Edward Hopper, artista que reinventou a maneira de ver as paisagens naturais e as figuras humanas dos EUA

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Um mestre do olhar americano

Edward Hopper, o realista que capturou a alma de seu país

Edward Hopper (Nyack, Nova York, 22 de julho de 1882 – Nova York, 15 de maio de 1967), artista que reinventou a maneira de ver as paisagens naturais e as figuras humanas dos Estados Unidos.

Hopper era da raça dos heróis obscuros. Alto como um pivô de basquete, sereno, tímido e nada opiniático, cresceu com uma candura especial pelas angústias das pessoas comuns. Teria sido um grande confortador de almas se não tivesse se dedicado a pintá-las. Jovem talento rejeitado pelos acadêmicos da época, vendeu o primeiro quadro em 1913, aos 31 anos, por 250 dólares.

Só viria a vender outra obra, uma gravura, dez anos depois. Apenas muito mais tarde, aos 42 anos, começou a ser respeitado como artista. Ser excluído do mundo oficial da arte não lhe envenenou os sentidos. Sobreviveu como ilustrador, fazendo cartazes de cinema e anúncios de teatro. Odiava esse trabalho, mas saía de casa disciplinadamente, todos os dias, em busca de serviço.

O verão era para ele a estação do ano mais produtiva. Seus melhores quadros retratam pessoas imersas num tempo quente, com o rosto escandalosamente sem expressão, como se os olhos tivessem evaporado das órbitas. A composição de cada quadro, no entanto, transpira uma intimidade psicológica complexa. A angústia, a solidão e o pessimismo são sublimados pelo silêncio e pela ampliação dos espaços.

O verão é evidente nas telas, mas a luz branca, paradoxalmente, é invernal. Hopper era reservado, detestava entrevistas. A respeito de seus objetivos, disse apenas que desejava “pintar a luz do sol totalmente branca, sem nenhum pigmento amarelo”. Segundo ele, “qualquer ideia psicológica terá de ser fornecida posteriormente pelo observador da tela.”

VITRINES DE AÇOUGUE – O próprio Hopper forneceu as chaves para decifrar os enigmas psicológicos propostos por suas telas. Falcões da Noite, de 1942, é um exemplo. Hopper foi o primeiro artista a descobrir a luz fluorescente, popularizada dois anos antes nos Estados Unidos. O impacto de Falcões da Noite foi bastante atenuado, no decorrer dos anos, pelas contrafações.

O quadro reaparece, de tempos a tempos, com gente famosa substituindo os personagens anônimos do original. As versões dom Elvis Presley, Marilyn Monroe e Humphrey Bogart são as mais conhecidas. Mas, mesmo nas cópias, há uma sensação de tragédia, de vidas que escapam de seus donos, num bar  iluminado com as lâmpadas fluorescentes ideais para vitrines de açougue. A vida humana assim dissecada, sem sombras, atrai e repele o olhar ao mesmo tempo.

Mas, mesmo nas cópias, há uma sensação de tragédia, de vidas que escapam de seus donos, num bar iluminado com as lâmpadas fluorescentes ideais para vitrines de açougue. A vida humana assim dissecada, sem sombras, atrai e repele o olhar ao mesmo tempo.

Hopper influenciou gerações de cineastas, escritores e outros pintores, que do abstracionismo ao figurativo, do pop ao neo-realismo lhe pagaram tributo. Nenhum outro pintor ajudou tanto a moldar a cultura popular moderna. Nenhum entendeu tão bem os rumos do país e o juízo que o povo americano fazia de si mesmo.

Ele pintou Domingo de Manhã Cedo nos duros anos 30. O quadro mostra uma fileira de fachadas de pequenas lojas na Sétima Avenida em Nova York que, sob a brutal recessão, resistem inteiras e com alguns sinais de prosperidade. Onde todo mundo via miséria ele enxergou esperança.

Alguns críticos se dividem sobre quem influenciou Hopper e quem foi influenciado por ele no cinema. Questões como essas só ocorrem quando o objeto delas se tornou um fenômeno cultural. Não há dúvida de que o palacete texano de Assim Caminha a Humanidade, com Rock Hudson, Elizabeth Taylor e James Dean, e o motel de Psicose, de Alfred Hitchcock, são extensões diretas de quadros de Hopper. Seus autores admitiram a influência.

