Aldo Locatelli, colaborou na criação de uma visão épica da formação do Rio Grande do Sul e da sociedade gaúcha

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Aldo Locatelli (Bergamo, 18 de agosto de 1915 – Porto Alegre, 3 de setembro de 1962), pintor italiano que colaborou, como poucos, na criação de uma visão épica da formação do Rio Grande do Sul e da sociedade gaúcha. 

Detalhe de autorretrato de Aldo Locatelli (1945) (Foto: Reprodução / Reprodução)

Detalhe de autorretrato de Aldo Locatelli (1945)
(Foto: Reprodução / Reprodução)

Em seus breves mas intensos 47 anos de vida, o italiano foi referência nas artes por obras que passam por temas religiosos, históricos e lendários.

Natural de Bergamo, Locatelli chegou ao Brasil em 1948, assim como os também artistas Emilio Sessa e Adolfo Gardoni, para criar as imagens da Catedral São Francisco de Paula, em Pelotas, a convite de dom Antônio Zattera. Decidiu ficar após a conclusão do trabalho. Trouxe a esposa e aqui teve seus filhos.

Assim, incorporou-se à vida artística local, ajudando a criar a Escola de Belas Artes de Pelotas, onde introduziu o estudo do nu artístico. E passou a receber inúmeras encomendas na Capital, para onde se mudou, tendo deixado também pinturas em igrejas de Caxias do Sul e Santa Maria.

 

Em 1951: Locatelli dá os últimos retoques na pintura de São José com o Menino Jesus no colo. (Foto: acervo Casa de Memória São Pelegrino, divulgação)

Em 1951: Locatelli dá os últimos retoques na pintura de São José com o Menino Jesus no colo. (Foto: acervo Casa de Memória São Pelegrino, divulgação)

 

Entre suas principais obras, estão os painéis localizados no Palácio Piratini – entre eles, um de grandes proporções: A Formação Histórico-Etnográfica do Povo Rio-Grandense (1955). Consagrou-se, sobretudo, como muralista, destacando-se com um estilo clássico, forjado com os ensinamentos dos renascentistas. Professor do Instituto de Artes da UFRGS, onde Locatelli lecionou, mesmo em um curto período, seu estilo passou por diferentes momentos:

– Sua obra tem variações. Ele começa com uma pintura mais acadêmica, no sentido de obedecer às regras, mas morre muito jovem. Se tivesse continuado, com certeza teria deixado obras bem diferentes. O painel que está no Instituto de Artes é mais moderno do que os que estão no Palácio Piratini, por exemplo.

A chegada do artista ao Rio Grande do Sul remonta a um momento de redescoberta da figura do gaúcho. Em 1948, foi fundado o CTG 35. No ano seguinte, Erico Verissimo começou a publicar a trilogia O Tempo e o Vento. Em 1954, Antonio Caringi criou a figura do Laçador. O professor Círio Simon, que foi aluno de Locatelli, contextualiza:

– Ele chegou ao Rio Grande do Sul em um momento oportuno, depois do Estado Novo, que proibiu toda simbologia (regional) e queimou a bandeira do Estado, proibindo seu hino. Contra essa devastação simbólica, estava em plena fermentação e vigor a retomada da identidade sulrio-grandense em diversos movimentos, com intelectuais de primeira linha.

Simon ainda se recorda das lições aprendidas diretamente com o mestre:

– Destaco, em Aldo Locatelli, sua capacidade de escutar e de se colocar ao nível do seu estudante. Ciente do que foi o seu próprio aprendizado penoso e longo, sabia respeitar as escolhas individuais. De outra parte, testava a inteligência, a vontade e a sensibilidade daqueles que desejavam fazer o seu caminho.

 

Igreja São Pelegrino concentra uma das mais ricas produções de Aldo Locatelli no Rio Grande do Sul. (Foto: Roni Rigon)

Igreja São Pelegrino concentra uma das mais ricas produções de Aldo Locatelli no Rio Grande do Sul. (Foto: Roni Rigon)

 

Os andaimes que possibilitaram a execução da pintura do altar mor, ainda sem a obra “Os Quatro Evangelistas”, assinada pelo colega Emilio Sessa. Foto: acervo Casa de Memória São Pelegrino, divulgação

Os andaimes que possibilitaram a execução da pintura do altar mor, ainda sem a obra “Os Quatro Evangelistas”, assinada pelo colega Emilio Sessa. Foto: acervo Casa de Memória São Pelegrino, divulgação

 

Entre 1951 e 1953

 

Os trabalhos de Aldo Locatelli na Igreja São Pelegrino iniciaram-se em 1951, com o mural da Santa Ceia – ela foi pintada em apenas 11 dias. Na sequência vieram o Juízo Final (no centro do teto), os 36 caixotões com os versos em latim do hino Dies Irae (O Dia da Ira), aCriação da Mulher, a Criação do Cosmos e a Expulsão de Adão e Eva do Paraíso.

Circundando a Santa Ceia, foram pintados mais dois afrescos: a aparição do Sagrado Coração à Santa Margarida Maria Alecoque (E) e a aparição de Nossa Senhora de Caravaggio à camponesa Joaneta (D). Com exceção da Via-Sacra, tudo foi concluído para a inauguração oficial do templo, em 2 de agosto de 1953.

Já entre 1958 e 1960, Locatelli dedicou-se à confecção de sua obra máxima. As 14 estações do flagelo de Cristo foram confeccionadas em seu atelier em Porto Alegre e inauguradas em 22 de maio de 1960, quando a comunidade caxiense prestava sua devoção a Nossa Senhora de Caravaggio.

Locatelli morreu apenas dois anos depois, em 3 de setembro de 1962, aos 47 anos.

