Cornelius Gurlitt, controverso colecionador de arte alemão, herdeiro de uma luxuosa coleção de arte em parte espoliada aos judeus

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Cornelius Gurlitt, o herdeiro do espólio nazista

O colecionador de arte alemão era acusado de manter 1,4 mil obras que teriam sido saqueadas por nazistas durante a Segunda Guerra Mundial

O alemão possuía o conhecido como Tesouro de Munique, com obras que poderiam proceder das que foram roubadas na II Guerra Mundial

 

 

Cornelius Gurlitt (Oberhausen, Alemanha, 1933 – Schwabing (Munique), 5 de maio de 2014), controverso colecionador de arte alemão, herdeiro de uma luxuosa coleção de arte em parte espoliada aos judeus – cerca de 1400 obras avaliadas em 1 bilhão de euros.

 

Gurlitt era filho do marchand de arte Hildebrandt Gurlitt (1895-1956), próximo ao III Reich, um dos poucos que tiveram autorização do regime nazista para negociar com obras da então chamada “arte degenerada”, que haviam sido retiradas dos museus alemães.

 

Em 2012, a justiça havia confiscado de Gurlitt obras que pertenceram ao seu pai, um marchand de passado turbulento sob o regime nazista (1933-45) no âmbito de uma investigação por fraude fiscal.

 

O colecionador se manteve durante anos em anonimato quase absoluto anonimato, vivendo entre Munique – a capital da Baviera – e Salzburgo, até que sua coleção foi descoberta durante investigações por possível evasão fiscal.

 

O caso teve início em 22 de setembro de 2010, quando, em uma fiscalização de rotina em um trem que ia de Munique a Zurique (Suíça), agentes de alfândega encontraram uma grande quantidade de dinheiro com o colecionador.

 

A descoberta levantou suspeitas e foi iniciada uma investigação que levou, dois anos depois, a uma revista da casa de Gurlitt em Munique, onde estão cerca de 1.400 obras de arte que foram confiscadas.

 

As autoridades conseguiram manter a descoberta em segredo por um ano a mais depois de ter sido foi revelado por uma publicação da revista “Focus”.

 

 

O colecionador alemão Cornelius Gurlitt deixou sua polêmica e valiosa coleção de quadros banidos pelo nazismo para o Museu de Arte de Berna (Suíça) – com o qual, segundo o diretor da instituição, Matthias Frehner, nunca teve relação alguma.

 

 

Segundo o testamento de Gurlitt, que define o Museu de Berna como único herdeiro, leva a crer que o colecionador não queria que as obras permanecessem na Alemanha após sua morte.

 

Durante mais de 50 anos, este homem viveu uma plácida existência, rodeado em sua casa por alguns dos quadros mais destacados da primeira metade do século XX. Mas nos últimos anos de sua vida obteve um protagonismo que nunca desejou. “Não sou Boris Becker. O que essa gente quer de mim? Eu só quis viver com meus quadros. Por que me fotografam esses jornais que só publicam notícias de gente mundana?”, disse ao semanal Der Spiegel no final de 2013.

 

O motivo desse interesse do qual tanto se queixava é que uma parte de sua obra procedia dos negócios que seu pai, Hildebrand, fazia com Adolf Hitler. O líder nazista tinha encarregado ao pai de Cornelius a venda de algumas obras que o regime nacional-socialista considerava “degeneradas”. Hildebrand, historiador de arte, diretor de museu e revendedor, lucrou graças ao Holocausto e à perseguição sistemática aos judeus.

 

 

A última fase da vida de Cornelius Gurlitt, aquela na qual o seu pesar se tornou famoso, começou em setembro de 2010, a bordo de um trem de Munique a Zurique. A descoberta por parte da polícia de que viajava com uma grande quantidade de notas de dinheiro deu início a uma investigação fiscal. A surpresa maior ocorreu no início de 2012, quando em uma investigação em seu apartamento em Munique de 100 metros quadrados no bairro de Schwabing, os agentes acharam uma fabulosa coleção, com 1.280 obras de arte. Entre muitas outras, ali havia pinturas de Pablo Picasso, Marc Chagall, Henri Matisse, Otto Dix e Max Ernst. A descoberta do tesouro se manteve em segredo por um ano até que a revista Focus publicou a história em 2013.

 

 

A polêmica foi perdoada há um mês, quando Gurlitt chegou a um acordo com o Governo federal da Alemanha e da Ilha da Baviera para devolver as obras que tivessem a procedência ilegítima. Para isso, foi estabelecido um comitê de especialistas que terão um ano para selecionar as pinturas e gravuras que terão que ser devolvidas aos herdeiros espoliados.

 

 

Depois deste acordo, a morte de Gurlitt, que nunca teve filhos, não terá um efeito direto no destino da coleção. As pinturas e gravuras seguirão no local onde estão guardadas pelo Governo até que se determine quem são seus legítimos donos. O porta-voz de Gurlitt disse que ele, que estava muito debilitado depois de uma complicada cirurgia no coração, decidira nos últimos dias voltar para a sua casa de Munique, onde recebia os cuidados de um médico e de uma enfermeira. A responsável governamental de Cultura, Monika Grütters, valorizou que, ao aceitar esta solução, Gurlitt “assumia a sua responsabilidade moral”.

 

“Poderiam ter esperado [para confiscar as obras de arte]até que eu tivesse morrido”, dizia Gurlitt no final de 2013 na entrevista que concedeu ao Der Spiegel.

 

Pouco antes de morrer, o colecionador havia chegado a um acordo com as autoridades alemãs para que fosse investigada a origem de cerca de 600 peças de sua extensa coleção, com o propósito de determinar se haviam sido roubadas de seus proprietários judeus durante os anos do regime nazista.

 

Após ser divulgado o testamento, o Ministério de Cultura do estado federado alemão da Baviera anunciou que examinaria se parte das obras da coleção de Gurlitt pode ser considerada patrimônio cultural alemão, o que exigiria uma autorização especial para que deixassem o país.

 

Por sua vez, em declaração a vários veículos imprensa alemães, o diretor do Museu de Arte de Berna se mostrou “gratamente surpreendido”, embora também tenha assumido que se trata de “uma grande responsabilidade” porque o legado tem muitas implicações éticas e jurídicas.

 

Em novembro de 2013, começaram a ser publicadas em uma página da internet os títulos de 590 obras sob suspeita de terem sido guardadas pelo pai de Gurlitt depois que seus proprietários judeus precisaram vendê-las a preços baixos pela pressão da perseguição do regime nazista.

 

Especialmente, dois quadros – “Dois Cavaleiros na Praia”, de Max Liebermann, e “Mulher Sentada”, de Henri Matisse – cuja procedência estava documentada, já que pertenceram a judeus perseguidos, geraram dúvidas sobre boa parte da coleção.

Cornelius Gurlitt faleceu em seu apartamento de Schwabing (Munique), em 5 de maio de 2014, aos 81 anos.

(Fonte: Veja, 14 de maio de 2014 – ANO 47 – Nº 19 – Edição 2 373 – DATAS – Pág: 48)

(Fonte: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/05 – MUNDO / NOTÍCIA / Da EFE – 07/05/2014)

(Fonte: https://brasil.elpais.com/brasil/2014/05/06/cultura – BRASIL / CULTURA / Por LUIS DONCEL / Twitter Berlim – 6 MAI 2014)

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