Alice Tamborindeguy, uma das maiores e mais generosas anfitriãs do Rio de Janeiro

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Alice Saldanha Tamborindeguy, socialite carioca e uma das maiores e mais generosas anfitriãs do Rio de Janeiro, matriarca de uma família de mulheres fortes que dispensa apresentações

Era dessas pessoas que deixam sua marca por onde passam. Colecionadora de afetos e admiradores, não fazia distinção de classes, credos ou status. Pelo contrário: era a mesmíssima pessoa nos grandes salões da política e do empresariado ou no quiosque em frente a sua casa na Avenida Atlântica. Conhecia os vendedores de coco pelo nome, assim como os garçons que a atendiam nos restaurantes que frequentava e seus familiares – era uma notívaga de fôlego incomparável.

Tinha uma memória invejável. Dos gabinetes de Getúlio Vargas às aventuras de Juscelino, ela tinha tudo na ponta da língua, sobretudo datas e nomes. Como esteve presente nos maiores acontecimentos do país, dizia que manter sua memória em dia era um serviço à História. Foi abertamente contra a ditadura militar e não foram poucas as vezes que abriu sua casa para os anistiados que voltavam do exílio, Leonel Brizola na linha de frente. Gostava de falar de política e economia, e debochava das luzes e do glamour do soçaite. Algumas pérolas de Alice: “Tudo é ilusão, o que interessa é comida na mesa do povo”. Ou ainda: “Joia não tá com nada. Para mim o que conta é o cérebro”.

Dona Alice ou Alicinha, como era conhecida pelas amigas,  ficou viúva cedo demais do grande amor de sua vida, o empreiteiro e deputado por quatro mandatos Mário Tamborindeguy, com quem teve as duas filhas, Alice, deputada estadual por cinco mandatos, e Narcisa, estrela da TV e de comerciais. Sempre foi fã da seriedade e do comprometimento político de Alice e das graças e aventuras de Narcisa. “Quando adulta, Narcisa colocou o pé no mundo e ninguém mais a segurou, viajando por todos os cantos do planeta.

Nada amedronta minhas filhas; a medrosa sou eu”, dizia. Mário construiu estradas como a Rio-Teresópolis e a Via Dutra, que liga o Rio a São Paulo. A família de Alice, os gaúchos Saldanha, estava entre os pioneiros na exploração do petróleo na Bacia de Campos. Quando o marido morreu, ela assumiu as fazendas e os postos de gasolina da família com mão de ferro. Dizia que a forma de homenagear seu amor era dando emprego para as 80 famílias que tiravam seu sustento de suas empresas, um ato de feminismo avant la lettre. “Quem não trabalha pensa bobagem”, resumia.

Era uma mulher forte, da verdade doa-a-quem-doer e de grandes opiniões, às quais políticos como Leonel Brizola e Marcello Alencar recorriam ostensivamente quando as situações apertavam nos tempos em que governavam o estado. Em sua casa, havia sempre os melhores bufês, os melhores champagnes, mas Alice não abria mão era de uma enorme travessa de chuviscos que encomendava à sua doceira da vida toda em Campos. Um dia, eu me lembro que ela encomendou um grande bolo de aniversário. “Mas não é aniversário de ninguém, dona Alice”, retruquei. E ela: “é para cantar parabéns para a vida!”.

Alice Tamborindeguy morreu em 9 de junho de 2014, de falência múltipla de órgãos no Hospital Samaritano, aos 95 anos, no Rio de Janeiro em razão de uma insuficiência renal.

 

(Fonte: http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/bruno-astuto/noticia/2014/06/BRUNO ASTUTO – 09/06/2014)

 

 

 

 

 

 

 

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