Diana Vreeland, foi editora das revistas Vogue e Harper’s Bazaar, as maiores publicações de moda

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Diana Vreeland: a encarnação do luxo e seu faro infalível para descobrir novos talentos

 

Diana Vreeland: genial e geniosa - Divulgação

Diana Vreeland: genial e geniosa – Divulgação

Lendária editora de moda da Harper’s Bazaar ‘descobriu’ Lauren Bacall e Twiggy

Diana Vreeland (Paris, 29 de julho de 1903 – Nova York, 22 de agosto de 1989), uma das maiores especialistas americanas em alta-costura, era considerada a grande dama da moda nos Estados Unidos. Foi editora das revistas Vogue e Harper’s Bazaar, duas das mais importantes publicações de moda, nas quais trabalhou durante três décadas.

Diana Vreeland foi uma das principais divulgadoras do biquíni nos anos 50, ao escrever na Harper’s Bazaar que a peça era a mais importante criação do homem desde a bomba atômica.

Diana Vreeland foi considerada um “Ícone de Estilo”, uma “Imperatriz da moda”, uma “Soberana do luxo” - (Foto: DuJour/Divulgação)

Diana Vreeland foi considerada um “Ícone de Estilo”, uma “Imperatriz da moda”, uma “Soberana do luxo” – (Foto: DuJour/Divulgação)

Seu trabalho na Vogue imortalizou a figura de ícones da moda da época como TwiggyMarisa Berenson e Cher e transformou em paradigmas de beleza mulheres consideradas visualmente “estranhas” como Barbra Streisand e Anjelica Huston, tudo a partir de um escritório pintado com paredes de vermelho vivo e almoçando diariamente um sanduíche de pasta de amendoim com uma dose de uísque.

Quando, na década de 1980, o editor George Plimpton perguntou a Diana Vreeland – a lendária editora de moda da “Harper’s Bazaar”, editora-chefe da “Vogue” e curadora do Instituto de Vestuário do Metropolitan Museum of Art – o que poderia ajudar uma pessoa a ser, como ela, um “Ícone de Estilo”, uma “Imperatriz da moda”, uma “Soberana do luxo” (todas expressões usadas para descrevê-la), Diana respondeu com uma de suas célebres frases: “Meu querido, a primeira coisa a providenciar é nascer em Paris. Depois disso, tudo segue bem naturalmente.”

É uma deliciosa piada para uma mulher que nasceu em Paris durante a Belle Époque, mas emigrou ainda menina para Nova York às vésperas da Primeira Guerra Mundial, mudou-se para Londres logo depois da Grande Depressão e por fim retornou a Nova York no início da Segunda Guerra Mundial para tornar-se uma lenda do luxo e do estilo sem nunca ter tido uma educação formal.

“Você tem que ter estilo. Ele te ajuda a descer a escada. Ele te ajuda a levantar de manhã. É um modo de vida. Sem ele, você não é nada”, afirmou, na biografia “D.V.”, editada por Plimpton em 1984 e imediatamente transformada numa espécie de manual fashion até hoje. A mulher que criou a figura da editora de moda como conhecemos hoje viveu uma vida luxuosa de verdade (e eu não me refiro a dinheiro).

Diana nasceu Diana Dalziel, filha do corretor inglês Frederick Dalziel e da socialite americana Emily Hoffman. Emily não era exatamente uma supermãe. Vivia lembrando a menina sobre sua aparência em comentários do tipo: “É muito chato que você tenha uma irmã tão bonita e que seja tão feia e tão terrivelmente invejosa dela”.

“Pais, você sabe”, diz Diana em sua biografia, “podem ser terríveis.”

No documentário “Diana Vreeland: the eye has to travel”, lançado em 2011 e dirigido por Lisa Imordino Vreeland (mulher do neto Alexander), percebe-se que a autoestima de Diana só se fortaleceu de vez com o casamento com o banqueiro bonitão Reed Vreeland, que a adorava. Com isso, Diana desenvolveu um olhar para enxergar muito além das aparências, especialmente o extraordinário e o incomum.

Diana conseguia ver o melhor nas pessoas e desenvolvê-lo – diz a estilista Diane Von Furstenberg em “The eye has to travel”, ela mesma uma descoberta de Diana.

Em 1936, a então editora-chefe da “Bazaar”, Carmel Snow, encantou-se com aquela morena exótica, nariguda, vestida de Chanel e dançando nos salões do Hotel St. Regis em Nova York. Imediatamente lhe ofereceu uma coluna chamada “Why don’t you…” (Por que você não…), em que Diana dava os mais loucos conselhos de estilo de vida num momento em que o mundo rumava para um de seus piores conflitos planetários com a ascensão de Hitler e do nazismo. “Por que você não pinta um mapa-mundi nas paredes do quarto de seus filhos para que eles não cresçam tendo uma visão muito provinciana de mundo?”. Luxo.

