Adelaide Cabete, uma das figuras femininas mais importantes da história portuguesa do início do século XX

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“Àqueles timoratos que perguntam onde irá o feminismo parar, responder-lhes-emos: o feminismo terminará onde acabam todas as ideias de progresso e toda a esperança generosa; terminará onde acabam todas as aspirações justas”.
[A.Cabete, 1924]

 

Adelaide Cabete (Alcáçova, Elvas, 25 de janeiro de 1867 – Lisboa, 14 de setembro de 1935), é uma das figuras femininas mais importantes da história portuguesa do início do século XX. 
Nasceu em Elvas, a 25 de Janeiro de 1867. Oriunda de uma família muito modesta, desde cedo foi obrigada a trabalhar na apanha da ameixa e em casas de famílias ricas, o que a impediu de frequentar a escola primária.

Em 1885, aos 18 anos, casou-se com Manuel Ramos Fernandes Cabete, sargento da Polícia Municipal, com qualidades invulgares para aquela época, que a ajudava nas tarefas domésticas e que a incentivou nos estudos e na militância republicana e feminista. Com ele aprendeu a olhar politicamente o mundo e a condição feminina. Por detrás desta grande mulher houve, sem dúvida, um homem grande que, ao contrário do que era, e às vezes ainda é habitual, não a ofuscou, mas apagou-se para que brilhasse.

 

Aos 22 anos (1889) concluiu a instrução primária, na altura em que a percentagem de analfabetismo era de 75%. Segue-se o liceu, auxiliada pelo marido que lhe explicava as matérias e, incentivada por este, para que não parasse Adelaide corresponde com agrado, e entra para a Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa com 29 anos. Sempre muito aplicada e trabalhadora incansável, Adelaide enquanto lavava, de rastos, o lajedo da sua grande cozinha, colocava o livro de Anatomia encostado ao balde e assim ia revendo as matérias.

 

Acaba a Licenciatura em medicina no ano de 1900, na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, aos 33 anos de idade, com a tese “A Protecção às Mulheres Grávidas Pobres como meio de promover o Desenvolvimento físico
das novas gerações”. Foi a terceira mulher a formar-se em medicina em Portugal. No início da tese, faz um pequeno historial sobre a mortalidade infantil nalguns países da Europa e as alterações legislativas de apoio à mulher grávidas verificadas nestes países.

Faz uma avaliação dos efeitos destas alterações sobre a diminuição da mortalidade infantil, até então bastante elevada nalguns países, como Suíça, França e Bélgica entre outros. Os investigadores da época apontavam como medidas protectoras da mulher e da criança a importância do repouso no último mês de gravidez que conduzia a um aumento do peso dos recém-nascidos à nascença.

 

Viria a ser obstetra, ginecologista, lutadora pelos direitos das mulheres, pela República, pelos direitos das crianças e dos animais. A sua militância também se centrou na causa anti-alcoólica. No instituto de Odivelas foi médica e professora, regendo a disciplina de Higiene e Puericultura. Esta inovação foi controversa, pois os pais das alunas censuraram a ideia, dirigindo uma carta ao diretor em que manifestavam o seu receio por estes ensinamentos poderem despertar nas suas filhas o desejo de serem mães!

No entanto, refere Adelaide Cabete que “algum tempo depois as coisas mudaram e agora os pais das alunas ao visitarem o colégio, aquando do internamento das filhas, ficam radiantes ao verem o bebé que elas ali vestem e tratam”. Este ensino foi uma inovação em Portugal pois segundo Adelaide Cabete “ no estrangeiro não há ensino de puericultura na escola”. Adelaide pretende que o ensino da puericultura na escola conduza a uma diminuição da mortalidade infantil, referindo: “Não basta ser mãe, é preciso sabê-lo ser”, “Quanto menor é a ignorância das mães menor é a mortalidade infantil”, “A mortalidade infantil diminui com o estudo da puericultura”; “O estudo da puericultura deve principiar a fazer-se na escola infantil”.

 

Boa oradora, participou em Congressos e Conferências. Escreveu dezenas de artigos, de temática diversa, essencialmente de carácter médico-sanitário e cariz feminista onde manifestou as suas preocupações
sociais, apresentando soluções e medidas profiláticas de doenças e epidemias, publicando sobre o assunto as obras Papel que o Estudo da Puericultura, da Higiene Feminina, etc. Deve Desempenhar no Ensino Doméstico
(1913), Proteção à Mulher Grávida (1924) e A Luta Anti-Alcoólica nas Escolas (1924).

