidade Mulheres Pilotos a Serviço da Força Aérea durante a Segunda Guerra, em que descreve seu desejo de que suas cinzas fossem depositadas no Cemintério Nacional Arlington (Foto: Jared Soares/The New York Times)

Carta escrita por Elaine Harmon, ex-integrante da unidade Mulheres Pilotos a Serviço da Força Aérea durante a Segunda Guerra, em que descreve seu desejo de que suas cinzas fossem depositadas no Cemintério Nacional Arlington (Foto: Jared Soares/The New York Times)

O problema, como sua família logo percebeu, era que o Exército nunca considerou as mulheres –que carregavam armas, usavam uniformes e tinham acesso a informação sigilosas– fossem iguais aos soldados homens na ativa. E mesmo quando a lei lhes concedeu benefícios como veteranas de guerra, nos anos 1970, o Exército disse que não poderia permitir legalmente que as WASPs fossem enterradas em Arlington. “Elas fizeram o sacrifício máximo, e quando a guerra terminou lhes disseram: ‘Obrigado por seu serviço, agora as cabines voltam para os homens'”, disse a deputada republicana Martha McSally, do Arizona, durante um breve serviço memorial depois do enterro. McSally, que foi a primeira mulher piloto a voar em combate para a Força Aérea, soube da história de Harmon no noticiário este ano e imediatamente decidiu defender a causa. Com outra veterana, a senadora republicana Joni Ernst, de Iowa, ela promoveu uma lei que estabelece a elegibilidade dos restos mortais de Harmon e de outras como ela a ser enterrados no cemitério.

 

Guarda de honra da força aérea dos EUA presta homenagem a Elaine Harmon, no cemitério de Arlington

Guarda de honra da força aérea dos EUA presta homenagem a Elaine Harmon, no cemitério de Arlington (Gabriella Demczuk/The New York Times)

 

“Essas mulheres estavam recebendo um último tapa na cara”, disse McSally. “Eu disse: ‘De jeito nenhum!'”

A medida foi aprovada pela Câmara e pelo Senado por unanimidade. O presidente Barack Obama assinou a lei em maio passado.

Na quarta-feira, sob um céu quase sem nuvens, os restos de Harmon, que haviam estado em uma caixa preta numa prateleira no armário de sua filha há um ano e meio, finalmente puderam repousar em Arlington, em um nicho comum.

Um grupo de mulheres que voaram com Harmon, e muitas outras que vieram depois dela, viajaram por todo o país para testemunhar e, em alguns casos, dar depoimentos sobre o caminho que ela ajudou a abrir.

“Finalmente terminamos a última luta. Tivemos de lutar o tempo todo. Não pensei que teríamos de lutar para ser enterradas”, disse Florence Reynolds, membro da unidade e amiga de Harmon, conhecida como Shutsy. “Eu quis vir aqui para garantir que eles não iam estragar tudo.”

Afinal, não estragaram. Harmon, com seus restos presentes em uma caixa de madeira esculpida, foi homenageada com três salvas de tiros, guarda de honra e toque de caixas.

Pelas contas de Katherine Landdeck, uma historiadora da Universidade Feminina do Texas que está escrevendo a história das WASPs, menos de cem membros da unidade continuam vivas. Só algumas manifestaram interesse por funerais em Arlington, e assim, acrescentou ela, o serviço fúnebre de Harmon foi uma espécie de substituto para toda uma unidade que é geralmente desconhecida fora da família e das mulheres que lutaram.

Gabriella Demczuk/The New York Times

Capitã da força aérea dos EUA Jennifer Lee entrega bandeira a Terry Harmon, filha de Elaine Harmon

 

Foi um papel adequado para Harmon, que ajudou a manter o grupo unido quando voltaram à vida civil em 1944. A própria Harmon mudou-se para Oakland, na Califórnia, e trabalhou como controladora de tráfego aéreo enquanto esperava que seu marido voltasse do Pacífico. No fim da guerra, o jovem casal se reuniu nos crescentes subúrbios de Washington em Maryland para criar uma família.

Harmon ficou viúva em 1965 e criou quatro filhos sozinha, tornando-se mais tarde avaliadora de imóveis. Como outras WASPs, ela manteve um sentido de patriotismo, mas os detalhes de seu serviço sempre foram suprimidos.

“Depois da guerra, todas se dispersaram pelo país e não falavam necessariamente entre si”, disse Erin Miller, uma das netas de Harmon, que estudou a história da unidade. “Disseram-lhes para não divulgar o que haviam feito, e elas foram para casa cuidar de suas famílias.”

