Aristide Maillol, mestre e escultor francês

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Aristide Maillol (Banyuls-sur-Mer, 8 de dezembro de 1861 – 27 de setembro de 1944), mestre e escultor francês.

Maillol foi mestre do escultor Bruno Giorgi, com ele o escultor brasileiro aprendeu a interpretar a sensualidade através do relevo dos músculos.

(Fonte: Veja, 22 de agosto de 1973 – Edição 259 – ARTE/ Por Marinho de Azevedo – Pág: 102/103)

 

 

 

Maillol: limpidez e equilíbrio

Aristide Maillol (Banyuls, 8 de dezembro de 1861 – 27 de setembro de 1944), pintor e escultor francês, um camponês de olhos azuis e barbas longas, chegou a passar fome. Nascido e criado na cidadezinha de Banyuls, na fronteira com a Espanha, desde cedo quis ser artista. Ao completar 20 anos, mudou-se para Paris com a intenção de estudar e pintar. Com o tempo, fez amizade com os pintores Paul Gauguin e Henri Matisse e chegou a integrar o grupo Nabis, inspirado na obra de Gauguin.

Indeciso quanto à sua vocação para a pintura, Maillol dedicou-se também à tapeçaria, chegando a abrir uma pequena oficina de tapetes em Banyuls. Ali, conheceu Clotilde Narcisse, sua assistente tapeceira, com quem viria a se casar em 1896 e ter seu único filho, Lucien. Chefe de família de rendimentos miseráveis, mesmo assim persistiu na carreira artística, retornando a Paris.

Na virada do século, enquanto pintava e tecia, Maillol começou a entalhar, por puro divertimento, figuras de madeira e a modelar em gesso e terracota. Encontrou então sua linguagem definitiva. Patrocinado pelo marchand Ambroise Vollard (1866-1939), que promoveu sua primeira mostra em 1902, Maillol começou a ganhara o reconhecimento da crítica e a ter suas peças compradas por colecionadores.

Maillol assegurou seu lugar na história da arte por ter livrado a escultura do academicismo, porém, libertar a escultura do classicismo e convertê-la numa arte moderna. Dessa maneira, Maillol acabou preparando o caminho para aqueles que viriam a ser os maiores expoentes da escultura moderna – o romeno Constantin Brancusi (1876-1957) e o inglês Henry Moore (1898-1986).

Criada em meio à convulsão que marcou a passagem da arte acadêmica para o modernismo, a obra de Maillol parece ter seguido à margem de seu tempo. Fez-se de proporções estudadas e curvas doces.

Menos grandiloquente e célebre que Auguste Rodin (1840-1917), Maillol costuma ser apontado como o seu oposto escultórico.

Altas e carnudas, as musas de Maillol não exibem as marcas das torturas que Rodin infligia a seus modelos e esculturas. Sujeito pacato em casa e no ateliê, Maillol fez de sua arte um ideal feminino de equilíbrio e morna sensualidade. Ao conhecer a obra do colega numa exposição parisiense em 1902, Rodin cobriu-o de elogios: “O que há de admirável em Maillol são a pureza, a clareza, a limpidez de seu ofício e de seu pensamento.”

Lipoaspiração – Mas, em Maillol, a elegância admirada por Rodin virou uma camisa-de-força. Não há, entretanto, como negar o encanto repousante causado pela visão da obra de Maillol. Alheias a veleidades terrenas, como um vestido novo ou uma lipoaspiração, as mulheres de Maillol representam uma síntese feminina inatingível na vida real.

Montada com gosto e requinte, que inclui até o plantio de um jardim-de-inverno para fazer companhia a algumas esculturas, entre as vedetes estão desde maravilhas que ultrapassam a escala humana, como Leda, A Mediterrânea e Ile-de-France sem Braço, até pequenos tesouros como Dina de Trança, com pouco mais de 40 centímetros de comprimento. Essa pequena beldade é um corpo feminino dobrado sobre seu ventre. Apesar da torção infligida ao corpo da moça, a peça não exibe o menor vestígio de sofrimento. Parece, antes, meditar.

Surpreendente em sua concepção, a Leda de Maillol tem o dom de inovar um dos mais batidos temas da história da arte. Já retratada por gênios do porte de Leonardo Da Vinci e Michelangelo, Leda faz parte de uma lenda grega. Na mitologia, para seduzir a jovem, Zeus, o todo-poderoso do Olimpo, transforma-se num aparentemente inofensivo cisne branco. Geralmente, Leda e o cisne são retratados juntos, com o bicho no colo da jovem nua. Maillol preferiu ignorar a ave, modelando uma curvilínea rainha sentada de rosto baixo e com uma das mãos afugentando o cisne, ausente.

Ao eleger o corpo feminino como seu tema primordial, Maillol não se limitava a modelar uma fêmea que julgasse perfeita. Platônico, o escultor estava à procura de um ideal e enxergava a anatomia feminina como um tema pretexto para lançar-se numa pesquisa incessante que proporcionasse uma composição de volumes e proporções gerados por figuras geométricas.

Apreciador da arte oriental e africana, Maillol buscava limpar a escultura europeia dos  ornamentos neoclássicos. “Sirvo-me da forma para chegar ao que não tem forma. Tendo a falar do que não é palpável, do que não se toca”, dizia Maillol sobre o seu trabalho.

Guilhotina – O equilíbrio e o intimismo sugerido por suas peças escondem um processo de criação obsessivo, que não raro incluía o guilhotinar de cabeça, tronco e membros que o artista julgasse imperfeitos. Por meio dessa depuração formal, ele conseguiu produzir uma obra livre de sentimentalismos. Ao privilegiar um ideal de mulher em detrimento da identidade de suas modelos, Maillol acabou por estilizar o rosto de suas esculturas, a ponto de deixa-las quase irreconhecíveis. Ele olhava muito pouco para suas modelos, quase todo o seu trabalho era baseado na invenção.

Ao morrer, em setembro de 1944, aos 83 anos, vítima de ferimentos causados por um acidente de carro, Maillol já desfrutava fama e prestígio em seu país. Hoje, a obra de Maillol é considerada um tesouro nacional da França.

(Fonte: Veja, 30 de outubro de 1996 – ANO 29 – Nº 44 – Edição 1468 – Arte / Por Angela Pimenta – Pág: 156/157)

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