A primeira presidente dos EUA

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Quem é a mulher que desafia Trump e pode ser a primeira presidente dos EUA

 “Os democratas vencem quando chamamos a atenção para o que está quebrado, apresentamos um plano para consertá-lo e quando damos às pessoas uma razão para entrar na luta. Não tenho medo de sonhar grande e lutar muito.”

A fala da senadora americana Elizabeth Warren no debate dos pré-candidatos democratas que tentam a vaga do partido para disputar a presidência do país, em 2020, resume sua campanha. Ela busca se colocar como uma terceira via política em um país onde união, definitivamente, soa apenas como um nome próprio: os Estados Unidos andam mais polarizados do que nunca.

De fato, o sonho é grande: a ex-professora de direito em Harvard, eleita pelo estado de Massachusetts, quer ser a segunda candidata de um partido majoritário à presidência da maior potência econômica mundial e a primeira se eleger como tal, uma vez que a ex-senadora e ex-secretária de Estado Hillary Clinton perdeu o embate para Donald Trump no pleito de 2016.

A postura destemida também é marca da trajetória da senadora: nascida em uma família de classe média em Oklahoma City, no estado de Oklahoma, ela precisou ajudar nas contas de casa ainda cedo, aos 13 anos, depois que o pai, vendedor de carros, ficou incapacitado de trabalhar após um infarto. Foi trabalhar como garçonete para complementar o salário da mãe, que não conseguia sozinha sustentar os quatro filhos e as contas médicas do marido.

Aluna-modelo, ganhou uma bolsa de estudos para a Universidade George Washington, mas abriu mão dela para se casar com o namorado, Jim Warren, e se mudar para o Texas, onde se formaria fonoaudióloga. Somente anos depois, e já grávida do segundo filho, ela se formaria em direito. O divórcio viria dois anos depois. Em 1980, casou-se com Bruce Mann, seu atual cônjuge, mas manteve o sobrenome do primeiro marido.

Embora a consciência política tenha começado a se construir já nas turbulências enfrentadas na adolescência, foi apenas após uma bem-sucedida carreira acadêmica focada em direito comercial e falências que ela disputaria a casa legislativa. Republicana desde os 40 anos de idade – “votava neles porque achava que eram os melhores para os mercados” -, reviu as próprias posições, virou democrata e deu ao seu novo partido a vaga que, por quase quatro décadas, havia sido do senador democrata Ted Kennedy.

Com um partido bastante fragmentado para a sucessão presidencial, Warren tenta se viabilizar como uma candidata competitiva e longe dos extremos políticos, com um discurso pragmático sobre problemas e soluções, sobretudo em relação às desigualdades sociais.

“Eu tenho um plano”, frase que ela vem usando desde o começo da campanha, estampa camisetas da lojinha virtual da candidata -que passou a comercializar também produtos com a frase “Eu não tenho medo”. Os itens ganharam também versões das frases em espanhol, uma vez que os latinos representam 10% do eleitorado no país.

Lista de promessas foca em problemas históricos

 

É para a classe trabalhadora, e não para as grandes corporações ou os ricos, que ela tem se colocado como ferramenta para solucionar, por meio de “grandes mudanças estruturais”, uma série de problemas há décadas enfrentados pelos americanos.

 

Promete abater as dívidas estudantis (são ao menos 40 milhões de americanos nessa condição) e diz que vai criar um imposto sobre bilionários capaz de financiar, por exemplo, sua promessa de campanha mais ambiciosa: um plano de assistência médica que garanta saúde pública e universal nos Estados Unidos.

Cada vez mais pressionada por seu principal adversário dentro do Partido Democrata, o ex-vice-presidente de Barack Obama, Joe Biden, Warren definiu na última sexta (1º) que, embora não vá aumentar os impostos da classe média, atualmente espremida por hipotecas, o fará a empresas e bilionários para gerar, ao longo de dez anos, US$ 20,5 trilhões que banquem o plano de saúde para todos. “Eu fiz a lição de casa. Convidei os especialistas para verificar minha matemática. E podemos fazer isso sem aumentar os impostos em um centavo para as famílias de classe média”, argumentou.

