Betty Carter, grande diva do jazz, integrava a trindade feminina do jazz ao lado de Sarah Vaughan (1924-1990) e Ella Fitzgerald (1922-1996), mas para ela a maior cantora de todos os tempos era Billie Holiday

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Betty Carter, a radical do jazz

 

 

 

Vocalista de jazz Betty Carter. (Foto: Anthony Barboza/Getty Images)

 

 

 

Betty Carter: grande diva do jazz

 

 

Betty Carter (Flint, Michigan, 16 de maio de 1929 – Brooklyn, Nova York, 26 de setembro de 1998), cantora de jazz norte-americana, grande diva do jazz nascida Lillie Mae Jones, foi uma das intérpretes mais radicais e inovadoras do jazz.

 

 

 

Foi uma das vozes mais importantes do jazz. Ela começou a cantar em corais de igreja. Ainda adolescente, já se apresentava ao lado de gigantes como Charlie Parker e Miles Davis. Em 1960, conquistou fama internacional ao gravar, com Ray Charles, o memorável dueto deliciosamente malicioso Baby, It’s Cold Outside.

 

 

Betty integrava a trindade feminina do jazz ao lado de Sarah Vaughan (1924-1990) e Ella Fitzgerald (1922-1996), mas para ela a maior cantora de todos os tempos era Billie Holiday.

 

 

Nascida em Flint (no estado de Michigan), em 16 de maio de 1930, Lillie Mae Jones (seu nome verdadeiro) estudou piano no Conservatório de Música de Detroit.

 

 

Lillie Mae Jones, nascida em 16 de maio de 1929, adotou seu nome artístico quando começou a se apresentar em pequenos clubes de Nova York aos 18 anos, quando era crooner da orquestra de Lionel Hampton, que a chamava de Betty Bebop. Ela gostava mesmo era da banda de Dizzy Gillespie, mas foi trabalhar com Hampton e vivia dizendo que preferia estar com Gillespie, o que enfurecia seu band leader.

 

 

Aos 16 anos venceu um concurso de amadores. Pouco depois, estreou como cantora. Sua estréia como profissional foi ao lado do saxofonista Charlie Parker, em Detroit.

 

 

Falsificou a data de nascimento, na cédula de identidade, para fugir da proibição a menores de idade em clubes noturnos.

 

 

Atuando como vocalista da orquestra do vibrafonista Lionel Hampton, entre 1948 e 1951, despertou atenção na cena jazzística.

 

 

Foi uma defensora radical do “bebop” -o estilo de jazz moderno criado em meados dos anos 40, por uma geração de músicos inovadores, como Charlie Parker e o trompetista Dizzy Gillespie.

 

 

Carter também era mestra do scat singing, o improviso com expressões onomatopáicas (o Brasil tem uma especialista do gênero, Leni Andrade), levando o público ao delírio com sua ginga, a voz poderosa que modulava e moldava com artifícios como os deslocamentos estratégicos do microfone.

 

 

A boca era grande e a língua, afiada. No Brasil, em 93, ela abriu o verbo contra a definição ampla que se dá ao jazz. “Hoje em dia tudo é jazz. Jazz-pop, qualquer coisa. Mas só há um jazz bom e criativo. Não existem duas Ella, duas Billie, dois Dizzy nem dois Miles”.

 

 

Graças a essa inclinação musical, recebeu de Lionel Hampton o apelido irônico de “Betty Bebop” (que virou sua marca registrada) e foi demitida da orquestra.

 

 

Dai em diante, começou a se apresentar em clubes, especialmente em Nova York, onde se radicou. Um de seus discos mais famosos, foi gravado com o cantor e pianista Ray Charles, em 1961.

 

 

Avessa a concessões comerciais, Betty amargou um período de semi-ostracismo, nos anos 60, época em que chegou a suspender a carreira para cuidar dos dois filhos.

 

 

Ao retornar aos palcos, em 1969, fundou seu próprio selo fonográfico, o Bet-Car, pelo qual gravou vários discos, incluindo o elogiado “The Audience with Betty Carter”, premiado com o Grammy.

 

 

 

Improvisadora excepcional, Betty foi das maiores cultoras do “scat singing”, a vocalização sem o uso de palavras, só com sons onomatopaicos. Até mesmo ao improvisar canções conhecidas, transformava-as em algo novo.

