Arthur Balfour, ministro britânico das Relações Exteriores, o 1.º Conde de Balfour

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Declaração Balfour, as 67 palavras que mudaram a história do Oriente Médio

 

 

Declaração de Balfour

As 67 palavras da carta de Balfour (Foto: BBCBrasil.com)

 

 

Carta de ministro britânico a líder sionista – 1º sinal de apoio de uma potência ocidental à ideia de criar ‘lar nacional para povo judeu na Palestina’ – é vista como ponto inicial do conflito árabe-israelense.

Arthur James Balfour (Whittingehame, 25 de julho de 1848 – Woking, 19 de março de 1930), ministro britânico das Relações Exteriores, o 1.º Conde de Balfour

Em 2 de novembro de 1917, 67 palavras escritas em uma folha de papel viraram o pontapé de um dos conflitos mais difíceis de resolver dos tempos modernos.

 

 

Arthur Balfour em Jerusalém em 1925 (Foto: BBCBrasil.com)

 

 

A Declaração de Balfour é o documento no qual o governo de uma potência da época – no caso, a Grã-Bretanha – respalda pela primeira vez “o estabelecimento de um lar nacional para o povo judeu na Palestina”.

 

O mesmo documento simboliza a pedra fundamental de Israel como Estado para os judeus e, ao mesmo tempo, uma “grande traição” na visão dos palestinos.

 

No Reino Unido, Arthur Balfour mal aparece nos livros escolares, mas muitos alunos israelenses e palestinos saberiam o que dizer sobre ele.

 

Então ministro britânico das Relações Exteriores, Arthur Balfour assinou em 2 de novembro de 1917 a carta – entendida como o ponto inicial do conflito árabe-israelense.

 

Nos territórios palestinos e em Israel, a carta é ensinada nas aulas de História e é vista como um capítulo chave em suas narrativas nacionais, que são bem diferentes.

 

A declaração do então ministro britânico de Relações Exteriores foi enviada a Walter Rothschild (1868-1937), um dos principais proponentes do Sionismo, movimento que defende a autodeterminação do povo judeu em sua “terra histórica” – que vai do Mediterrâneo até o lado oriental do Rio Jordão, uma área que passou a ser conhecida como Palestina.

 

Ela diz que o governo britânico apoia “o estabelecimento de um lar nacional para o povo judeu na Palestina”.

 

Ao mesmo tempo, a carta diz que nada deveria “prejudicar os direitos civis e religiosos de comunidades não-judias que já estavam ali”.

 

Os palestinos veem isso como uma grande traição, especialmente levando em conta uma promessa feita separadamente para garantir o apoio político e militar dos árabes – então sob jugo dos turcos otomanos – na Primeira Guerra Mundial.

 

 

As 67 palavras da carta de Balfour (Foto: BBCBrasil.com)

 

 

Essa promessa sugeria que a Grã-Bretanha apoiaria a luta por independência dos árabes na maior parte das terras do Império Otomano – boa parte delas no Oriente Médio. Os árabes consideravam que isso incluía a Palestina, apesar de isso não ter sido especificado.

 

O governo britânico esperava que a Declaração de Balfour ajudaria a colocar os judeus, especialmente os que moravam nos Estados Unidos, a favor dos aliados durante a Primeira Guerra Mundial.

 

Com a derrota do Império Otomano no conflito, o texto foi respaldado pelos aliados e incluído em 1922 no Mandato Britânico sobre a Palestina pela Liga das Nações (a organização que antecedeu a ONU), encarregando formalmente o Reino Unido da administração desses territórios.

 

Em 29 de novembro de 1947, a Assembleia Geral da ONU adotou a resolução 181, através da qual aprovou o plano de divisão da Palestina, que estipulava a criação de um Estado árabe e outro judeu até no máximo 1º de outubro de 1948.

 

Só que os países árabes se negaram a assinar o plano da ONU e a tensão na região escalou, culminando com a Guerra Árabe-Israelense, que obrigou centenas de milhares de palestinos a fugir do recém-criado Estado de Israel.

 

 

Aulas muito diferentes

 

 

“Você acha que a Grã-Bretanha cometeu um crime contra o povo palestino?”, pergunta uma professora durante uma aula em uma escola palestina na cidade de Ramallah, na Cisjordânia.