 

 

 

GALERIA DE IMAGENS

Veja as principais obras do artista 

Conheça algumas das mais importantes obras do pintor  italiano no Rio Grande do Sul

PALÁCIO PIRATINI

PALÁCIO PIRATINI

 

No Salão Alberto Pasqualini, na sede do  governo gaúcho, está um dos painéis mais imponentes do artista: A Formação Histórico-Etnográfica do Povo Rio-Grandense (1955) combina tradição e modernidade ao sobrepor a imagem mítica do gaúcho e do índio missioneiro com uma torre de energia elétrica e uma barragem hidrelétrica.

 

AEROPORTO SALGADO FILHO

AEROPORTO SALGADO FILHO

 

Encomendado em 1950, o painel A Conquista do Espaço (1953), que fica no terminal antigo do aeroporto, mostra, com habitual solenidade, o domínio do homem sobre os ares – representando, o pioneiro da aviação Santos Dumont (de uniforme). Também compõem o cenário figuras de um pássaro, uma hélice e um motor, entre outras referências ao voo.

 

REITORIA DA UFRGS

REITORIA DA UFRGS

 

Localizado na sala do Conselho Universitário da universidade, o óleo sobre tela As Profissões (1958) homenageia as diferentes formações oferecidas pela instituição. Ao centro, de toga e barrete, está André da Rocha, primeiro reitor da então Universidade de Porto Alegre, que esteve no cargo até 1937. Estão representados, entre outros cursos, Direito e Artes (ambos à direita).

 

INSTITUTO DE ARTES DA UFRGS

INSTITUTO DE ARTES DA UFRGS

 

No oitavo andar do prédio, está o mural As Artes (1958), homenagem de Locatelli às artes visuais (ele foi professor da universidade) e à música. O artista e professor Fernando Corona está retratado ao centro, rodeado de alunos, colegas e – uma curiosidade – do próprio Locatelli (de jaleco branco, com uma pasta na mão). À direita, estão representados diferentes instrumentos musicais, como piano e violino.

 

IGREJA SANTA TEREZINHA

IGREJA SANTA TEREZINHA

 

Entre 1952 e 1957, Locatelli pintou diversas imagens na igreja, retratando diversos momentos na vida de Santa Terezinha. São quatro painéis nas paredes e três no teto. Na imagem reproduzida aqui, a padroeira das Missões pede ao Senhor a bênção, tendo ao redor pessoas de diferentes raças. Temas religiosos eram familiares ao pintor, tendo motivado sua vinda ao Brasil.

 

FIERGS

FIERGS

 

Neste óleo sobre tela de 1960, localizado no saguão do Teatro do Sesi, o pintor mostra a diversidade de etnias que formaram o Rio Grande do Sul, tendo à frente o brigadeiro José da Silva Paes, fundador da cidade de Rio Grande. Estão retratadas, na obra, figuras como a do gaúcho típico, o imigrante e seus instrumentos de trabalho na terra, o conquistador português e o índio, entre outros.

 

CATEDRAL SÃO FRANCISCO DE PAULA, EM PELOTAS

CATEDRAL SÃO FRANCISCO DE PAULA, EM PELOTAS

 

Primeira parada do artista no Brasil, em 1948,  a convite do bispo dom Antônio Zattera (ocasião em que vieram também Emilio Sessa e Adolfo Gardoni), Locatelli criou imagens para o local até 1949 – a catedral foi inaugurada no ano seguinte. Também foi um dos primeiros professores da Escola de Belas Artes de Pelotas, estimulando o estudo do nu artístico.

 

IGREJA SÃO PELEGRINO, EM CAXIAS DO SUL

IGREJA SÃO PELEGRINO, EM CAXIAS DO SUL

 

 

Locatelli pintou imagens sacras na cidade de Caxias do Sul entre 1951 e 1960. Seus trabalhos remetem a conhecidas passagens da Bíblia, como a criação do mundo, a expulsão de Adão e Eva do Paraíso e o juízo final – na obra aqui reproduzida, o artista recria a Santa Ceia. Entre seus últimos trabalhos na cidade, estiveram as 14 estações da Via Sacra.

 

CATEDRAL DIOCESANA DE SANTA MARIA

CATEDRAL DIOCESANA DE SANTA MARIA

 

Entre 1953 e 54, Locatelli realizou pinturas sacras na igreja da cidade, recontando quatro momentos da vida de Nossa Senhora na nave central e sobre o altar. As obras do artista tiveram parceria do também italiano Emilio Sessa.

(Fonte: http://zh.clicrbs.com.br/rs/entretenimento/noticia/2015/07 -4804065 – ANO 52 – Nº 18.174 – ENTRETENIMENTO – Por: Fábio Prikladnicki – 17/07/2015)

(Fonte: http://wp.clicrbs.com.br/memoria/tag/aldo-locatelli – ANO 52 – N° 18.160 – MEMÓRIA/ Por Rodrigo Lopes – 3 de julho de 2015)

 

 

 

 

 

 

No dia 18 de agosto de 1915 -– Aldo Locatelli, pintor, nasce em Bergamo, Itália. Locatelli chegou ao Rio Grande do Sul em 1948, onde pintou afrescos e painéis em igrejas e prédios públicos. Sua primeira obra no Rio Grande do Sul foi na Catedral de Pelotas, e seu grande trabalho foi a Via Sacra, na Igreja de São Pelegrino, em Caxias do Sul.

Locatelli faleceu em Porto Alegre, em 3 de setembro de 1962. Na capital gaúcha deixou como marca de sua arte um enorme painel no Aeroporto Salgado Filho.

(Fonte: Correio do Povo –- Ano 114 -– Nº 322 -– Geral – Cronologia/ DIRCEU CHIRIVINO – 18 de agosto de 2009 -– Pág; 16)

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