Alberto Gironella, o último dos grandes pintores surrealistas de língua espanhola, fez parte da geração que se rebelou contra a estética dos muralistas

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O pintor foi uma das grandes figuras da arte mexicana

 

Os escritores Julio Cortázar e Carlos Fuentes, e o pintor Alberto Gironella, em foto tirada durante a comemoração do 75º aniversário do cineasta Luis Buñuel. (Foto: Pinterest / DIREITOS RESERVADOS)

 

O artista fez parte da geração que se rebelou contra a estética dos muralistas

 

 

Alberto Gironella (Cidade do México, 26 de setembro de 1929 – Cidade do México, 2 de agosto de 1999), foi o último dos grandes pintores surrealistas de língua espanhola.

 

O pintor Gironella foi um dos mais importantes artistas contemporâneos mexicanos, era  filho de espanhol e mexicana, ele era considerado herdeiro da pintora Frida Kahlo.

 

O artista viveu durante anos em sua casa em Valle Bravo, e pertencia ao grupo de pintores que se rebelaram contra as imposições estéticas dos muralistas de seu país e optaram por uma linguagem pessoal próxima ao surrealismo.

 

Alguns dos trabalhos mais conhecidos de Gironella são os retratos do líder revolucionário Emiliano Zapata e da cantora Madonna e as ilustrações que fez para o livro “À Sombra do Vulcão”, do inglês Malcom Lowrys.

 

Corpulento e apaixonado, capaz de defender suas idéias com força e também com conhecimento habilidoso, amante incondicional da arte e da literatura, Alberto Gironella manteve uma estreita relação com a Espanha, onde expôs várias vezes e onde encontrou muitas das grandes razões e estímulos para seu trabalho.

 

Os touros, Cervantes, o barroco espanhol e Goya esgueiram-se em grande parte de sua obra, que também apresentam o intenso passado de seu país, a riqueza de suas culturas e uma visão crítica da realidade herdada, segundo ele, do revolucionário caudilho Emiliano Zapata.

 

Tudo isso expresso com um vocabulário plástico repleto de metáforas sugestivas e imaginativas, nascido no México em 1929, de uma mãe de Yucatan e de um pai catalão – um republicano exilado no México – Gironella pertencia à geração de artistas que durante os anos cinquenta e sessenta livrar-se do patrimônio pesado e grandiloquente do muralismo de Siqueiros, Orozco e Rivera.

 

 

Rebelião individual

 

 

Junto com outros artistas de sua geração lideram uma rebelião estética, apoiada pela plataforma da galeria Prisse, criada em 1952. Acusados ​​por Siqueiros de “agitadores trotskistas”, seguiram adiante apesar das fortes críticas e dificuldades de uma política protecionista do governo o que ele considerou seus pintores oficiais. Juntamente com Gironella, havia José Luis Cuevas, Pedro Coronel, Vicente Rojo e Manuel Felguérez, entre outros.

 

Não houve imposições ou regras, cada um buscou um caminho individual, logo Gironella teve um defensor inesperado. Quando André Breton viu a primeira exposição individual do mexicano em Paris, em 1961, exclamou entusiasticamente: “É magnífico! É a demonstração de que o surrealismo não morreu!” Um par de anos antes de ter ganho o primeiro prêmio da União de Arte do Mediterrâneo na Primeira Bienal de Jovens da capital francesa.

 

O mundo de Gironella era um universo de fantasia heterogênea onde todos os tipos de objetos e imagens se encaixam em composições que vão da escatologia ao delírio. Um fã de colagem, seu olho foi treinado para descobrir objetos e juntá-los. Entre suas criações particulares estavam, por exemplo, envelopes pretos que eram, na verdade, envelopes pretos com selos cuidadosamente escolhidos, um rótulo com o nome do destinatário e um conteúdo imprevisível de recortes e imagens.

 

“Sou um escritor frustrado”, ele disse uma vez, e não havia dúvida sobre isso. Para muitos, seu trabalho exala o fôlego de Valle Inclán (1866-1936), Gómez de la Serna (1888-1963), Cervantes e Quevedo. Ele tinha um relacionamento próximo com Octavio Paz, a quem ele parecia se juntar a uma trajetória paralela. O mexicano Nobel considerou Gironella, juntamente com Francisco Toledo, um dos dois melhores pintores mexicanos.

 

Ele exibiu frequentemente na Espanha, onde ele morou por algum tempo. Em 1977, apresentou La vuelta del indiano, um espetáculo em que interpretou El sueño del caballero, de Antonio de Pereda (1611-1678), numa visão superposta de amor e morte, personificada na figura do indiano Malinche, mulher-anjo e amante de Hernán Cortés.

 

Os quartos da Biblioteca Nacional de Madri abrigavam uma antologia de seu trabalho. Suas ilustrações para vários livros também eram frequentes, como Terra Nostra de Carlos Nostra, uma edição de textos de Bergamín intitulada México mágico e prodigioso e, pelo mesmo autor, A música silenciosa das touradas.

 

Uma das últimas exposições do Aberto Gironella, Pelo y pluma, foi exposta em 1997 em Zacatecas, no marco do Primeiro Congresso da Língua Espanhola. O artista também expôs nos Estados Unidos, França, Japão, Brasil, Argentina e Itália.

 

São vários artistas representativos das principais correntes que se desenvolveram no período em torno das diversas técnicas de gravura de estampa. Muitos deles envolveram-se com os processos sociais que culminaram na revolução, cujo protagonista emblemático foi José Guadalupe Posada. São trabalhos de mestres do expressionismo mexicano, como Gabriel Macotela, Miguel Castro Leñero e Juan Sebastián Barberá, e nomes consagrados como os irmãos Pedro e Rafael Coronel, Alberto Gironella, Gilberto Aceves Navarro e José Luís Cuevas.

 

Alberto Gironella faleceu na Cidade do México após longa luta contra o câncer ósseo, em 2 de agosto de 1999, aos 70 anos. O corpo do pintor foi cremado, de acordo com seu desejo.

(Fonte: https://www.terra.com.br/istoegente/01/tributo – Edição 01 – TRIBUTO / por Cesar Taylor – 9 de agosto de 1999)

(Fonte: http://www.correiodopovo.com.br – ANO 115 – Nº 96 – Arte & Agenda – PORTO ALEGRE, 4 DE JANEIRO DE 2010)

(Fonte: https://elpais.com/diario/1999/08/04/cultura – CULTURA / Por EFE – Mexico / Madrid – 4 DE AGOSTO DE 1999)

* Este artigo apareceu na edição impressa da quarta-feira, 4 de agosto de 1999

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