Ernst Mayr, evolucionista, um dos mais respeitados especialistas da área

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Ernst Mayr, gigante do darwinismo

Biólogo alemão,  criou o conceito moderno de espécie e era um dos cem maiores cientistas da história

 

Ernst Mayr sorri durante entrevista dada à Folha em sua casa nos EUA, em maio de 2004 (Marcelo Leite/Folha Imagem)

 

 

Ernst Mayr (Kempten, Alemanha, 5 de julho de 1904 – Bedford, EUA, 3 de fevereiro de 2005), evolucionista, um dos mais respeitados especialistas da área, dizem que as tentativas de contatar extraterrestres são inúteis.

A chance de uma civilização evoluir o suficiente para enviar mensagens ao espaço é ínfima. Na Terra, onde há milhões de espécies, apenas uma tem essa capacidade e demorou 4,5 bilhões de anos para desenvolvê-la.

O zoólogo alemão Ernst Mayr, considerado um dos cem cientistas mais importantes da história, era o último representante da chamada Moderna Síntese evolucionista, que na década de 1940 deu à teoria da evolução sua roupagem atual.

Professor emérito da Universidade Harvard e conhecido como o Darwin do século 20, Mayr em seus 80 anos de carreira, iniciados na década de 20 na Universidade de Berlim, foi tanto um participante quanto um observador privilegiado da história de sua disciplina. Sua pesquisa começou em ornitologia, com a primeira documentação das aves-do-paraíso das montanhas da Nova Guiné, passou pela taxonomia, biogeografia e evolução.

Seu último livro, “What Makes Biology Unique? (“O Que Torna a Biologia Única?”), publicado em agosto, tratava da filosofia da biologia e era considerado por Mayr uma de suas obras mais provocadoras, por defender que a biologia não pode ser olhada com a mesma lupa que as ciências físicas.

 

Aves-do-paraíso

 

Ernst, como era conhecido pelos colegas, nasceu em Kempten, Alemanha, em 5 de julho de 1904. De família de médicos, foi cursar medicina na Universidade de Greifswald em 1925. Logo, sua vontade de conhecer lugares distantes o fez largar a carreira médica e estudar ornitologia. Em 1927, formou-se em medicina e conseguiu seu doutorado na Universidade de Berlim. Ele tinha 23 anos.

Naquele ano, durante um congresso de ornitologia em Budapeste, Mayr conheceu o lorde Rotschild, que estava à procura de algum jovem corajoso (ou louco) o suficiente para ir às montanhas Ciclopes, na Nova Guiné, coletar aves-do-paraíso. O ornitólogo alemão se ofereceu na hora, e passaria dois anos e meio embrenhado no mato em busca de populações de ave que, isoladas de outros membros da mesma espécie, acumularam grandes diferenças genéticas ao longo do tempo.

Não seria uma tarefa simples. Sem comunicações com o resto do planeta, Mayr se viu entre guerras tribais e sucumbiu à malária. Foi dado como morto. Mas conseguiu coletar os animais e fazer observações preciosas, que ajudariam a resolver um dos grandes problemas ainda em aberto na teoria da evolução: como as espécies se originam.

Na década de 1920, a teoria de Charles Darwin (1809-1882) estava fora de moda. O autor de “A Origem das Espécies” morrera sem saber como surge a variação entre os organismos -a genética só seria estabelecida no começo do século passado, com a redescoberta dos trabalhos de Gregor Mendel- e sem ter demonstrado com segurança como novas espécies surgem a partir de populações isoladas.

Todas as montanhas tinham o mesmo número de espécies de ave, mas elas eram diferentes de cordilheira a cordilheira, disse, numa entrevista recente a seu ex-aluno Frank Sulloway, pesquisador da Universidade da Califórnia. Esses dois problemas, a adaptação e a diversidade, me levaram a solucionar o problema do processo de especiação.

 

 

Síntese

 

 

Em 1942, após ter emigrado da Alemanha para trabalhar no Museu Americano de História Natural, em Nova York, Mayr publicou o livro “Sistemática e a Origem das Espécies”, no qual resumia suas descobertas em campo e anos de trabalho em espécimes de museu. O livro enunciava o conceito biológico de espécie, definindo a unidade básica da classificação dos seres vivos como um conjunto de organismos que se cruzam entre si, mas que estão sexualmente isolados de grupos semelhantes. Esse conceito é usado até hoje pelos biólogos.

A obra de Mayr seria uma das pedras fundamentais da chamada Moderna Síntese Evolucionista, como é conhecido o conjunto de publicações que uniram a teoria de Darwin com a sistemática, a genética e a paleontologia. A síntese havia sido iniciada em 1937, com o livro “Genética e a Origem das Espécies”, do russo Theodosius Dobzhansky (1900-1975), e seria completada pelos trabalhos de Mayr, do paleontólogo americano George Gaylord Simpson (1902-1984), do zoólogo inglês Julian Huxley (irmão do escritor Aldous Huxley e neto do naturalista T. H. Huxley (1825-1895), melhor amigo de Darwin) e pelo botânico Ledyard Stebbins (1906-2000). Esses cientistas resgataram o darwinismo, colocando-o de volta em seu pedestal de teoria central da biologia.

 

 

 

Buldogue de Darwin

 

 

Em seus escritos e em suas conferências, Mayr sempre mostrou ao mesmo tempo a arrogância de quem havia transformado uma disciplina e o ânimo de alguém completamente apaixonado pelo seu trabalho e pela defesa incondicional do paradigma evolutivo.

Seus livros escritos para o grande público, embora careçam da exuberância estilística dos de seu colega de Harvard Stephen Jay Gould (morto em 2002), conseguem explicar a evolução com uma clareza assombrosa -e até um certo charme, devido à sua rabugice germânica. Infelizmente, obras essenciais como One Long Argument (“Um Extenso Argumento”), de 1997, e What Evolution Is (“O Que é Evolução”), de 2001.

Mayr formou e inspirou várias gerações de biólogos. Entre suas crias estão o best-seller Jared Diamond, da Universidade da Califórnia em Los Angeles, e os brasileiros Antônio Brito da Cunha e Naércio Menezes, da USP.

“As pessoas me perguntam quando eu me tornei um darwinista. Eu acho que nasci um darwinista”, disse à Folha em 2004.

(Fonte: Veja, 25 de junho, 2008 – Ano 41 – N° 25 – Edição 2066 – Geral – Especial/ Por Rafael Corrêa – Pág; 105)

(Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia – FOLHA DE S.PAULO – CIÊNCIA – EVOLUÇÃO / Por (CLAUDIO ANGELO) – São Paulo, 05 de fevereiro de 2005)

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