David Riesman, sociólogo americano cujo livro mais conhecido, A Multidão Solitária, causou tanto impacto que conquistou leitores bem além dos círculos acadêmicos

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Um grandíssimo sociólogo americano: autor de “A Multidão Solitária” (1950) -uma obra ainda profética.

David Riesman (quotesgram.com)

David Riesman (quotesgram.com)

David Riesman (Filadélfia, Pensilvânia, 22 de setembro de 1909 – Binghamton, 10 de maio de 2002), sociólogo americano cujo livro mais conhecido, A Multidão Solitária, causou tanto impacto que conquistou leitores bem além dos círculos acadêmicos.

Riesman descrevia três tempos de nossa cultura: 1) um passado, em que a vida era regrada por tradições e costumes instituídos, 2) a modernidade, animada pelo projeto interior do indivíduo, sua vontade de mudar a si próprio e ao mundo, 3) os dias de hoje, em que (pressentimento milagroso) não somos definidos pela tradição ou pela certeza de nossos projetos: o critério que nos orienta é o que os outros pensam de nós. Somos sociais como nunca, pois só existimos na (e pela) multidão. Somos solitários como nunca, pois, na hora de dialogar, é difícil encontrar sujeitos que sejam gente: esbarramos nos reflexos das identidades que a multidão reconhece e festeja.

Riesman constatou, por exemplo, que, na formação dos jovens, o grupo de pares (que aprova ou desaprova) se tornava tão importante quanto a hierarquia familiar. Numa época ainda sem televisão, ele previu que, nas escolhas políticas, triunfaria o marketing: não votaríamos para defender uma idéia, mas em quem nos seduzisse (ou, eu preferiria, em quem nos parecesse suscetível de ser seduzido por nós). Nesse mundo, o valor das mercadorias é cada vez menos decidido pelo custo ou pelo valor de uso: as mercadorias valem pela aprovação que encontram na opinião da multidão.

Por que teria sido diferente quando se tratou de convencer o cidadão contemporâneo a investir sua poupança em ações? O valor intrínseco das empresas (critério dos investidores do passado) cedeu o passo ao mesmo tipo de argumentos que influenciam o consumidor.

Graduado em Harvard, Riesman publicou A Multidão Solitária em 1950, com a assistência de Nathan Glazer e Reuel Denney. O livro argumentava que a sociedade estava em transição de um estágio “orientado para dentro” para um estágio “orientado para o outro”. As pessoas, antes influenciadas pelos pais e outras autoridades mais velhas, passavam a depender da aprovação de seus pares.

“As pessoas perdem a liberdade social e a autonomia individual tentando ser como as outras”, Riesman escreveu. O sociólogo antecipou não só a emergência da “cultura jovem”, mas também a confusão entre política e entretenimento, ao descrever um eleitorado que se mantém informado, mas passivo.

David Riesman e Reuel Denney (em pé) - (Foto: Universidade de Chicago)

David Riesman e Reuel Denney (em pé) – (Foto: Universidade de Chicago)

Ao mesmo tempo, a valorização abstrata das ações tornou-se a missão prioritária dos dirigentes (em vez dos fundamentos: produtividade, crescimento etc.) simplesmente porque essa valorização atrairia investidores cada vez mais tratados como fregueses.

Um belo dia, o divórcio entre o valor fictício produzido pelo poder de sedução de uma marca e o valor efetivo da empresa acabou assustando muitos.

A crise, na verdade, era previsível desde que o cidadão comum foi chamado a fazer-se de investidor. Para que não desse em desastre, teria sido necessário dispor de cidadãos que não se definissem como consumidores -ou seja, que não fossem solitários na multidão.

O livro de Riesman tornou-se tema de aulas e reuniões sociais. Seu título foi citado na canção I Shall Be Released, de Bob Dylan. Riesman escreveu ainda Faces in the Crowd e On Higher Education, entre outras obras.

O crítico Jonathan Yardley inclui A Multidão Solitária numa sequência de livros que, durante os anos 50, puseram a classe média americana sob um auto-exame minucioso.

David Riesman faleceu em hospital de Nova York, dia 10 de maio de 2002, de causas naturais, aos 92 anos.

(Fonte: http://cultura.estadao.com.br/noticias/geral – 20020513p2367 – CULTURA – AGÊNCIA ESTADO – 13 de maio de 2002)

(Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq1306200221 – CONTARDO CALLIGARIS – FOLHA DE S.PAULO – ILUSTRADA – 13 de junho de 2002)

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