Albert Cohen, diplomata na Suíça, e autor de cinco livros, escritos ao longo de cinquenta anos

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Albert Cohen: uma paixão feita só de grandes momentos

Albert Cohen (Ilha de Corfu, Grécia, 16 de agosto de 1895 – Genebra, Suíça, 17 de outubro de 1981), diplomata na Suíça, e autor de cinco livros, escritos ao longo de cinquenta anos

Cohen, um judeu nascido na Ilha de Corfu, na Grécia, em agosto de 1895, e criado na França, voltou a desaparecer, mas extasiou a crítica com seu livro, que recebeu o grande prêmio do romance da Academia Francesa.

Em 1914, ele deixou a Marselha para Genebra, na Suíça, e matriculou-se na faculdade de direito. Formou-se pela Faculdade de Direito em 1917 e se matriculou na Escola de Literatura em 1917, onde permaneceu até 1919.

Durante a ocupação alemã, em 1940, Cohen fugiu para Bordeaux, em seguida, para Londres. Em 1947, Cohen voltou para Genebra. Em 1957, ele recusou o cargo de Embaixador de Israel, a fim de prosseguir a sua carreira literária.

Cohen sempre acreditou que seus cinco livros, escritos ao longo de cinquenta anos, tinham força para se impor sozinhos, sem a presença do autor. Isto acabou acontecendo em 1984: uma nova edição do romance Bela do Senhor na França relançou o nome de Cohen no panorama cultural europeu.

Em 1968, um senhor de 73 anos desembarcou na Editora Gallimard, em Paris, carregando duas malas com as 1 500 folhas datilografadas de um romance. Temeroso de perder os originais no correio, Cohen ia entregar em mãos o que considerava ser seu testamento literário, Bela do Senhor, último volume de uma trilogia iniciada em 1930.

A aparição de Cohen era surpreendente. Primeiro porque, morando em Genebra, na Suíça, onde serviu como diplomata por muitos anos, o escritor sempre evitou a publicidade e se limitava a tratar com seus editores por carta. Depois, porque Cohen era uma espécie de cometa Halley das letras, que brilhava de raro em raro com um livro e estava sumido há mais de uma década.

Pode-se conferir a confiança do autor em sua obra – basta começar a leitura para perceber que Cohen é um exímio contador de histórias e tem recursos de sobra para enredar o leitor.

O tema de Cohen, em Bela do Senhor, é o mais prosaico e o mais gasto da literatura, o amor. A história se passa nos anos 30. Trata-se da paixão de um diplomata que serve em Genebra na Liga das Nações (a predecessora da Organização das Nações Unidas, a ONU) pela mulher de um de seus subordinados, Adrien Deume. Solal, o alto funcionário, vale-se da ambição de Adrien, que quer subir na carreira a todo custo, para enviá-lo em missão ao exterior e, enquanto isso, conquistar-lhe a mulher, Ariane.

Cohen usa sua vivência de diplomata para conduzir o leitor pela frivolidade da Liga das Nações pintando em seus mínimos detalhes os jantares e as festas que ocupam a maior parte do tempo dos personagens que circulam pela Genebra da época.

 

CULTURA JUDAICA – Enquanto essa casta de super-burocratas joga com as conveniências que impulsionam ou destroem carreiras, Solal e Ariane dão os passos na dança da sedução e do amor. Eles vão dos gestos tímidos à paixão cheia de sensualidade e à consciência do ridículo de seus planos, e terminam por construir uma ligação feita só de grandes momentos e extirpada da vulgaridade cotidiana da vida doméstica.

Judeu, Cohen tira de sua cultura original o traço mais atraente de seu romance, que é a ânsia de Solal por um amor espiritual. Como a mulher judia que, na tradição, raspa a cabeça de modo a ficar feia para que o marido ame seu espírito e não sua aparência, Solal apresenta-se a Ariane travestido de mendigo.

 

Ele espera que Ariane se apaixone pela figura repugnante que lhe faz a mais bela declaração de amor e não pelo belo homem escondido sob trapos. Ariane, porém, que não ama o marido e vive mergulhada em fantasias, deseja um homem e não um discurso floreado.

Ao construir o livro da oposição entre a carne e o espírito, Cohen lança luz também sobre as diferenças de mentalidade entre homem e mulher, situando nos anos 30 uma discussão que está presente na literatura que se faz na Europa.

 

(Fonte: Veja, 15 de janeiro de 1986 – Edição 906 – LITERATURA/ Por Mirian Paglia Costa – Pág: 93)

 

 

 

 

 

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