Foi o primeiro brasileiro a atuar na NBA

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Rolando durante partida pela Universidade de Houston (Arquivo pessoal)

Rolando durante partida pela Universidade de Houston (Arquivo pessoal)

 

Primeiro brasileiro da NBA

 

O pivô Rolando atuou no Portland Trail Blazers durante a temporada 1988/89

Rolando Ferreira foi o primeiro brasileiro a jogar pela NBA, disputou apenas 34 minutos e somou nove pontos em sua carreira na NBA.

Rolando foi o primeiro brasileiro a atuar no melhor basquete do mundo. Escolhido pelo Portland Trail Blazers na 26ª escolha de novatos da temporada 1988/89, o pivô, então com 24 anos, permaneceu na liga por uma temporada e entrou em quadra em 12 partidas oficiais.

Mas a NBA de 1988 não tinha jogadores espanhóis, franceses, argentinos ou croatas de destaque. Era um campeonato de americanos para americanos, focado no mercado interno. Não havia olheiros rodando o mundo à procura de pérolas no basquete. Também não havia a preocupação de que a China ou qualquer outro país acompanhasse a liga.

Por isso, quando Rolando decidiu largar o Corinthians às vésperas da disputa do Campeonato Mundial de 1986 para ir jogar na Universidade de Houston, de olho em uma ponte para a NBA, muitos o consideraram louco. E aquela não havia sido a primeira vez que lhe disseram isso.

 

De Curitiba a Houston

Em 1978, quando ainda era um adolescente desconfortável com sua altura e começava a crescer dentro do basquete, disseram para Rolando que, se quisesse defender a Seleção Brasileira, ele deveria se mudar para São Paulo. Apesar de algumas acusações contra sua sanidade, para a capital paulista o pivô rumou. E provou que não havia nada de loucura naquilo.

Rolando realmente chegou à equipe brasileira de base. Ele foi ganhando espaço, evoluindo, subindo de categoria. Em 1985, o pivô participou de um torneio para jogadores jovens na Austrália. O alto nível que apresentou na competição chamou a atenção de um atleta norte-americano, que falou dele para seu técnico na Universidade de Lamar, no Texas. O treinador o convidou para jogar pela instituição, mas, por não ser um time de primeiro escalão, Rolando recusou o convite.

No entanto, o comandante não se esqueceu de Rolando. No ano seguinte, ele passou assumiu o time da tradicional Universidade de Houston, que alguns anos antes havia disputado duas vezes a decisão da NCAA, a liga de basquete universitário dos EUA. O convite voltou a ser feito, e o brasileiro não teve como recusá-lo. Foi assim que Rolando deixou o Corinthians e partiu para a terra do basquete.

 

O pivô disputou duas temporadas em Houston. Ao final da primeira, ele se apresentou à Seleção Brasileira para a disputa do Pan-Americano de Indianápolis. Para a surpresa de todos, o Brasil venceu os anfitriões norte-americanos com show de Oscar e Marcel na final e ficou com a medalha de ouro. O triunfo foi um dos maiores da história do basquete do Brasil e repercutiu no país em que Rolando jogava.

“Quando acabou o Pan-Americano, todos voltaram para o Brasil, e eu voltei para Houston. Eu tive que andar quase um mês com a medalha para mostrar para todo mundo”, disse o pivô, que relembrou uma história que exemplifica a relevância da conquista. “Eu morava num dormitório da universidade. Em um sábado à noite, fui visitar um amigo meu e passei por umas três quadras na universidade. Passei olhando o pessoal jogar, até que um cara pegou a bola, saiu de um corta-luz e subiu para arremessar de três. Quando a bola entrou, ele gritou: Oscar Schmidt, de três! Para você ver como o pessoal deu importância para o campeonato”.

O ouro foi um prenúncio da próxima conquista brasileira que estaria por vir. Após uma temporada com médias de 14 pontos e sete rebotes em Houston, Rolando se declarou para o draft, que é quando as franquias da NBA escolhem os jogadores universitários. O pivô foi selecionado na primeira posição da segunda rodada, a 26ª geral.

 

No entanto, apesar de ter sido draftado, a presença do jogador na liga ainda não estava garantida. Por isso, Rolando teve que deixar preparação para as Olimpíadas de 1988, em Seul, para se apresentar aos Blazers e treinar com os novatos. “Treinei superbem. Eu era um projeto para o futuro, mas fui tão bem que falaram ‘o Rolando não é mais um projeto, é uma realidade’. Fechei um contrato com a equipe em bases muito boas. Eu voltei, joguei o Pré-Olímpico do Uruguai e a Olimpíada, e fui para Portland”.

 

Entre ídolos na NBA

Após as competições com a Seleção, Rolando retornou aos Estados Unidos. Como o período de treinamentos com os Blazers só começava em outubro, o pivô passou o mês de setembro se preparando em Houston. Foi em um rachão na quadra da universidade que ele se sentiu um jogador da NBA pela primeira vez.