 

Também escrevia artigos onde demonstrava as suas reivindicações de carácter feminista, esse campo fundou e dirigiu a revista Alma Feminina (entre 1920 e 1929), e colaborou com numerosas publicações periódicas como: Educação; Educação Social; O Globo; A Mulher e a Criança; Pensamento; O Rebate.

 

Como Republicana e Feminista, desenvolveu intensa actividade militante a favor do estabelecimento daquele regime político e pela dignificação do estatuto da mulher. Em 1910,com Beatriz Ângelo, coseu e bordou a bandeira nacional hasteada na implantação da República, na Rotunda, em Lisboa. Em 1912 reivindicou o voto para as mulheres. A sua vida associativa passou pelo Grupo português de Estudos Feministas (1907) e pela Liga Republicana das Mulheres Portuguesas (1908) Humanista, aplaudiu o encerramento das tabernas e manifestou-se contra a violência nas touradas, o uso de brinquedos bélicos e outros assuntos que se revelariam temas vanguardistas para a época, temas esses que ainda mantêm a sua atualidade.

 

Em 1914, fundou o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, secção portuguesa do International Council of Women e mais tarde também da “Aliança Internacional para o Sufrágio Feminino”, semo apoio dos partidos republicanos, tomando parte no Congresso Internacional de Roma, em 1923, noqual obteve grandes êxitos nos temas apresentados, abordando a condição social da mulher portuguesa e tendo feito um apelo de auxílio internacional para que a emancipação da mulher passasse a ser uma realidade em Portugal. Em 1925 está presente no Congresso Feminista de Washington, pela segunda vez em representação do Governo Português, chamando a atenção do mundo inteiro da necessidade de renovar as legislações caducas e cheias de preconceitos respeitantes à mulher.

 
Adelaide promove em 1924 o 1º Congresso Feminista como forma de comemorar o décimo aniversário do CNMP e quatro anos mais tarde o 2º, com enorme sucesso pelas teses apresentadas. Todavia, a propósito do 2º Congresso, a imprensa reaccionária faz referência à “terrível” inovação de as mulheres portuguesas virem a público apresentar as suas razões.

 
Em 1929 vai com o sobrinho Arnaldo Brasão para Luanda, desiludida com a nova situação política do país que levará à implantação do Estado Novo. Aí, dedicou-se sobretudo à medicina e envolve-se em polêmicas pela defesa dos indígenas. Em 1933 foi a primeira e única mulher a votar a Constituição Portuguesa, que instala o Estado Novo ao qual se opunha fortemente. Regressa em 1934, já doente e debilitada.

 

Adelaide fundou o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas (CNMP), em abril de 1914, em Lisboa, que tinha por objetivo federar o máximo de associações de mulheres afim de “coordenar, dirigir e estimular todos os esforços tendentes à dignificação e à emancipação das mulheres” – o CNMP estava, por sua vez, filiado no International Council of Women (ICW), fundado em Washington em 1888 para “estabelecer uma comunicação constante entre as associações de mulheres de todos os países”.  

 

Adelaide tinha já experiência enquanto militante feminista: fazia parte do Grupo Português de Estudos Feministas (criado em 1907 por Maria Veleda); tinha participado, em 1909, com Ana de Castro Osório e Fausta Pinto da Gama, na criação da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, movimento ligado ao partido republicano, que apoiou a queda da monarquia constitucional; e tinha fundado, em 1911, com Carolina Beatriz Ângelo, a Associação de Propaganda Feminista, liderada por Ana de Castro Osório.

 

Durante a Grande Guerra, foram fundadas várias associações de auxílio aos combatentes, federadas pelo CNMP. Entre elas, Cruzada das Mulheres Portuguesas (CMP) e o Núcleo Feminino de Assistência Infantil da Junta Patriótica do Norte foram as que  tiveram mais impacto e maior longevidade.

 

Morre em Lisboa, a 14 de setembro de 1935, com 68 anos.

 

(Fonte: http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia-1666852 – CULTURA – ANNE COVA – 20/08/2014)

(Fonte: http://www.glfp.pt/historia/Biografias/ADELAIDE_CABETE – GRANDE LOJA FEMININA DE PORTUGAL)

 

 

 

 

 

 

 

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