Andrzej Wajda, renomado diretor polonês, ganhou um Oscar honorário por sua carreira e foi vitorioso no Festival de Cannes, com a Palma de Ouro, por “O Homem de Ferro”

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Ganhador de Cannes, o renomado diretor polonês enfrentou restrições do governo na Guerra Fria

Andrzej Wajda durante festival na Polônia em setembro (Foto: Renata Dabrowska/Agencja Gazeta//Reuters)

Andrzej Wajda durante festival na Polônia em setembro (Foto: Renata Dabrowska/Agencja Gazeta//Reuters)

 

Em 2000, ele ganhou o Oscar honorário pelo conjunto da obra.

Andrzej Wajda (Suwalki, 6 de março de 1926 – Varsóvia, 9 de outubro de 2016), aclamado diretor polonês de cinema. Diretor criou clássicos da “escola polonesa” desde seus primeiros filmes. Honrado e premiado, Wajda era visto não só como um grande artista, mas também como uma autoridade moral.

Mais conhecido diretor cinematográfico do seu país, Wajda ganhou um Oscar honorário por sua carreira e foi vitorioso no Festival de Cannes, com a Palma de Ouro, por “O Homem de Ferro”, de 1981. Wajda é autor de uma grande série de filmes célebres inspirados na história turbulenta de seu país nos anos 80

A obra de Wajda inclui clássicos como “O homem de mármore” (1977), uma crítica à Polônia comunista, seguida três anos depois por “O homem de ferro” (1981), que conta a história do Solidariedade, o primeiro sindicato independente do bloco comunista.

Elaboração do passado nacional

Wajda nasceu em 6 de março de 1926 em Suwalki, no nordeste, ele estudou belas-artes em Cracóvia e, em seguida, na Escola de Cinema de Lodz. Já suas primeiras produções – Geração (1955), Kanal (1957) e Cinzas e diamantes (1958) – contam entre os clássicos da “escola polonesa”. Formou-se na Academia de Belas-Artes de Cracóvia e na Escola Nacional de Cinema e Teatro de Lodz. Começou a se dedicar ao cinema após fracassar no plano de ser militar.

Nelas o diretor – e em parte também roteirista –, que participara da resistência contra a ocupação nazista alemã, aborda aspectos da Segunda Guerra Mundial e da tomada do poder na Polônia pelos comunistas, após 1945.

A dramática história polonesa esteve constantemente presente na produção cinematográfica de Wajda. Enquanto O homem de mármore era uma crítica impiedosa ao sistema stalinista, O homem de ferro (1981) tematizava a luta dos sindicatos livres no Mar Báltico. Ambos compõem a “trilogia de Danzig”, juntamente com a biografia Walesa (2013), sobre o sindicalista e “homem de esperança”.

"Walesa" completa em 2013 a "trilogia de Danzig", iniciada em 1977

“Walesa” completa em 2013 a “trilogia de Danzig”, iniciada em 1977

Com Katyn (2007), Wajda ergueu um memorial cinematográfico aos milhares de oficiais poloneses fuzilados em massa pelo serviço secreto soviético em 1940. Tratava-se, também, da elaboração de um trauma pessoal: entre as vítimas do massacre encontrava-se o pai de Andrzej Wajda, um oficial de cavalaria.

"Katyn" (2007) examina um capítulo da ocupação soviética e da biografia de Wajda

“Katyn” (2007) examina um capítulo da ocupação soviética e da biografia de Wajda

 

Andrzej Wajda (Foto: www.akademiapolskiegofilmu.pl/Divulgação)

Andrzej Wajda (Foto: www.akademiapolskiegofilmu.pl/Divulgação)

 

 

Jovem que serviu no movimento de resistência polonesa na Segunda Guerra Mundial, Wajda despontou em 1955 longa-metragem “Geração”, sobre a resistência durante a guerra, e recebeu sua primeira aclamação séria em 1957, com “Kanal”, sobre um grupo de combatentes da resistência que tenta fugir após a revolta de Varsóvia através do esgoto. Duros e realistas, os filmes prefiguraram uma de suas grandes obras, “Cinzas e Diamantes”, de 1958, sobre um assassino anti-comunista.

Voz de uma nação silenciada

Por seu envolvimento nos debates públicos, Wajda era visto, na Polônia, não só como um grande artista, tanto do cinema como do teatro, mas também como uma autoridade moral. Sem seus filmes, não teria sido possível a fundação do movimento de libertação Solidariedade, em 1980. O cineasta casado quatro vezes e pai de um filha também fez uma breve incursão pela política, elegendo-se senador pelo Solidariedade entre 1989 e 1991.

Alguns críticos acusavam Wajda de, até o fim do regime comunista, em 1989, fazer concessões excessivas ao partido dominante. “Eu era a voz da nação que não podia falar livremente”, foi sua réplica.