Na década de 1970, quando as mulheres começaram a se reconectar para lutar por benefícios de aposentadoria militar e pelo reconhecimento de seu serviço, Harmon tornou-se sua secretária informal. Ela localizou as outras WASPs pelo país e as recebeu quando foram a Washington fazer lobby.

Em uma espécie de terceiro ato, Harmon viajou pelos EUA promovendo a história da unidade. Ela visitou a Casa Branca, disse Miller, e se encontrou com cinco presidentes. Em 2009, Obama assinou uma lei que concedeu a toda a unidade a Medalha de Ouro do Congresso. Harmon estava lá.

No funeral, enquanto aviões sobrevoavam –aparelhos da Segunda Guerra pilotados por voluntários para a ocasião, e depois voos comerciais que decolavam do Aeroporto Nacional Reagan, nas proximidades–, a tenente-coronel Christine Blice-Baum, uma capelã, leu as Escrituras e depois um poema, “Voo Celestial”, escrito por uma WASP, Elizabeth MacKethan Magid, em memória de outra: “Ela não está morta./ Vocês deviam saber/ Está só voando mais alto./ Mais alto do que jamais voou”.

(Fonte: http://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/the-new-york-times/2016/09/08  – NOTICIAS/ INTERNACIONAL/ Por Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves – Nicholas Fandos /Em Arlington, Virgínia (EUA) – 08/09/2016)

 

 

 

Mulheres que pilotaram aviões na 2ª Guerra não podem ser enterradas em Arlington

Segundo o Exército, unidade Mulheres Pilotos a Serviço da Força Aérea tecnicamente não fazia parte dos militares

SILVER SPRING, MARYLAND – Pouco depois de Elaine D. Harmon morrer em abril de 1995, sua família descobriu uma carta em uma caixa a prova de fogo com instruções explícitas: ela queria que suas cinzas fossem colocadas no Cemitério Nacional Arlington.

“Mesmo que não sobrem cinzas, gostaria que uma urna vazia fosse colocada no Arlington”, escreveu Elaine que, durante a Segunda Guerra Mundial, fez parte de uma unidade de mil mulheres que transportou aviões militares e bombardeiros e treinou os homens para pilotá-los.

No entanto, quase um ano depois, Elaine não teve seu enterro. Uma grande caixa preta com suas cinzas está na prateleira, sobre blusas e malhas, do armário do quarto de sua filha em um condomínio do subúrbio de Washington.

A família Harmon ainda não fez o enterro porque o Exército, que supervisiona o Cemitério Nacional Arlington, diz que a unidade de Elaine no tempo da guerra – conhecida como Mulheres Pilotos a Serviço da Força Aérea (ou WASPs, na sigla em inglês) – tecnicamente não fazia parte dos militares. Dessa forma, segundo o Exército, suas cinzas não podem ser colocadas em um dos columbários do local. O Exército também diz que o cemitério – onde mais de 400 mil veteranos, suas esposas e outros estão enterrados – quase não tem mais espaço para túmulos e urnas.

Alguns membros do Congresso e veteranos estão indignados com a decisão e dizem que é uma contradição grosseira.

Segundo as regras do Exército para o cemitério, se Elaine tivesse sido casada com um veterano que já estivesse enterrado em Arlington, seu pedido seria aprovado, mesmo se ela nunca houvesse servido em uma unidade militar. E vários estrangeiros estão no local, inclusive um prisioneiro alemão da Segunda Guerra que morreu sob custódia dos EUA.

“Pense na ironia de que ao mesmo tempo o Pentágono está abrindo missões para homens e mulheres nas forças armadas e fechando as portas para as mulheres que foram pioneiras”, diz Martha McSally, do Partido Republicano do Arizona, referindo-se à decisão do secretário de Defesa Ash Carter em 2015 de abrir posições de combate para mulheres.

Martha, que foi a primeira mulher piloto de caça da força aérea a voar em combate, sugeriu uma lei que permitiria que as WASPs fossem enterradas no Arlington. Ela diz que apenas cerca de 100 mulheres da unidade ainda estão vivas, e que só duas pediram para ser enterradas no cemitério. “Se eles não fizerem a coisa certa, vamos fazer acontecer”, diz Martha.