Em pouco tempo, Diana se tornava editora de moda da revista, um cargo que, aliás, ela simplesmente reinventou, tirando de cena as conversas de dondocas e trazendo um olhar que misturava moda, arte, comportamento, música, literatura. Em 1947, foi a primeira a fotografar uma modelo de biquíni, causando horror em sua equipe. Disse ela então: “Com uma atitude dessas, vocês mantêm a civilização atrasada uns mil anos.” Mais tarde, descobriu o blue jeans.

Foi dela o olhar que fez de Lauren Bacall modelo muito antes da atriz hollywoodiana de sucesso que se tornou. E Anjelica Houston. E Twiggy. E Edie Sedgwick. E Penelope Tree. E Veruschka. Ao mesmo tempo, ajudou a turbinar a carreira de fotógrafos como Richard Avedon, Irving Penn, David Bailey, Patrick Litchfield e Cecil Beaton. Trouxe para a revista de moda gente como os Beatles, Elizabeth Taylor, Barbra Streisand (ela celebrou o nariz de Barbra numa capa da “Bazaar” inesquecível).

Ao fim da década de 1950, Carmel saiu de cena, mas Diana não assumiu o cargo de editora-chefe. Ressentimentos afloraram. Em “D.V”., ela sai atirando: “Depois de 28 anos, em 1959, os Hearst (donos da revista) me deram um aumento – mil dólares. Você imagina? Você daria à sua cozinheira isso depois de 28 anos trabalhando para você?”

Em 1962, aceitou o convite de Sam Newhouse, que acabara de comprar a Condé Nest, para ser editora-chefe da “Vogue”. E voou ainda mais alto. Era a editora-chefe que não poupava dinheiro para mandar suas equipes aos lugares mais exóticos para fazer as produções mais incríveis. E agigantou a figura irascível que humilhava assistentes, gritava e deixava a todos terrivelmente intimidados com sua presença, de modelos a estilistas, o verdadeiro “Diabo veste Prada”. Quando o marido morreu, em 1966, foi ao velório de branco. E passou a frequentar festas e sair com jovens talentos. É absolutamente hilária a história do dia em que o ator Jack Nicholson, com dor nas costas, fez Diana cruzar Nova York atrás de um emplastro. Nicholson não aguentava de dor e, sem maiores formalidades, arriou as calças e fez a própria Diana colocar o emplastro no corredor do banheiro de um restaurante.

“Que maravilha”, disse ela, diante do derriére do ator. “Eu devo dizer que sua química é muito boa: redonda e rosa”.

Tornou-se consultora (e amiga) de Jackie Kennedy. Frequentava Warhol e sua Factory, dançava no Studio 54, até que os diretores da “Vogue” começaram a enjoar de sua linha editorial muito focada em novas tendências e reclamar do custo de manutenção da revista. Em 1971, foi demitida.

O que parecia o fim de uma carreira, com ela próxima do 70 anos, transformou-se em sua mais espetacular virada profissional, ao assumir a curadoria do Instituto de Vestuário do Metropolitan Musem, onde não apenas organizou as mostras de roupas e grifes mais sensacionais, reunindo um público jamais visto no museu, como angariou fundos e modelitos para o acervo do instituto. “Eu tinha 70 anos”, disse ela no documentário. “O que esperavam que eu fizesse? Me aposentar?”.

O trunfo de Diana à frente do instituto, segundo sua biografia, não foi apenas exibir os figurinos de balés russos ou modelos magníficos de castings hollywoodianos, mas contextualizá-los em suas épocas, mostrando costumes, hábitos e rotinas correlatas, espécies de crônicas da vida privada de cada momento. Uma exibição de Balenciaga ou YSL não era apenas um apanhado de vestido de alta-costura. Era a interpretação da moda no costume da época e da própria História do vestuário.

Uma de suas manias era de que suas assistentes mais próximas usassem bijuterias barulhentas e enormes, com guizos, para que ela sempre soubesse quando estavam por perto.

Diana Vreeland foi uma das principais divulgadoras do biquíni nos anos 50, ao escrever na Harper’s Bazaar que a peça era a mais importante criação do homem desde a bomba atômica.

Nos últimos anos, trabalhava no Museu Metropolitano de Nova York, cujas exposições de moda atraíam 1 milhão de pessoas por ano.
Diana Vreeland morreu dia 22 de agosto de 1989, aos 86 anos, de ataque cardíaco, em Nova York.

(Fonte: Veja, 30 de agosto de 1989 – ANO 22 – Nº 34 – Edição 1094 – DATAS – Pág; 87/88)

(Fonte: http://oglobo.globo.com/ela/moda – MODA / POR GILBERTO SCOFIELD JR. – 11/12/2013)

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