Foi o primeiro pintor a trocar os temas da História pelos de sua própria época

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Arrufos, 1887

Arrufos, 1887

 

Antes do tempo

Belmiro de Almeida (Serro, 22 de maio de 1858 – Paris, 12 de junho de 1935), um precursor da arte musiva brasileira, um artista que coloca a sua pintura numa posição de destaque entre os artistas da virada do século.

Belmiro de Almeida é importante como retratista de época – algumas de suas telas, como Arrufos ou Dame à la Rose, são marcos da pintura brasileira do século XIX.

Outras obras suas, como Mulher em Círculos, de 1921, revelam um artista tão ousado, na década de 20, quanto os paulistas que pretendiam fazer a Semana de Arte Moderna.

Além de pinturas, fez charges, caricaturas, ilustrações e foi editor de revistas como Fon-fon, Diabo a quatro, Rataplan, João Minhoca e outras. Como escultor, produziu, entre muitas obras, uma réplica do célebre Manneken Piss, de Bruxelas (obra de 1619), por Jerôme Duquesnoy (1602-1654) que acabou conhecida como Manequinho depois de colocada no largo do Mourisco, no Rio de Janeiro, onde o clube Botafogo a adotou como mascote do time.

É possível acompanhar a audaciosa caminhada artística do pintor, que, ao contrário dos bolsistas brasileiros que se ligavam essencialmente às escolas acadêmicas europeias, Belmiro de Almeida, em suas frequentes viagens à França, foi um dos primeiros brasileiros a perceber a extraordinária mudança pela qual passara a pintura na virada do século XIX.

Suas telas mais ousadas, contudo, não faziam sucesso algum no Brasil, o que o levou a pintar telas acadêmicas para o gosto local, cada vez que retornava ao país, e a deixar na França os melhores trabalhos.

Quando o pintor mineiro Belmiro de Almeida, 29 anos, depois de uma viagem a Paris, decidiu mostrar no Rio de Janeiro, em 1887, a sua nova tela, Arrufos, causou uma polêmica. “Ainda não se fez, no Rio de Janeiro, quadro tão importante quanto este”, opinou o poderoso crítico Gonzaga Duque, “pois Belmiro é o primeiro a trocar os temas da História pelos de sua própria época.” Já para os professores da Academia de Belas Artes, de onde o jovem pintor havia saído, tratava-se de uma tela banal, sem as alegorias simbólicas do gosto da época.

Em Arrufos nota-se o toque de realismo que já imperava na França, mas não na pintura brasileira da época. Em Moulin Godart, de 1927, Belmiro arrisca definir os volumes na tela, à maneira de Cézanne, e usa as pinceladas justapostas para formar novas cores, na linha do pontilhismo do francês Georges Seurat (1859-1891).

Belmiro de Almeida enveredou solitário pelos caminhos que se abriam na pintura moderna. Ele próprio confessou, em 1925, que se sentia mais à vontade na França, onde morou seus últimos anos: “O Brasil, é um lindo país, mas há nele muito cupim.”

Belmiro morreu em junho de 1935, na França.

 

 

(Fonte: Veja, 3 de outubro de 1984 – Edição 839 – ARTE/ Por Casimiro Xavier de Mendonça – Pág: 121)

 

 

 

 

 

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