A história da Polônia sob o jugo da União Soviética foi a base para dois de seus trabalhos mais aclamados: “O Homem de Mármore” (1977) e o “O Homem de Ferro”, que retratou o famoso movimento sindical Solidariedade do país e contou com um herói da vida real no elenco: o sindicalista Lech Walesa (ele voltaria ao personagem em 2013 na cinebiografia “Walesa”).

Por causa de restrições do governo polonês, Wajda foi obrigado a emigrar para a França, onde viveu até a queda do Muro de Berlim em 1989. Durante o exílio em Paris, ele dirigiu o épico histórico “Danton – o processo da revolução” (1983), estrelado por Gerard Depardieu. Quando voltou à Polônia, foi eleito para o Parlamento e nomeado diretor do teatro de Varsóvia. Assim como Ingmar Bergman, na Suécia, Wajda se destacou tanto no cinema quanto na atividade teatral.

Gérard Depardieu em "Danton" (1983)

Gérard Depardieu em “Danton” (1983)

Em seu livro “Double Vision”, escrito em meados dos anos 80, Wajda lamentou a falta de interesse por filmes poloneses no Ocidente. Mas, em seu país natal, ele foi considerado como um dos seus mais importantes artistas. Vários dos seus filmes nunca foram lançados nos EUA, onde ele nunca gozou da popularidade dos compatriotas Roman Polanski e Krzysztof Kieslowski.

Era membro honorário da União de Artistas e Designers Poloneses (ZPAP) e foi presidente da Associação de Cinema Polonesa. Também era membro da Academia Francesa de Belas Artes, cargo que passou a ocupar em 1997 depois da morte de Federico Fellini.

Wajda também se envolveu na política. Foi senador da Polônia entre 1989 e 1991 e do Conselho Presidencial para a Cultura entre 1992 e 1994.

 

Ingerência estatal na arte: tema atual na Polônia

Andrzej Wajda poderá vir a ser postumamente premiado com a cobiçada estatueta dourada da Academia de Hollywood por Powidoki, já que a biografia filmada do artista de vanguarda Wladyslaw Strzeminski (1893-1952), que se opôs à censura do regime comunista, é a candidata da Polônia ao Oscar de melhor filme estrangeiro.

“Fiz um filme mostrando que a intervenção na arte não é tarefa do governo”, comentou o diretor. O tema é altamente atual em sua terra natal: desde que o governo conservador do partido Lei e Justiça (PiS) tomou posse, no fim de 2015, muitos artistas têm denunciado a ingerência estatal no setor da cultura.

Ele se engajou até o fim pela liberdade artística: juntamente com outros cineastas, acusou a emissora de direito público TVP de censura por exibir em versão comentada o ganhador do Oscar Ida (2013), de Pawel Pawlikowski, que enfoca uma freira de origem judia em busca da própria identidade.

 

 

Andrzej Wajda, artista e homem político polonês

 

 

 

Andrzej Wajda, em 2010, durante homenagem na Cinematheque Francaise em Paris - (Foto: JACQUES BRINON / Associated Press)

Andrzej Wajda, em 2010, durante homenagem na Cinematheque Francaise em Paris – (Foto: JACQUES BRINON / Associated Press)

 

Em entrevista em 2013, o diretor se mostrava animado em relação ao cinema de seu país: “Eu avalio com otimismo a situação do cinema polonês. Hoje são realizados muitos filmes que levantam temas atuais, sem que isso restrinja reconstituições históricas. De vez em quando aparecem filmes que jamais teriam a chance de ser realizados nos tempos mais pesados da censura comunista.”

FESTIVAL DO RIO E HOMENAGEM

O último filme de Wajda, “After image” (que foi exibido no Festival do Rio), tinha sido escolhido como representante da Polônia para a disputa de melhor filme de língua estrangeira do Oscar. Ele conta a história real do pintor polonês Wladyslaw Strzeminski, que se recusou a se dobrar à ideologia oficial do governo, mesmo quando ameaçado.

Wajda estava entre os principais homenageados da 40ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, que aconteceu entre o dia 20 e 2 de novembro, com uma retrospectiva de 17 filmes, entre os quais “Geração”, “Kanal”, “O homem de mármore”, “O homem de ferro”, “Danton” e “Walesa”.

Andrzej Wajda morreu neste domingo, em Varsóvia, após uma curta doença, aos 90 anos de idade. 

(Fonte: http://g1.globo.com/pop-arte/cinema/noticia/2016/10 – POP & ARTE – CINEMA – NOTICIA – Do G1, em São Paulo – 09/10/2016)

(Fonte: http://oglobo.globo.com/cultura  – CULTURA/POR O GLOBO – 09/10/2016)

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