Foi o primeiro brasileiro a compor a Academia de Ciências dos Estados Unidos

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Agrônomo brasileiro que ajudou a decifrar as abelhas

 

Pesquisador foi diretor do Instituto de Pesquisas da Amazônia e presidente da SBPC

 

O pesquisador brasileiro Warwick Kerr (Foto: Valor / DIREITOS RESERVADOS)

 

Pesquisador descobriu a espécie de abelha ‘africanizada’ e foi o primeiro brasileiro a compor a Academia de Ciências dos EUA. Kerr atuou em diversas instituições, como UFU e USP.

 

Warwick Estevam Kerr (Santana do Parnaíba, 9 de setembro de 1922 – Ribeirão Preto (SP), 15 de setembro de 2018), agrônomo paulista, cientista e professor aposentado que ajudou a decifrar as abelhas. O pesquisador foi responsável pela descoberta da espécie abelha “africanizada” e o primeiro brasileiro a fazer parte da Academia de Ciências nos Estados Unidos.

 

Durante anos, um dos grandes temores do agrônomo paulista Warwick Kerr, foi o de que sua carreira de pesquisador acabasse sendo definida por um acidente que aconteceu em 1957.

 

Warwick Kerr tinha ido à África no ano anterior, com apoio do Ministério da Agricultura, com o objetivo de obter abelhas do continente para usá-las em projetos de melhoramento genético das colmeias nacionais. Levou quase 50 rainhas africanas para um apiário experimental em Rio Claro, no interior paulista, mas 26 das colmeias formadas pelos insetos acabaram escapando.

 

Bem mais agressivas do que as abelhas domésticas de origem europeia que então predominavam no Brasil, as rainhas africanas se cruzaram com os insetos que existiam por aqui e acabaram criando certo pânico, com a lenda de que eram abelhas assassinas”.

 

Eu não esperava ser capaz de dar a volta por cima”, declarou Kerr anos depois em entrevista à revista “Estudos Avançados”. “Pensava que teria uma vida desgraçada para o resto de meus dias. Até 1978, as mulheres franziam a testa, mostravam-me para seus filhos e diziam: aquele é o homem que introduziu a abelha brava no Brasil.

 

Por sorte, o pesquisador e seus colegas pelo Brasil afora conseguiram dominar técnicas de manejo das abelhas africanizadasdeixando as colmeias afastadas de casas e de outros animais ou usando uniformes mais protegidos na hora de lidar com elas, entre outras coisas. E os genes africanos acabaram, de fato, mostrando-se mais capazes de levar a colmeias com alta produção de mel e resistência a doenças. O aparente fracasso virou triunfo.

 

FASCÍNIO PELA POLINIZAÇÃO

 

Apesar de ficar permanentemente associado às abelhas domésticas africanas, Kerr teve como campo preferencial de estudo a grande diversidade de espécies de abelhas sem ferrão nativas do Brasil, em especial as da Amazônia. Ele contava que o fascínio pelos fenômenos ligados à polinização o acompanhara desde os primeiros anos de infância no interior paulista (nascido no Santana do Parnaíba, em setembro de 1922, ele se mudou junto com a família para Pirapora poucos anos depois).

 

Embora tenha se formado em agronomia na Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da USP), Kerr costumava dizer que era muito mais biólogo do que agrônomo, direcionando seu trabalho acadêmico para a compreensão de mecanismos biológicos básicos das abelhas nativas.

 

Como outros nomes importantes entre os decanos da biologia brasileira, também foi fortemente influenciado por Theodosius Dobzhansky (1900-1975), ucraniano radicado nos Estados Unidos que teve papel central no surgimento da biologia evolutiva moderna, fundindo a genética e a ideia de seleção natural. Entre os anos 1940 e 1950, Dobzhansky fez quatro visitas de longa duração ao Brasil, orientando alunos e fomentando novas linhas de pesquisa.

 

Do final dos anos 1950 aos anos 1960, Kerr teve passagens como professor pela recém-criada Unesp, no campus de Rio Claro, e pela USP de Ribeirão Preto. Com a ditadura militar, acabou sendo preso duas vezes e chegou a sofrer ameaças à sua família, tanto por sua atuação à frente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) quanto por denunciar, em suas aulas, arbitrariedades do regime, como a tortura de uma freira em Ribeirão Preto.

 

Duas vezes diretor do Impa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), entre 1975 e 1979 e entre 1999 e 2001, Kerr teve a oportunidade de dar impulso ao estudo da biodiversidade da maior floresta tropical do mundo e, ao mesmo tempo, de entender melhor as abelhas sem ferrão.

 

Com base em sua passagem pela região, ele costumava louvar a profundidade do conhecimento dos indígenas a respeito da biodiversidade amazônica e criticar a dificuldade da indústria nacional de aproveitar essa riqueza para criar oportunidades econômicas.

 

Warwick foi professor na UFU entre 1988 e 2012, sendo responsável pela implantação dos cursos de mestrado e doutorado em Genética e Bioquímica. Também prosseguiu em Uberlândia com as pesquisas científicas com abelhas, hortaliças e frutas.

Uma mostra das condecorações e da produção científica do professor está disponível na Coleção Especial Dr. Warwick Estevam Kerr, na biblioteca do campus Umuarama da UFU, inaugurada em 2016. A coleção conta com livros, pesquisas, periódicos, diplomas, medalhas, teses, álbum de fotografias, entre outros materiais da vida do pesquisador.

Biografia

 

Entomologista, engenheiro agrônomo e geneticista de renome internacional, o professor atuou em outras diversas instituições de ensino como a Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp), Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa) e Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

Entre os principais trabalhos está a introdução no Brasil da abelha africana, em 1956. Ele também desenvolveu um novo tipo de espécie de abelha, denominada “africanizada”, que é mais dócil e grande produtora de mel.

Outro destaque das pesquisas desenvolvidas por Kerr é a descoberta de um tipo de alface com 20 vezes mais vitamina A do que o comum. Além disso, Kerr foi presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, de 1969 até 1973. Em 1990, tornou-se o primeiro brasileiro a pertencer à Academia de Ciências dos Estados Unidos.

Warwick morreu em 15 de setembro de 2018 aos 96 anos de idade, em decorrência de uma parada cardíaca. Ele estava internado em um hospital de Ribeirão Preto (SP), onde morava com a família.
(Fonte: https://g1.globo.com/mg/triangulo-mineiro/noticia/2018/09/15 – NOTÍCIA / Por G1 Triângulo Mineiro – 15/09/2018)
(Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2018/09- CIÊNCIA / Por Reinaldo José Lopes – SÃO CARLOS – 15.set.2018)
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