Considerada a primeira ecologista do mundo
A mulher que descobriu a metamorfose e se embrenhou de espartilho na Amazônia no século 17

Maria Sibylla Merian publicou em 1670, o livro A Maravilhosa Transformação e Peculiar Alimentação das Lagartas, uma obra ilustrada com 50 telas de borboletas em todas as fases do ciclo e com as plantas das quais se alimentavam. (Foto: Cambridge University Library / Divulgação)
A alemã Maria Merian iniciou seus registros científicos ainda na adolescência, sob a forma de desenhos que capturavam cenas do próprio jardim; anos depois, embarcou com a filha para uma viagem de dois anos ao Suriname para investigar o mundo dos insetos.
No século 17, a alemã Maria Merian se propôs a investigar o mundo dos insetos. Acabou desenvolvendo uma forma diferente de pensar e enxergar a natureza e, aos 52 anos, partiu para uma perigosa aventura na América do Sul, para detalhar os ciclos de vida de borboletas, mariposas e outros insetos.

Maria Merian desenvolveu uma forma diferente de enxergar a natureza. Ela é considerada a primeira ecologista do mundo | Imagem: Gravura de Jacobus Houbraken em retrato de Georg Gsell (Foto: BBCBrasil.com)
Os feitos de Merian, numa época em que pouca gente desbravava o continente americano abaixo da linha do Equador – em especial as mulheres -, deram a ela a fama de primeira ecologista do mundo.
Ela nasceu na Alemanha em 1647, numa família de editores, escultores e comerciantes, e logo cedo aprendeu a arte da ilustração.
O interesse pelos insetos surgiu no próprio jardim da casa de Merian, ainda na infância.
Aos 13 anos, ela decidiu pintar o ciclo de vida de um bicho da seda numa época em que o comércio da seda era muito importante em Frankfurt.
Para registrar em imagens o bicho da seda, decidiu fazer uma pesquisa meticulosa, na qual anotava tudo o que prejudicava e ajudava sua ‘criação de lagartas’.
Colocou as lagartas em cones de papel para que os casulos fossem tecidos neles e as alimentou com alface, porque não conseguiu folhas de amoreira. Nas anotações, questionava se era melhor oferecer folhas molhadas ou secas; se tempestades faziam diferença na evolução dos casulos…
A observação cautelosa resultou em uma série completa de desenhos de todo o ciclo: ovos, lagartas, pupas, e, finalmente, borboletas e mariposas.
O interesse da infância acabou se transformando em paixão de uma vida toda.

Metamorfose: ovos, lagartas, casulos e, finalmente, borboletas | Imagem: Science Photo Library (Foto: BBCBrasil.com)
Merian se casou e teve duas filhas, sem abandonar seu fascínio pelos insetos. Passava horas investigando o próprio jardim e convencia amigos a lhe darem acesso a parques.
Seus registros simplesmente descreviam o que observava: “grandes números de … lagartas douradas, amarelas e pretas … na grama do poço … da Universidade de Nuremberg”.
Mas o interesse por ciclos completos fica claro nas anotações. Numa delas, ela escreveu: “Eu encontrei uma grande quantidade de limo verde nas folhas verdes dos lírios dourados … Eu toquei com a minha vara e parecia que as folhas estavam apodrecendo, e então encontrei muitas criaturas pequenas, vermelhas, semelhantes ao besouro na concha. Pequenos … Levei vários deles para investigar o que eles se tornarão”.
Ainda que na época de Merian fosse comum pintar flores e insetos para ornar porcelanas e outros objetos, era atípico o interesse sobre como esses bichos viviam, se reproduziam e se desenvolviam. Poucos faziam de tudo para observá-los na natureza e analisar como se desenvolviam.

Merian desenvolveu um interesse peculiar que ia além da simples pintura de plantas e insetos | Imagem: Science Photo Library (Foto: BBCBrasil.com)
A metamorfose ignorada
Em 1670, Merian publicou o livro “A Maravilhosa Transformação e Peculiar Alimentação das Lagartas”, uma obra ilustrada com 50 telas de borboletas em todas as fases do ciclo e com as plantas das quais se alimentavam.
No prefácio do livro, Merian afirmou: “Todas as lagartas, sempre quando as borboletas se acasalam de antemão, emergem de seus ovos”.
As descobertas de Merian, que registrou em texto e imagens a metamorfose, passaram quase despercebidas. O livro estava escrito em alemão e, naquela época, o idioma oficial da ciência era o latim.

Powered by Rock Convert