 

 

“Quando se é jovem, a gente fala muita coisa sem pensar. Mas valeu a experiência, até as discussões foram ótimas. A banda de Lionel era mais organizada do que a de Dizzy e pagava direitinho. Se eu tivesse entrado para a de Dizzy, iria concordar com tudo e não sei o que teria acontecido”, disse ela numa coletiva do Free Jazz, no Rio, em 93.

 

 

Ela criticou nomes como Mel Tormé e Cassandra Wilson: “Mel Tormé escuta Ella Fitzgerald e rouba dela. Toda sua improvisação está petrificada. Ele não é um artista criativo. É um cara legal, mas não é criativo. Não é o caso de ser ou não ser jazz, é só que ele não é criativo. Cassandra tem uma grande voz, um som quente, mas é inconsistente”.

 

 

Betty dizia que a convivência com as canções ia amadurecendo seu modo de interpretá-las. “Quanto mais se interpreta uma canção, mais se aprende sobre ela e se desenvolve um conceito próprio. Quando consigo isso estou livre, posso ir para onde quiser musicalmente,” disse ela.

 

 

Betty também era conhecida como uma professora e madrinha de várias gerações de músicos de jazz. “Ela era como uma mãe para nós, preocupando-se não apenas com a música, mas também que tudo corresse bem na nossa vida particular,” disse o baterista Eric Harland, um dos últimos a tocar com Betty.

 

 

Entrevistada para o Perfil do Consumidor para o Caderno B do “Jornal do Brasil”, quando lhe perguntaram se tinha algum motivo de arrependimento, Betty Carter deu uma resposta que lhe serve como perfeito epitáfio: “Meus arrependimentos são muito pequenos, não dá para citar um. Não existe nada muito profundo. Eu fiz tudo que quis fazer na minha vida e na minha carreira.”

 

 

Betty esteve várias vezes no Brasil: brilhou no Free Jazz de 1993 e voltou em 94 e 95 para temporadas no Jazzmania, o saudoso “night club” de Ipanema.

 

 

Nos últimos 10 anos, depois de assinar contrato com o selo de jazz Verve, começou a gravar com mais regularidade e seus álbuns antigos foram relançados.

 

 

Também ficou conhecida como reveladora de talentos. Por suas bandas passaram instrumentistas hoje bem conhecidos, como os pianistas Cyrus Chestnut, Jacky Terrasson e Mulgrew Miller, ou os bateristas Lewis Nash, Kenny Washington e Wynard Harper.

 

 

Betty Carter esteve várias vezes no Brasil. Apresentou-se no Free Jazz Festival de 93 e fez temporada no antigo 150 Night Club, em São Paulo, em 1983. Chegou a ser convidada para o para o recente festival Marantz Jazz Soundz, mas já tinha suspendido os shows. O jazz deixa de contar com uma de suas estrelas mais brilhantes.

 

Betty Carter, 69 anos, morreu em 26 de setembro de 1998 em sua casa no Brooklin, Nova York, de câncer do pâncreas.

 

Clubes de jazz nova-iorquinos, como o Blue Note e o Birdland, renderam homenagens póstumas à cantora, pedindo minutos de silêncio a seus frequentadores.

 

“Vamos sentir falta dela. Ela era uma cantora maravilhosamente inovadora e inventiva”, disse ontem a intérprete de jazz britânica Annie Ross, do influente trio vocal Lambert, Hendricks & Ross.

 

Vários clubes de jazz de Manhattan, como o Birdland e o Blue Note, prestaram tributo a Betty Carter na noite de sábado. A cantora Annie Ross, que interpretou canções do repertório da diva, disse que sentirá muito sua falta. “Quem restou? Ela era uma cantora maravilhosa, criativa e inovadora,” disse, lembrando como memorável o dueto dela com Ray Charles, de 1960, na música Baby it’s cold outside.

(Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/fol/cult – CULT /  AJB / Do Rio de Janeiro – 27/09/98)

(Fonte: Revista Veja, 7 de outubro de 1998 – ANO 31 – Nº 40 – Edição 1567 – DATAS – Pág: 69)

(Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrada – ILUSTRADA / Por CARLOS CALADO  / especial para a Folha  – São Paulo, 28 de setembro de 1998)

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