Federico Fellini, cineasta com uma fabulosa coleção de cinco Oscar, foi um dos cineastas mais importantes da Itália

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O domador de sonhos

 

Federico Fellini se foi e apagam-se as luzes de uma fase sem paralelo no cinema mundial

 

O cineasta italiano Federico Fellini Foto: Divulgação

O cineasta italiano Federico Fellini Foto: Divulgação

 

Cineasta é um dos nomes mais famosos da história do cinema italiano

 

Federico Fellini (Rimini, 20 de janeiro de 1920 – Roma, 31 de outubro de 1993), foi o maior cineasta de todos os tempos, um dos cineastas mais importantes da Itália.

O estilo de realismo fantástico, particular de Fellini, não funcionava somente como representação cinematográfica, mas mostrava sua visão de mundo, em uma dimensão quase circense de set de filmagem, expressão corporal e modelo de sociedade. Nascido em Rimini, em 20 de janeiro de 1920, Fellini usou suas experiências da infância como parte fundamental de muitos de seus filmes, como “Os Boas-Vidas”, de 1953, “8 e Meio”, de 1963, e “Amarcord”, de 1973.

O diretor se eternizou pela poesia de seus filmes, que mesmo quando criticavam a sociedade ainda exaltavam a magia das telonas.

O diretor que marcou a história do cinema italiano, nascido a 20 de janeiro de 1920, em Rimini, na Itália, tinha um estilo muito particular de realismo fantástico, que remete a outros gênios multiformes da criação, como Pablo Picasso e Andy Warhol. Mais que mera representação cinematográfica, Fellini apresentava sua visão de mundo, uma dimensão quase circense de set de filmagem, expressão corporal e modelo de sociedade. Seu criticismo, no entanto, não deixava de exaltar a magia das telonas.

O arco expressivo de Fellini percorreu desde as experiências da infância, passando pela ingenuidade da adolescência, chegando até a representação dos últimos anos de felicidade, em “A estrada da vida”, de 1954, premiado com o Oscar de melhor filme estrangeiro. Além disso, mostra uma província como lugar de encanto, em “Os Boas-Vidas”, e o monstro das metrópoles, em “La Dolce Vita”, de 1960, como também a irrupção do inconsciente, em “8½”.

Sua empreitada no cinema internacional foi tão forte que deixou vestígios em toda uma geração de diretores norte-americanos que se inspiraram em um modelo parecido. Dentre os vários exemplos, temos Paul Mazursky, Martin Scorsese e Spike Jonze.

Era uma vez – e que vez boa foi aquela! – em que o maior espetáculo da Terra era ir ao cinema – melhor mesmo do que ir à missa, namorar na calçada, folhear escondido quadrinhos pornográficos ou escapar da escola para jogar sinuca. Quem não se lembra disso tinha e tem procuração para sonhar. “Eu inventei tudo para, depois, poder contar: uma infância, uma personalidade, nostalgias, delírios, lembranças.” Quando o autor dessa frase, Federico Fellini, morreu no dia 31 de outubro, aos 73 anos, em Roma, abatido por um derrame cerebral em agosto e um ataque cardíaco dois meses depois, uma era se acabava junto com ele.

Fellini sabia que toda época antiga é boa porque a humanidade não consegue viver sem recordar seus momentos felizes. Está tudo lá, em 21 filmes, entre 1950 e 1990, e em desenhos, croquis, projetos não realizados, entrevistas. Mostrou-se inteiro no que fez e, no entanto, era um farsante.

Se não, vejam só. Divulgou a lenda de que nasceu dentro de um trem rumo a Rimini, onde viveu infância e juventude, mas seu biógrafo Tullio Kezich descobriu que naquele dia 20 de janeiro de 1920 houve uma greve geral de ferroviários na Itália. Informado disso, avisou: “Um biógrafo que trabalhe sobre fatos da minha vida corre atrás de um fantasma”. Vivo, foi um fantasma que assombrou as criaturas de seus filmes, com pequenas lembranças de infância, fobias, paixões, padres e freiras severos, malandros simpáticos, trapaceiros ordinários, mulheres de sonho, quase sempre inalcançáveis.