“Nesse tempo fiquei lá para me preparar. Me falaram: vai no ginásio que o pessoal vai bater bola. Eu chego lá para jogar, olho na quadra e estão lá Moses Malone, Clyde Drexler, Hakeem Olajuwon, um monte de jogadores da NBA. Eu pensei ‘nossa mãe, não dá para bater bola com esses caras’. Eu entrei no segundo jogo e quem estava me marcando? Moses Malone! Não acreditei. Com ele me marcando, me deram a bola no pivô e eu arremessei na cara dele. E ele perguntou para outro jogador: ‘quem é esse branquelo?’. Depois, eu voltei para o dormitório e escrevi para todos os meus amigos do Brasil”, recordou o pivô.

Depois do período de treinamentos em Houston, Rolando se apresentou aos Blazers e começou a preparação para a NBA. O desempenho na pré-temporada foi animador, com “médias de sete pontos e cinco rebotes em cerca de 12 minutos de média”, de acordo com a lembrança do pivô. No entanto, quando os jogos começaram para valer, o brasileiro viu seu espaço diminuir.

“No segundo jogo da temporada eu fui o sexto homem. Não fiz muita coisa, mas não comprometi. A partir daí, o time começou a perder e ter dificuldades. Eu, como era novo, não jogava muito. Quando tinha oportunidades, fazia meu melhor. Só que é muito difícil você entrar no final do jogo porque ou o time está ganhando de 20, ou está perdendo de 20. Então quem entra quer mostrar serviço, não tem jeito. Se você pega a bola, você não passa. Eu, como era pivô, só pegava a bola em rebotes ou quando sobrava uma bola que o cara não queria arremessar. Era difícil, mas é a vida”.

 

Dentro das quadras, Rolando perdia espaço na rotação do time. Fora dela, o problema era outro: o preconceito. Único estrangeiro do elenco, ele disse que sentia “um certo distanciamento” de alguns companheiros. Não dos astros da equipe, como Clyde Drexler e Terry Porter, mas de jogadores com quem disputava posição no time. Era “uma coisa meio velada, mas existia”, segundo o pivô.

 

Dentro e fora do time

 

Rolando ainda não sabia, mas sua trajetória na NBA acabaria no fim de dezembro de 1988. Um dos veteranos da equipe estava recuperado de lesão e precisava retornar ao time. A liga permite que apenas 12 jogadores componham o elenco. Como era necessário abrir uma vaga no time, um dirigente pediu para que o brasileiro se declarasse lesionado, mesmo estando 100% fisicamente. O pivô achou estranho, mas, aconselhado por seu agente, que afirmou que o pedido era algo normal, acabou aceitando, o que acabou sendo “a maior burrada” que fez, segundo ele mesmo.

O brasileiro passou de dezembro a maio treinando separado do elenco. Ele comparecia aos jogos de terno e não viajava com a equipe. O pivô só foi reintegrado ao time no segundo jogo dos playoffs, em maio, quando os Blazers estavam em desvantagem de 1 a 0 na série melhor de três contra o Los Angeles Lakers, de Magic Johnson e Kareem Abdul-Jabbar. Portland perdeu os dois jogos seguintes, Rolando não entrou em quadra e assim terminou a temporada da franquia e do brasileiro.

O pivô se reapresentou para a temporada seguinte, só que a falta de ritmo de jogo pesou. Se em 1988 ele fez 26 pontos e apanhou 12 rebotes no jogo entre novatos do time, em 1989 foram apenas quatro pontos somados. Com a proximidade do campeonato, Rolando acabou cortado pelos Blazers. Sem clube, o pivô pecou pelo orgulho e pela inexperiência. “Quando fui cortado, fiz outra besteira. Meu agente disse que encontraria um time para eu jogar, mas eu não deixei. Eu falei ‘eles que venham atrás de mim’. E é lógico que ninguém veio”.

O jogador rejeitou propostas da Europa para voltar ao Brasil. O plano era mostrar serviço na liga nacional para retomar a carreira nos Estados Unidos. No entanto, aí entraram dois fatores: uma acomodação por estar no país natal e aquela história de a NBA não ser globalizada como nos dias de hoje.

A carreira de Rolando na NBA terminou com totais de 34 minutos, nove pontos, 13 rebotes, uma assistência, um toco e sete faltas cometidas. E com a seguinte conclusão: “Eu aprendi muito. A coisa mais importante que eu aprendi é saber dizer não. Não abaixar a cabeça. Não me arrependo de nada que eu fiz, mas se eu pudesse voltar no tempo eu faria coisas diferentes. A experiência foi boa, mas poderia ter sido melhor”.

Seus erros serviram de exemplo para uma série de brasileiros que vieram na sequência. Desde então, passaram e passam pela liga Pipoka, Nenê, Leandrinho, Alex, Lucas Tischer, Marquinhos, Anderson Varejão, Baby, Tiago Splitter, Fab Melo, Scott Machado, Vitor Faverani, Lucas Bebê e Bruno Caboclo. Muitos outros ainda atuarão na NBA, mas o primeiro jogador do Brasil a entrar em uma quadra do melhor basquete do mundo será sempre Rolando.

 

(Fonte: http://esporte.band.uol.com.br/outros-esportes/basquete/noticia/100000713166 – Esporte – Basquete – 10 de outubro de 2014)

 

 

 

 

 

 

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