 

 

 

Alunos em uma aula em Ramallah (Foto: BBCBrasil.com)

 

 

Todos levantam a mão.

 

 

“Sim”, responde uma menina de 15 anos. “Essa declaração foi ilegítima porque a Palestina ainda era parte do Império Otomano e a Grã-Bretanha não a controlava”.

 

“A Grã-Bretanha considerava os árabes uma minoria enquanto eles eram mais de 90% da população.”

 

‘Enorme esperança’

 

Inevitavelmente, as crianças israelenses tendem a ver o envolvimento britânico de uma maneira mais positiva quando estudam a Declaração de Balfour.

 

Na cidade de Balfouria, no norte de Israel, Noga Yehezekeli, de 9 anos, já consegue recitar de cor – e com orgulho – a versão em hebreu do texto.

 

“No momento em que foi dada, a declaração deu uma enorme esperança e um grande impulso ao movimento sionista”, diz Neve, seu pai.

 

“As pessoas viram que, se o governo britânico deu essa declaração, havia uma chance de que um dia a nação judia poderia ser estabelecida, o que realmente aconteceu mais tarde, em 1948” – o ano em que o Estado de Israel foi criado.

Noga e Neve Yehezekeli (Foto: BBCBrasil.com)

 

 

Os moradores de Balfouria – incluindo o avô de Neve – faziam parte de uma comunidade judia em expansão na Palestina quando Balfour a visitou em 1925. Eles receberam Balfour como um herói.

 

Naquele período, a área era governada pelos britânicos. Na época, a Grã-Bretanha havia permitido ondas de imigração judia – 100 mil imigrantes judeus chegaram ao local nos primeiros anos após a Declaração Balfour.

No final da década de 1930, essa migração provocou uma reação negativa por parte da população árabe que já estava lá e se sentiu ameaçada. Os britânicos reagiram interrompendo a imigração de judeus justamente quando o líder nazista Adolf Hitler dava início ao Holocausto.

 

Depois da Segunda Guerra Mundial, um grupo sionista chamado Irgun planejou vários atentados extremistas, inclusive a explosão do hotel King David em Jerusalém em 22 de julho de 1946, matando 91 pessoas. O ataque acelerou o êxodo árabe da Palestina no período antecedente à criação de Israel.

 

Difícil de cumprir

 

Na Universidade Hebraica de Jerusalém, inaugurada por Balfour, a professora Ruth Lapidoth estudou o documento de 67 palavras.

 

Especialista em leis internacionais, Lapidoth afirma que foi uma declaração legalmente oficial, mas diz que a Grã-Bretanha achou difícil cumprir seu compromisso.

Boneco de Arthur Balfour assinando a declaração em um hotel em Belém (Foto: BBCBrasil.com)

 

“A situação política era muito ruim quando os nazistas chegaram ao poder e quando a Inglaterra precisava da ajuda, da amizade dos países árabes”, diz ela.

 

“Então eles tiveram que limitar a implementação da declaração, o que é uma pena”.

 

Lapidoth deixou a Alemanha em 1938, um ano antes do começo da Segunda Guerra Mundial, então teve interesse pessoal no assunto.

 

“Eu ainda sou muito grata por isso”, diz ela. “Realmente foi a origem do nosso direito de voltar à Palestina, inclusive o meu”.

 

 

‘Promessa de longa data’

 

 

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, descreve a Declaração de Balfour como um “marco central” no processo de estabelecimento de seu país.

 

O governo britânico o convidou para eventos em Londres que marcam o centenário do documento em 2 de novembro de 2017.

 

A decisão, em um momento de poucas esperanças de um acordo de paz israelense-palestino, enfureceu palestinos, que planejaram um dia de protestos.

 

Eles querem que a Grã-Bretanha peça desculpas pela Declaração de Balfour.

 

“Eu acho que com o passar do tempo os britânicos estão esquecendo das lições da história”, diz o ministro palestino de Educação Sabri Saidam.

 

Ele diz que os palestinos ainda buscam a criação de um Estado para eles – o que ao lado de Israel formaria a base para a chamada solução de dois Estados para o fim do conflito, uma fórmula apoiada pela comunidade internacional.

 

“Chegou a hora da Palestina ser independente e dessa promessa ser cumprida”, diz ele.

(Fonte: https://www.terra.com.br/noticias – NOTÍCIAS – 6 NOV 2017)
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