Morto, achava que não ganharia a vida eterna. “Na Itália, para ser premiado, é preciso morrer, ser mutilado ou provar que é santo”, disse ele, num exagero bem felliniano. O diretor de A Trapaça, (1955), embora formado na vida dura e crua do neo-reallismo italiano do pós-guerra, tinha alma de circo. Disse: “A mentira é a alma do espetáculo”.

Mas que ninguém acredite nisso. A alma do espetáculo felliniano- expressão tão divulgada como qual entendida no Brasil, como sinônimo de mulheres monstruosamente gordas, palhaços infelizes e prostitutas adoráveis – desenha-se num campo muito mais vasto desde 1937, quando nasceu em Roma o maior estúdio da Europa, numa grande festa fascista da era mussoliniana.

Fellini tinha 20 anos quando entrou no mundo de telões pintados da Cinecittà, como repórter, e 25 quando saiu dele para se juntar a um time de diretores nunca mais igualado na Itália. Faziam um cinema pobre, de país derrotado na guerra, mas que sob o nome geral de neo-realista conquistou o mundo. O mentiroso Fellini nasceu com os pés no chão, mas com uma imaginação tão privilegiadamente livre que logo se destacou dos demais – e “demais” aí incluía nomes como Roberto Rossellini, Vittorio de Sica, Pietro Germi, Cezare Zavattini ou Alberto Lattuada. Assim como as trevas da Idade Média deram lugar às luzes do Renascimento, o cinema italiano saiu dos artifícios de laboratório para descobrir a grandeza da vida real.

SONHOS E LUZES – A biografia de Fellini, que ele inventou ou adulterou tantas vezes, no entanto, é real. O grande público ouviu falar dele pela primeira vez em 1952, no Festival de Veneza, quando mostrou Abismo de um Sonho, e no ano seguinte com Os Boas Vidas, uma crônica agridoce sobre jovens provincianos que sonham sair de sua cidade e por lá vão ficando, menos um (o próprio Fellini?). A carreira deslanchou rápida e brilhantemente, com Na Estrada da Vida, o mundialmente escandaloso A Doce Vida, Oito e Meio, Roma, Casanova, E la Nave Va, Amarcord, Ginger e Fred, por aí afora.

“Sou um artista, filmar é tudo o que sei fazer”, mentia Fellini. Na verdade, ele tinha vários talentos, e um deles era uma poderosa percepção crítica da própria profissão. Achava, quando se encontrava no auge, que o cinema estava perdendo fascínio, prestígio e autoridade porque vivia do aspecto desconhecido e exótico do planeta. Segundo ele, quando até as famílias mais modestas iam passar férias no Havaí, pagava-se um preço em termos de imaginário.

SANTÍSSIMA TRINDADE – Mas naquele tempo (um bom tempo, lembre-se), entre os anos 50 e começo dos 60, respirava-se. O cinema italiano, extremamente popular em melodramas, comédias ou chanchadas, ainda se deu ao luxo de reformar sua linguagem. Além de Roberto Rossellini (1906-1977), o menos notório dos grandes, trabalharam numa mesma época Fellini, Luchino Visconti e Michelangelo Antonioni. Visconti (1906-1976). Conde de Lonate Pozzolo e Signore de Corgenno e Consignore de Soma, Grenna e Agnaldello, era aristocrata de nascença, esteta de coração e marxista por convicção. Criou painéis monumentais, como Rocco e Seus Irmãos (1960) e O Leopardo (1963), até ser derrubado por um derrame cerebral em 1972 e morrer quatro anos depois.

