“Eu quero tirar a ciência do domínio exclusivista dos sábios para entregá-la ao povo.” Edgard Roquette-Pinto (1884-1954), foi um dos maiores defensores da radiodifusão educativa no Brasil

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Eu quero tirar a ciência do domínio exclusivista dos sábios para entregá-la ao povo.”

(Edgar Roquette-Pinto)

Um dos maiores defensores da radiodifusão educativa no Brasil, Edgard Roquette-Pinto (1884-1954) teve importante papel na divulgação da ciência no início do século 20.

Formado pela Faculdade de Medicina, iniciou em 1906 sua carreira de professor na Seção de Antropologia, Etnografia e Arqueologia do Museu Nacional, de onde foi posteriormente diretor. No ano seguinte, incorporou-se à expedição Rondon, no Mato Grosso, e investigou os índios Pareci e Nhambiquara, publicando obra de grande interesse geográfico e etnológico. Foi também professor de História Natural e sempre atuante no campo da educação, tomando parte no movimento de renovação educacional no Brasil e assinando o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova de 1932.

À época em que ingressou no Museu Nacional, iniciou também duas atividades de divulgação científica, às quais deu prosseguimento ao longo de toda a carreira. Para isso, usou diferentes estratégias e meios de comunicação, como livros, exposições e até as novas tecnologias de sua época, o cinema e o rádio – além de criar bibliotecas e filmotecas, Roquette-Pinto produziu inúmeros programas de rádio e filmes educativos e de divulgação científica.

Foi um dos idealizadores da Sociedade Brasileira da Ciências (atual Academia Brasileira de Ciências), criada em 1916 com o objetivo de dedicar-se ao estudo e à propaganda das ciências no país. Nessa instituição, assumiu o posto de primeiro secretário da diretoria presidida por Henrique Morize, ao lado de Amoroso Costa no cargo de segundo secretário.

Roquette-Pinto também fez parte de um grupo de intelectuais e cientistas, atuantes no início do século 20, que tinham como propósito a valorização da pesquisa básica. Eram professores, cientistas, engenheiros, médicos e outros profissionais liberais ligados em geral às principais instituições científicas e educacionais do Rio de Janeiro. Neste grupo, tinha colegas como Miguel Ozorio de Almeida e seu irmão, Álvaro, Manoel Amoroso Costa, Henrique Morize, Juliano Moreira, Roberto Marinho de Azevedo, Edgard Süssekind de Mendonça, Lélio Gama, Teodoro Ramos, Francisco Venâncio Filho e outros.

Principais contribuições no campo da educação e divulgação das ciências

Primeiros passos – o Museu Nacional: Paralelamente às atividades propriamente científicas, Roquette-Pinto desenvolveu atividades de divulgação científica no museu – instituição que, para ele, deveria ter também caráter educativo. Como exemplo, podemos citar o documentário Os Nhambiquaras, de 1912, e a confecção dos Quadros didáticos de História Natural, para uso em sala de aula, em 1920, além da montagem de diversas exposições.

Educação nas ondas da rádio: Roquette-Pinto idealizou e participou ativamente da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, fundada com o objetivo de difundir assuntos culturais e científicos.Os programas veiculavam, além de música e notícias, inúmeros cursos dos mais variados temas – do inglês à história do Brasil, passando pela química e pela literatura francesa. O divulgador também se dedicou à apresentação do programa Jornal da Manhã e à elaboração de textos para a Hora Infantil. Escreveu, ainda, inúmeros artigos sobre radiodifusão. Em 1934, criou a Rádio Escola Municipal do Rio de Janeiro, emissora que hoje leva seu nome.Como demonstram suas atividades, Roquette-Pinto acreditava que o rádio (como o cinema) teria papel fundamental na solução dos problemas educacionais no país: “Para nós o ideal é que o cinema e o rádio fossem, no Brasil, escolas dos que não têm escola”, declarou.

Publicações: Além dos livros de caráter mais técnico, como Rondônia (1917), Roquette-Pinto publicou livros de divulgação científica, começando com Conceito atual de vida (1922). Assinou também artigos de divulgação científica em várias publicações, como A Manhã, A Noite, Diário Carioca e Jornal do Brasil. Os temas incluíam não só a questão educativa e de radiodifusão, mas também a valorização do homem brasileiro, pesquisa básica, ciência e arte, literatura, populações indígenas e tendências da medicina moderna. Porém, escrever textos de divulgação não foi sua única contribuição para a área. O divulgador criou e editou revistas que permitiram aos cientistas escrever para o público leigo, como Radio – Revista de Divulgação Científica Geral, lançada em 1923, Electron, criada em 1926, e Revista Nacional de Educação, de 1932.

Educação em ciências no cinema: Desde que iniciou, em 1910, a filmoteca do Museu Nacional, Roquette-Pinto dedicou atenção especial ao cinema como meio de divulgação científica – um exemplo são os documentários da Comissão Rondon, em 1912. Dirigiu o Instituto Nacional de Cinema Educativo (INCE) de 1936 a 1947, incentivando a participação de cientistas na elaboração dos filmes e a escolha de temáticas científicas e técnicas.

Fontes:
MASSARANI, Luisa. A divulgação científica no Rio de Janeiro: Algumas reflexões sobre a década de 20. Rio de Janeiro: IBICT e UFRJ, 1998. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Instituto Brasileiro de Informação em C&T e Escola de Comunicação, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1998.

MOREIRA, Ildeu de Castro; MASSARANI, Luisa; ARANHA, Jayme. “Roquette-Pinto e a divulgação científica”. In: LIMA, Nísia Trindade; SÁ, Dominichi Miranda (orgs.). Antropologia Brasiliana – Ciência e educação na obra de Edgar Roquette-Pinto. Belo Horizonte / Rio de Janeiro: Editora UFMG / Editora Fiocruz, 2008.

(Fonte: http://www.museudavida.fiocruz.br/brasiliana – A DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA NO BRASIL)

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