Foi a primeira brasileira a pilotar planador e saltar de paraquedas

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Ada Rogato, a primeira brasileira a pilotar planador e saltar de paraquedas

 

Durante a 2ª Guerra, Ada realizou patrulhamento aéreo do litoral paulista. (Imagem: Acervo UH/Folhapress)

 

Ada Rogato, paulistana do Cambuci que deixou o bordado e as aulas de piano para voar mais alto.

 

Ada até tentou a “normalidade” da época ao assumir o cargo de datilógrafa no Instituto Biológico, em 1940. Mas decidiu ir além.

 

Aos 25 anos, já era a primeira sul-americana apta a protagonizar um voo de planador, cujo brevê era o de número 25, segundo o Aeroclube Politécnico de Planadores. Thereza di Marzo e Anésia Pinheiro Machado são as duas primeiras brasileiras a terem brevê de aviadoras, tirados com apenas um dia de diferença, em um abril de 1922.

 

Em 1936, quando as brasileiras mal tinham conquistado o direito ao voto, Ada fazia seu primeiro voo solo a bordo de um monomotor. Aos 31 anos, era reconhecida também como a primeira paraquedista com brevê no Brasil, no Aeroclube de São Paulo.

 

Altos e baixos

 

A vida de Ada Rogato foi cheia de acrobacias. Literalmente.

 

A fim de promover a criação de aeroclubes brasileiros e a formação de jovens pilotos, o excêntrico empresário Assis Chateaubriand lançou em 1941 a campanha “Dê Asas à Juventude”, cujos eventos incluíam saltos de paraquedas e acrobacias aéreas.

 

E lá vai Ada, mais uma vez, provar a que veio.

 

Ela estava entre os seis alunos do Aeroclube de São Paulo convidados pelo argelino Charles Astor, o primeiro civil a saltar de paraquedas no Brasil, que quebrariam um recorde mundial: realizar o primeiro salto coletivo noturno, em abril de 1942.

 

Para Ada, o céu era o limite e as alturas elevadas pareciam não ser problema, desde que o pouso não fosse nas águas enegrecidas pela noite, na Baía de Guanabara.

 

Assim como lembra o Instituto Biológico, Ada confessaria para um colega de trabalho que “o momento em que afundou na água, em meio à escuridão, fora o de maior temor que já enfrentara na vida”.

 

Os anos seguintes também seriam de voos altos.

 

Ada realizou patrulhamento aéreo do litoral paulista durante a 2ª Guerra e seguiu na função até os anos 60. Também encabeçou o primeiro voo de uma brasileira sobre os Andes e foi a primeira a sobrevoar a Amazônia.

 

Em 1951, ficaria conhecida também pela longa viagem de seis meses entre a Terra do Fogo, na Argentina, e o Alasca.

 

A bordo de um Cessna 140, chamado de “Brasil”, Ada protagonizou um pinga pinga por todas as capitais das Américas, cujos mais de 51 mil quilômetros foram vencidos em 364 horas de voo.

 

Assim como lembra o Instituto Histórico-Cultural da Força Aérea Brasileira, o voo de Ada até o Fim do Mundo renderia o título de primeira aviadora a pousar naquele aeroporto do extremo sul do planeta. Sem falar no apelido de ‘Pomba Solitária do Brasil’, como anunciou o aeroclube local na chegada da piloto.

 

Solitário foi também seu voo que percorreu todas as capitais dos estados brasileiros, em homenagem aos 50 anos do primeiro voo de Santos Dumont em seu 14-bis, em 1956.

 

A nova aventura de Ada começara no dia 4 de julho, no aeroporto de Congonhas (SP), onde voltaria a pousar mais de três meses depois, trazendo na bagagem um pouso noturno forçado, por conta de uma tempestade, e uma visita aos irmãos Villas Boas na região do Xingu.

 

Um único acidente

 

Ada não só era a dona do próprio nariz, mas também do seu próprio avião.

 

Foi com seu monomotor Paulistinha CAP-4 que Ada lançou inseticida sobre cafezais paulistas tomados por larvas de besouro, conhecidas como broca-do-café. Ela só não aceitou o desafio dos pesquisadores do Instituo Biológico como também se tornou a primeira piloto agrícola do Brasil, no final dos anos 40.

 

Porém, sua nova habilidade aérea rendeu também seu primeiro (e único) acidente da carreira.

 

Em Cafelândia, no interior paulista, seu monomotor adaptado se chocou contra fios telefônicos e caiu, custando a Ada meses de internação, múltiplas fraturas, cicatrizes no rosto e a perda de alguns dentes.

 

Aquele 1948 nem tinha terminado e a piloto ainda acharia forças para ser campeã paulista de paraquedismo.

 

Em terra firme, esteve envolvida também na Fundação Santos-Dumont que, mais tarde, seria transferida para a Oca do Ibirapuera sob o nome de Museu da Aeronáutica e direção de Ada Rogato.

 

O multidisciplinar Leonardo da Vinci pode até ter previsto um homem voando sob uma estrutura triangular de tecido. Mas ele só não contava que, 500 anos mais tarde, meninas comportadas também saltariam de paraquedas, entre tantas outras acrobacias possíveis.

(Fonte: https://www.uol.com.br/nossa/noticias/redacao/2021/03/21 – NOSSA VIAGEM / por Eduardo Vessoni Colaboração para Nossa – 21/03/2021)

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