Antonioni tomou outro rumo. Foi o mestre do desespero seco. Ao contrário de Visconti, que fez seus personagens uivarem como na ópera, ou de Fellini, com suas tiradas cômicas, de teatro de revista, ele criou uma estética do vazio, das elipses e do silêncio, com suas cenas aparentemente intermináveis e gente que desaparece inexplicavelmente (A Aventura, 1960) ou que anda, anda, anda, não se sabe a caminho de onde nem para quê.

APLAUSOS DO POVO – O nível, naqueles anos em que a plateia podia escolher entre Ben-Hur, Cleópatra (ambos filmados, na Cinecittà) e os produtos dos inspiradíssimos diretores italianos, estava nas estrelas.

O cinema italiano, ao lado do americano, era o único de “raízes”, isto é, nacional, mostrando a cara do país onde era feito. Mesmo com sua fabulosa coleção de cinco Oscar (maior que a de qualquer cineasta americano), por A Estrada da Vida, em 1956, até o que o premiou pelo conjunto da obra, em março de 1993. Fellini estava sem filmar há três anos, desde As Vozes da Lua. Pouca gente duvida, hoje, que entre os gigantes da sua geração ele tenha sido o maior.

O povo, e não só os críticos, o adorava nos seus 100 quilos e chapéu de feltro, comendo, bebendo e falando com exuberância ao lado da mulher e atriz durante meio século, Giulietta Masina (1921-1994), a Gelsomina. Cabiria e Julieta de seus filmes, com quem fez cinquenta anos de casado na véspera de morrer. Quando se anunciou que ganharia seu quinto Oscar, os motoristas do ponto de táxi da Piazza del Popolo, perto da casa onde morava em Roma, se perfilaram, bateram continência, molharam suas roupas com champanhe e o aplaudiram. Foi velado na Cinecittà, ao somde músicas de seu compositor de tantos filmes, Nino Rota, e enterrado em Rimini. O mundo inteiro o reverenciou. Ele merecia.

Ettore Scola é o autor da homenagem mais bonita já feita ao cineasta, o filme “Que estranho chamar-se Federico”, de 2013, no qual afirma que, com sua morte, “caiu uma cortina que deixa passar apenas brilhos pálidos”.

Sua partida, em 30 de outubro de 1993, deixou um vazio na história do cinema, pois Federico Fellini pode ser citado, imitado, mas nunca reproduzido em sua plenitude, por ser algo que ultrapassa as linhas do cinema.

Eram 12h (horário local) de um domingo ensolarado do final de outubro de 1993. Na policlínica Umberto Primo, em Roma, apenas 24 horas após seu 50º aniversário de casamento com Giulietta Masina, Fellini estava de partida.

Desde então a sombra de sua genialidade espalhou-se pelo cinema e pela cultura internacional, e milhares de páginas foram escritas sobre a sua obra, a sua vida, o seu mundo interior.

(Fonte: Veja, 4 de janeiro, 1995 – ANO 28 – N° 1 – Edição 1373 – LIVROS/ Diogo Mainardi – Pág; 98/99)
(Fonte: Veja, 10 de novembro, 1993 – ANO 26 – N° 45 – Edição 1313 – MEMÓRIA/ Geraldo Mayrink – Pág; 122/123)

(Fonte: https://cultura.estadao.com.br/noticias/cinema – NOTÍCIAS / CINEMA / Por ANSA – 29 Outubro 2018)

(Créditos autorais: https://www.msn.com/pt-br/estilo-de-vida/lifestylegeneral – ESTILO DE VIDA/ GERAL/ por (ANSA)/ História por admin3 – ROMA, 31 OUT 23)

Academia escolhe os filmes do ano

Amarcord, de Federico Fellini, foi o escolhido como o melhor filme estrangeiro e levou a estatueta. Fellini já havia vencido na mesma categoria com 8 1/2.

(Fonte: Zero Hora – ANO 51 – N° 18.078 – HÁ 40 ANOS EM ZH – 13 de abril de 1975/2015 – Pág: 36)

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