Ele deixou algumas dezenas de quadros que testemunham sua convivência quase diária com o mundo do teatro e do cinema. São cenas estranhas, evocações da época em que ganhava a vida como ilustrador, em que o pintor se coloca como um observador distante de uma cena aparentemente banal mas sobre a qual ele faz seu julgamento, como no quadro Primeira Fila da Plateia, de 1951.

A pintora Josephine Verstille Nivison (1883-1968), a “Jô”, com quem Edward Hopper se casou em 1924 para se dedicar a uma vida monogâmica e sem filhos, doou todo o acervo da família para o Museu Whitney.

Ao contrário do marido, Jo era energética e falante. Morreu um ano depois do pintor e foi sua mais constante modelo feminina. Nunca cozinhou nem lavou para o marido. Hopper fez diversas caricaturas do casal. Numa delas, ele aparece como um sujeito esquelético implorando comida e atenção da mulher, que está sentada numa nuvem ohando o infinito. A expressão facial da caricatura é a mesma em que ele a pintou na tela Sol da Manhã, de 1952, uma composição na qual, entre a alienação e a solidão, um quase intangível sensualismo se insinua.

O quadro tem a exata, contida receita de sensualismo da qual Hopper nunca se afastou. Outro formidável intimista contemporâneo, o francês Balthus (Balthazar Klossowski), pintor adolescentes erotizadas em paisagens desertas e interiores poéticos muito parecidos com os de Hopper.

A perversão os separa. A sugestão lírica, quase literária, é que faz de Edward Hopper um fenômeno especial. Não se pode compará-lo também contra Andrew Wyeth (1917-2009), o famoso neo-realista americano autor de O Mundo de Christina, que na década de 60 encantou com sua crueza de linhas até o líder soviético Nikita Kruschev.

Abaixo deles encontra-se Norman Rockwell (1894-1978), o ilustrador também tão conhecido e americano quanto o Grand Canyon, cujas mulheres são explicitamente assexuadas. Rockwell nunca deu um salto artístico genuíno como o de Hopper. Acabou ilustrando o calendário dos escoteiros.

Hopper morreu em maio de 1967, aos 85 anos, enquanto trabalhava em seu ateliê no bairro de Greenwhich Village, em Nova York. Deixou uma produção artística que, na avaliação do crítico Robert Hughes, o coloca como o mais original pintor americano do século 20, ao lado de Jackson Pollock, seu avesso mas não necessariamente seu antípoda.

(Fonte: Veja, 19 de julho de 1995 – ANO 28 – Nº 29 – Edição 1401 – ARTE/ Por Eurípedes Alcântara, de Nova York – Pág: 106)

 

 

 

Cronologia da vida de Edward Hopper

1882 

Julho de 22, Edward Hopper nasce em Nyack, New York (EUA), filho de Garret Henry Hopper e Elizabeth Griffiths Smith Hopper, funcionários da Nyack High School 

1899-1900 

Com o apoio dos seus pais, estuda ilustração na Escola Nova-iorquina de Ilustração 

1900-1906 

Transfere-se para a Escola Nova Iorquina de Arte, onde começa a realizar os seus sonhos artísticos. Estuda ilustração com Arthur Keller e Frank Vincent DuMond, sob a orientação de Robert Henri (o pai do Realismo americano), William Merritt Chase e Kenneth Hayes Miller. Pinta “Solitary Figure in a Theatre” 

1905 

É contratado como ilustrador pela C. C. Phillips & Company, uma agência nova-iorquina de publicidade 

1906 

Visita Paris, onde pinta as ruas da cidade de forma Impressionista e com caricaturas em aquarela. 

1907 

Participa da sua primeira exibição, organizada por quinze estudantes de Robert Henri no antigo prédio do Harmonie Club, localizado no 43-45 West Forty-second Street, Nova York 

1909-1910 

Visita Paris pela segunda vez. A estadia na cidade durante alguns anos incutiu-lhe o espírito impressionista que manteve até ao fim da vida, persistindo indiferente a todos os movimentos artísticos emergentes na sua época 

1913 

Durante a Exibição Internacional de Arte Moderna, a Armory Show, vende a sua primeira tela, “Sailing” (1911). Muda-se para o andar superior do estúdio localizado na 3 Washington Square North, Nova York, onde vive até a sua morte 

1915-1924

Aprende a técnica da água-forte e concentra-se em artes gráficas impressas. Pinta “American Landscape” (1920) 

1920 

Expõe pela primeira vez em mostra individual as suas pinturas, principalmente as dos seus anos em Paris no Whitney Studio Club. Nenhuma de suas pinturas foi vendida e aos 37 anos, ainda dependente financeiramente do seu trabalho como ilustrador para ganhar a vida, começa a duvidar de que terá sucesso como artista 

