A primeira reitora da história da Universidade de São Paulo (USP)

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Suely Vilela, a primeira reitora da história da USP

 

 

Governador anunciou em 26 de novembro o nome da farmacêutica, atual pró-reitora de pós-graduação, para o cargo

O governador Geraldo Alckmin (PSDB) anunciou ontem o nome da farmacêutica Suely Vilela, de 51 anos, como a primeira reitora da história da Universidade de São Paulo (USP). “Ela foi a mais votada, tem um currículo muito bom e tenho certeza de que vai desempenhar um bom papel”, disse.

 

A nova reitora foi chamada ao Palácio dos Bandeirantes para ser informada pessoalmente da escolha. A cerimônia de posse será sábado. Para Alckmin, a eleição de Suely significa um grande passo para as mulheres.

 

Ela, no entanto, não gosta de falar sobre gênero. Evita, apesar das perguntas insistentes, dizer o que mudará na USP com uma mulher no poder. Ao constatar o ineditismo de sua eleição, logo após a contagem dos votos que a colocou em primeiro lugar na lista tríplice, falou em “mudança de paradigma”. Foi só. Depois lembrou seu trabalho na pró-reitoria de pós-graduação e sua propensão ao diálogo. Falou de outras possíveis credenciais que a levaram à vitória. E então chorou.

 

A falação nos corredores da reitoria foi mais corporativista. Mulheres da sua base de apoio se cumprimentavam. Sorriam com ares de “chegamos lá”. Os opositores gostam de dizer que Suely foi eleita pelo “baixo clero” da USP. Ela não teve o apoio maciço de grandes faculdades, como a São Francisco, de Direito, e a de Economia e Administração. Foi favorecida pela composição do segundo turno, em que todas as unidades têm direito a um mesmo número de votos, independentemente do tamanho. Mas ela teve o maior apoio de todos: o do atual reitor, Adolpho José Melfi.

 

“A gente torcia, mas fiquei surpresa porque ela era a única mulher na disputa e a universidade ainda é conservadora”, comemora a diretora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto e amiga há mais de 30 anos de Suely, Maria de Lourdes Pires Bianchi. Ela dirige hoje a unidade em que as duas ingressaram na USP nos anos 70 e ocupa o cargo que foi da nova reitora nos anos 90.

 

Nascida numa fazenda em Ilicínea, Minas Gerais, em 22 de fevereiro de 1954, Suely mudou-se ainda criança para Franca, São Paulo, onde o pai trabalhou como comerciante de botinas. Os pais, sem diploma, sempre sonharam com a formatura da filha. Já farmacêutica, ela então motivou a família a mudar-se de novo – para Ribeirão. “Só trabalhei depois de formada, já como professora”, diz. “Também nunca aprendi a cozinhar. Não gosto e não tenho tempo.”

 

Acabam aí as referências menos femininas. Suely conta que gasta a maior parte do dinheiro em cremes e roupas – “coloridas, porém clássicas”. Que pensa em fazer uma plástica porque, afinal, “não pode ser uma reitora feia”. Gosta de filmes românticos, entre eles Titanic e Uma Linda Mulher. Quando decidiu ser candidata, leu Você É do Tamanho de seus Sonhos, de Cesar Souza, um livro de auto-ajuda que fala de como conseguir o que deseja.

 

A conversa com o Estado foi interrompida pelo telefonema da costureira que prepara uma das duas roupas escolhidas para o posse. “Estou na dúvida entre um tailleur e um vestido.” Toda semana, ela recebe massagem facial e vai ao cabeleireiro. E não sai do flat em que mora em São Paulo ou da casa em Ribeirão sem escova no cabelo. “Eu me acho uma mulher bonita e muito bem resolvida.”

 

A reitora mora sozinha e não gosta de falar sobre vida amorosa. O único filho, um advogado de 24 anos, viveu muito tempo com ela, mas hoje divide um apartamento com um colega. “Ela sempre foi superprotetora, pegava no pé para estudar, mas tem um coração mole”, conta Carlos Alberto Vilela Sampaio. “Essa vitória coroa toda sua dedicação ao ensino público.”

 

A aluna de mestrado Elaine Franqueiro fala do “carisma”. “Ela nasceu para a política, traz alegria para o laboratório”, conta, referindo-se ao Laboratório de Toxinologia, chefiado até hoje por Suely em Ribeirão.

 

 

SERPENTES

 

 

Sua vida como cientista foi dedicada a pesquisas na área de toxinas, principalmente venenos de serpentes. Ela tem trabalhos em publicações internacionais importantes e é lembrada por ajudar a criar a pós-graduação na Farmácia. “Quando era chefe de departamento, fez com que todos tivessem um projeto e pedissem auxílio à pesquisa na Fapesp“, lembra Maria de Lourdes.

 

 

Para a diretora científica do Instituto Butantã e membro do conselho da Sociedade Brasileira de Toxinologia, Ana Maria Moura da Silva, Suely é uma das importantes pesquisadoras da área, com trabalhos sobre inibição da ação do veneno no organismo. Seu currículo no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) tem 37 artigos completos publicados, número considerado razoável, e 13 mestres e doutores formados sob sua orientação.

 

 

Mas foi como pró-reitora que ganhou notoriedade dentro e fora da USP. Atacou os chamados cursos pagos, oferecidos por fundações de apoio, ligadas a unidades da universidade. Os MBAs perderam status de pós-graduação e foram transferidos para a área de extensão universitária. A iniciativa, que agradou – pelo menos em parte – ao movimento estudantil e aos sindicatos fez com que muita gente acreditasse que ela tivera o apoio da ala esquerda da USP. “Não teria sentido apoiarmos nenhum candidato. Entramos com mandado de segurança para impedir a realização desse processo eleitoral anacrônico”, nega o presidente da Associação dos Docentes da USP (Adusp), César Minto.

 

 

Para o chefe-de-gabinete de Melfi e articulador da campanha de Suely, Celso de Barros Gomes, a nova reitora tem uma percepção clara das necessidades de mudança na universidade, principalmente para agilizar a administração. “Na pró-reitoria, ela herdou um sistema de burocracia e não mudou”, discorda um dirigente da universidade, que não autorizou a publicação do seu nome. “Se um Prêmio Nobel quiser dar aula na USP, vai ter de esperar dois meses para que seu currículo seja autorizado.”

 

A oposição também questiona seu preparo. “Nunca a vi em evento cultural – teatro ou orquestras – da universidade”, diz outro professor.

(Fonte: http://www.saopaulo.sp.gov.br/spnoticias – NA IMPRENSA – RENATA CAFARDO – Jornal da Tarde – 24 de novembro de 2005)

(Fonte: https://bv.fapesp.br/namidia/noticia – NA MÍDIA / NOTÍCIA / BIBLIOTECA VIRTUAL – 24 de novembro de 2005)

Publicado em: O Estado de S. Paulo (Vida&) em 24 de Novembro de 2005

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