Aristide Maillol, menos grandiloquente e célebre que Rodin, foi apontado como o seu oposto escultórico

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Maillol: limpidez e equilíbrio

Aristide Maillol (Banyuls, 8 de dezembro de 1861 – Banyuls, 27 de setembro de 1944), artista francês, famoso pelas suas mulheres de bronze. Menos grandiloquente e célebre que Rodin, Maillol costuma ser apontado como o seu oposto escultórico.

Altas e carnudas, as musas de Maillol não exibem as marcas das torturas que Rodin infligia a seus modelos e esculturas. Sujeito pacato em casa e no ateliê, Maillol fez de sua arte um ideal feminino de equilíbrio e morna sensualidade.

Ao conhecer a obra do colega numa exposição parisiense em 1902, Rodin cobriu-o de elogios: “O que há de admirável em Maillol são a pureza, a clareza, a limpidez de seu ofício e de seu pensamento.”

Criada em meio à convulsão que marcou a passagem da arte acadêmica para o modernismo, a obra de Maillol parece ter seguido à margem de seu tempo. Fez-se de proporções estudadas e curvas doces. Mas, em Maillol, a elegância admirada por Rodin virou uma camisa-de-força. Maillol assegurou seu lugar na história da arte por ter livrado a escultura do academicismo. Ele não conseguiu, porém, libertar a escultura do classicismo e convertê-la numa arte moderna.

Dessa maneira, Maillol acabou limpando o terreno para aqueles que viriam a ser os maiores expoentes da escultura moderna – o romeno Constantin Brancusi (1876-1957) e o inglês Henry Moore (1898-1986).

No começo de sua carreira, o escultor, um camponês de olhos azuis e barbas longas, chegou a passar fome. Nascido e criado na cidadezinha de Banyuls, na fronteira com a Espanha, desde cedo quis ser artista. Ao completar 20 anos, mudou-se para Paris com a intenção de estudar e pintar. Com o tempo, fez amizade com os pintores Paul Gauguin e Henri Matisse e chegou a integrar o grupo  Nabis, inspirado na obra de Gauguin.

Ao eleger o corpo feminino como seu tema primordial, Maillol não se limitava a modelar uma fêmea que julgasse perfeita. Platônico, o escultor estava à procura de um ideal e enxergava a anatomia feminina como um tema-pretexto para lançar-se numa pesquisa incessante que proprocionasse uma composição de volumes e proporções gerados por figuras geométricas.

Apreciador da arte oriental e africana, ele buscava limpar a escultura europeia dos ornamentos neoclássicos. “Sirvo-me da forma para chegar ao que não tem forma. Tendo a falar do que não é palpável, do que não se toca”, dizia Maillol sobre o seu trabalho.

Guilhotina – O equilíbrio e o intimismo sugerido por suas peças escondem um processo de criação obsessivo, que não raro incluía o guilhotinar de cabeça, tronco e membros que o artista julgasse imperfeitos. Por meio dessa depuração formal, ele conseguiu produzir uma obra livre de sentimentalismos. Ao privilegiar um ideal de mulher em detrimento da identidade de suas modelos, Maillol acabou por estilizar o rosto de suas esculturas, a ponto de deixá-las quase irreconhecíveis. “Ele olhava muito pouco para suas modelos, quase todo o seu trabalho era baseado na invenção”, contava Dina Vierny (1919-2009), que na juventude foi a modelo preferida de Maillol.

Indeciso quanto à sua vocação para a pintura, Maillol dedicou-se também à tapeçaria, chegando a abrir uma pequena oficina de tapetes em Banyuls. Ali, conheceu Clotilde Narcisse, sua assistente tapeceira, com quem viria a se casar em 1896 e ter seu único filho, Lucien. Chefe de família de rendimentos miseráveis, mesmo assim persistiu na carreira artística, retornando a Paris.

Na virada do século, enquanto pintava e tecia, Maillol começou a entalhar, por puro divertimento, figuras de madeira e a modelar em gesso e terracota. Encontrou então sua linguagem definitiva. Patrocinado pelo marchand Ambroise Vollard, que promoveu sua primeira mostra em 1902, Maillol começou a ganhar o reconhecimento da crítica e a ter suas peças compradas por colecionadores. Ao morrer, em setembro de 1944, vítima de ferimentos causados por um acidente de carro, já desfrutava fama e prestígio em seu país.

Hoje, a obra de Maillol é considerada um tesouro nacional da França.

 

(Fonte: Veja, 30 de outubro de 1996 – ANO 29 – Nº 44 – Edição 1468 – ARTE/ Por Angela Pimenta – Pág: 156/157)

 

 

 

 

 

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