1923 

Começa a pintar com aquarela e tem um dos seus trabalhos comprados pelo Brooklyn Museum. Recebe prêmios por suas pinturas em água-forte exibidas em Chicago e Los Angeles. Apresenta seus trabalhos no Clube Nacional de Artes, em Nova York 

1924 

Casa-se com a pintora Josephine Verstille Nivison. Aproxima-se de Frank Rehn, que lhe oferece a sua primeira exibição individual em uma galeria comercial, a Rehn, em Nova York. Todas as suas 16 pinturas são vendidas, permitindo a Hopper deixar o emprego que odiava, de ilustrador comercial, e encorajando-o a pintar em tempo integral. 

1927 

Pinta a tela “Automat”. Com a venda de “Two on the Aisle” por 1.500 dólares, compra seu primeiro carro, um Dodge 1925. 

1929 

Suas obras entraram para o acervo do Museu de Arte Moderna em Nova Iorque, o MoMA 

1930

Pinta “Early Sunday Morning”. Hopper e sua esposa alugam um estúdio/casa em South Truro, Massachusetts, em Cape Cod. No balneário, que está presente em muitas de suas obras, o pintor começa a passar todos os seus verões 

1933 

Aos 51 anos, consegue sua primeira exposição individual em larga escala, no Museu de Arte Moderna de Nova York. Foram 25 pinturas a óleo, 37 aquarelas e 7 gravuras 

1935 

Pinta “House at Dusk”. Recebe o prêmio “Temple Gold Medal” da Academia de Finas Artes da Pensilvânia 

1940 

Pinta “Office at Night” 

1942 

Pinta “Nighthawks”, seu mais famoso trabalho, comprado pelo Instituto de Arte de Chicago. Ganha notoriedade da noite para o dia e transforma-se em ícone americano 

1945 

Recebe prêmios do Instituto de Artes Logan e do Instituto de Artes de Chicago 

1950 

Grande exposição retrospectiva no Museum Whitney de Arte Americana, que excursiona pelo Museu de Artes Finas, em Boston, e pelo Instituto de Artes de Detroit. Ganha o título de Doutor de Artes Finas do Instituto de Artes de Chicago. Pinta “Cape Cod Morning” 

1952 

É um dos quatro artistas escolhidos pela Federação Americana de Artes para representar os Estados Unidos na Bienal de Veneza. Pinta “Morning Sun” 

1953 

Recebe o título de Doutor das Letras da Universidade de Rutgers. O Metropolitan Museum compra “Office in a Small City” 

1955 

Medalha de Ouro pela pintura apresentada pelo Instituto Nacional de Artes e Letras em nome da Academia Americana de Artes e Letras 

1956 

Participa da Fundação Huntington Hartford, na Califórnia, por seis meses

1959 

Exibição individual na Galeria de Arte Currier. Faz uma excursão pela Escola de Designer Rhode Island em dezembro 

1960 

Pinta “Second Story Sunlight” 

1962 

Em outubro e novembro, temporada de “O Trabalho Gráfico Completo de Edward Hopper” no Museu de Arte da Filadélfia 

1963 

Recebe prêmio do Clube St Botolph, de Boston. Exibição retrospectiva na Galeria de Arte Arizona, em South Truro. Pinta “Sun in an Empty Room” 

1964 

Em maio, uma indisposição o mantém longe da pintura. Recebe o prêmio M.V. Khonstamn do Instituto de Arte de Chicago. Entre setembro e novembro, a principal exibição retrospectiva do Museum Whitney de Arte Americana viaja para o Instituto de Arte de Chicago e é bem recebida pela crítica 

1965 

A retrospectiva viaja para o Instituto de Arte de Detroit e Museu de Arte de St Louis. Recebe o título de “Doutor de Artes Finas” do Colégio de Arte da Filadélfia. Em 16 de julho, morre a sua irmã Marion. Termina de pintar “Two Comedians” 

1966 

É premiado com a Medalha Edward MacDowell 

1967 

Em 15 de maio, aos 79 anos, Edward Hopper morre em seu estúdio na 3 Washington Square North 

1968 

Sua esposa Jo Hopper morre em 6 de março

(Fonte: http://revistaepoca.globo.com/Epoca – Cronologia da vida de Edward Hopper)

Copyright © 2015 – Editora Globo S.A.

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