O Exército avisa que uma revisão legal interna em 2015 concluiu que um detalhe técnico em uma lei de 1977 impede que as WASPs sejam enterradas em Arlington. A lei designou as mulheres como se estivessem na ativa para o serviço e benefícios do Departamento de Assuntos dos Veteranos. Mas não lhes deu status nos serviços armados e, por isso, não lhes conferiu o direito de serem enterradas no local.

“Com base na demanda e na capacidade, o Arlington vai ter seus espaços para enterros e urnas esgotados para membros da ativa e veteranos nos próximos 20 anos, por volta do meio de 2030”, afirmou o Exército em um comunicado. “Como administradores deste local sagrado, continuamos comprometidos a manter o Arlington como um cemitério ativo pelo tempo que for possível continuar a honrar e servir os heróis militares de nossa nação.”

Durante a Segunda Guerra, os militares, junto com construtores navais, empresas de caminhões e mesmo times de beisebol voltaram-se para as mulheres para preencher os empregos deixados vagos por milhões de homens que foram lutar. Como os membros militares na ativa, as WASPs usaram uniformes, carregaram armas, tiveram acesso a informações secretas e saudaram seus superiores. Além de treinar os homens para pilotar os bombardeiros, as WASPs voaram caças de bases militares para portos onde eram mandados de navio para batalhas no exterior. Pelo menos três dúzias delas morreram ou foram mortas enquanto serviam.

 

Foto: Jared Soares/The New York Times
Mulheres que pilotaram aviões na Segunda Guerra não podem ficar no cemitério Arlington

Os restos mortais de Elaine Harmon, ex-integrante da unidade Mulheres Pilotos a Serviço da Força Aérea, permanecem em uma caixa preta em uma prateleira dentro do armário de sua filha

Acreditando que Elaine poderia ser enterrada no Arlington como outros veteranos, membros de sua família fizeram o pedido logo após sua morte. Foi então que descobriram que, como as WASPs não eram tecnicamente membros da ativa, não tinham o direito de ser enterradas ali.

“Foi doloroso e confuso. Separar as WASPs é cruel – dizer que seu serviço não importou, que você não foi boa o suficiente para ser enterrada no Arlington”, conta Tiffany Miller, uma das netas de Elaine.

A família Harmon, que como a maioria dos americanos não sabe como navegar pela burocracia do Pentágono, ficou sem ação. Parentes preencheram pedidos sob a Lei de Liberdade de Informação para descobrir o máximo possível sobre a política, e contataram seus senadores e representantes. Os netos de Elaine até lançaram uma campanha nas redes sociais, mas o Exército não se mexeu.

No começo de janeiro, Terry, filha de Elaine, e Erin, a neta, haviam sido chamadas para aparecer no programa da Fox News “On the Record With Greta Van Susteren”. Mas, no último minuto, um produtor ligou e disse que a entrevista havia sido cancelada e que Martha McSally iria comparecer ao show para discutir a questão como veterana e membro do Congresso.

A filha e a neta de Elaine nunca haviam entrado em contato com Martha e ficaram surpresas com seu envolvimento. Elas viram na internet que Martha havia sido a primeira piloto da Força Aérea a voar em combate e a primeira mulher a comandar um esquadrão de caça, e esperaram ansiosas para assistir a entrevista. No show, Martha anunciou que havia proposto uma lei que permitiria às WASPs serem enterradas no Arlington.

Martha diz que tem um vínculo de longa data com as WASPs. Quando estava subindo na carreira de piloto, um grupo de WASPS do Arizona a procurou. “Pouquíssimas pessoas poderiam entender o que eu estava passando”, afirmou Martha em entrevista por telefone.

“Elas se tornaram amigas, mentoras e me encorajaram. Eu as encontrava quando estava me sentindo deprimida e frustrada, e elas me contavam histórias do que tinham passado e me motivavam a continuar lutando. Eu amei essas mulheres e não estaria onde estou hoje nem teria as oportunidades que tive sem que elas tivessem me ajudado a quebrar o telhado de vidro.”

Ela conseguiu apoio para a lei, que hoje tem mais de 10 co-patrocinadores. “Elas foram um exemplo de que as mulheres podem ser pilotos. Um avião não se importa se você é menino ou menina. O que interessa é como você voa, atira e solta as bombas. As WASPs provaram isso, e sou muito grata a elas.”

(Fonte: http://internacional.estadao.com.br/noticias/geral – GERAL/ Por Michael S. Schmidt / The New York Times, O Estado de S. Paulo – 07 Março 2016)

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