 

Acesso ao aborto legal

 

 

 Em alta nas pesquisas e com forte apoio de liberais, que têm se mostrado empolgados com seu ambicioso plano político, Warren também volta seu discurso às mulheres não apenas quando destaca que pode ser a primeira presidente do país, como ao prometer um plano que garanta o acesso de todas ao aborto legal.

“Eu vivi em uma América onde o aborto era ilegal. Se você fosse rico, ainda podia fazer um aborto —eram as pessoas mais vulneráveis que não conseguiam os cuidados de que precisavam. Eu tenho um plano para proteger o acesso ao aborto, não importa o que a Suprema Corte faça”, escreveu, dias atrás, a seus quase 3,5 milhões de seguidores no Twitter oficial da campanha. No perfil como senadora, 5,5 milhões a seguem.

Planos para lutar contra a epidemia de opiáceos, para expandir os direitos da comunidade LGBTQ ou para rejeitar a arrecadação de fundos com doadores ricos reforçam o slogan “Warren tem um plano para isso”. A quebra de monopólio dos gigantes de tecnologia —leia-se Facebook, Amazon, Google e Apple— é outra promessa que faz Warren se destacar de seus opositores.

Longe das elites e perto dos dilemas reais

Para Fernanda Magnotta, coordenadora do curso de Relações Internacionais da Faap (Fundação Armando Álvares Penteado), em São Paulo, qualquer análise sobre os candidatos democratas, hoje, tem caráter preliminar, uma vez que as primárias do partido em Iowa, o estado que lança o processo das sondagens, em 3 de fevereiro, é que darão um panorama mais preciso de quem tem chances de ser candidato.

Uma nova pesquisa divulgada na sexta (1º) pelo jornal The New York Times, no entanto, mostra que Warren aparece ligeiramente à frente do senador Bernie Sanders (Vermont), do prefeito Pete Buttigieg (Indiana) e do ex-vice-presidente Joe Biden (Pensilvânia). A convenção que define o candidato do Partido Democrata só acontece em julho.

“Pela narrativa que ela construiu até aqui, Warren tenta se apresentar como terceira via às candidaturas que são mainstream, como as de Donald Trump [pelos republicanos]e Biden, sobretudo ao apresentar propostas e planos concretos para problemas reais”, diz Fernanda. “Isso reflete a leitura de que o ambiente político nos EUA acabou sendo tão exposto a uma polarização ideológica que fez com que essas questões práticas do dia a dia tenham sido deixadas de lado.”

Outro ponto que pode contar a favor da ex-professora é a experiência de vida que a aproxima dos dilemas reais dos americanos e a afasta de uma imagem de elite política que se cola, por exemplo, às figuras de Biden e de Hillary Clinton.

“Warren sofreu uma ação de despejo quando muito jovem e experimentou, portanto, questões ligadas a um país muito desigual. Parece interessante alguém como ela agora falar de desigualdade já que Trump, em 2016, embora em um tom mais raivoso, capitalizou em cima desse eleitorado ressentido por estar mais empobrecido.”

Se a polarização advinda da eleição de 2016 pode trazer um frescor a figuras que soem como novidade, agora, como Warren, por outro lado, pode também manter a atenção do eleitorado nos extremos que proveem, tal qual o algoritmo de redes sociais, os mesmos velhos pontos de vista.

Hillary Clinton x Elizabeth Warren

Como comparar Hillary e Warren?

“São pessoas muito diferentes e de personalidades muito distintas, mas a ex-senadora e ex-primeira-dama sempre pertenceu a uma espécie de Olimpo desse mainstream”, diz a professora da Faap. “Obama foi eleito como um outsider, não alguém que veio da elite -como Trump também era um outsider, em certa medida”, explica.

“Mas Hillary foi descrita o tempo todo como integrante de uma elite responsável por parte dos problemas e isso reforçou a narrativa de Trump. Warren fala contra as elites.”

Se precisa furar o bloqueio das elites do próprio partido, Elizabeth Warren precisará ainda lidar com a fragmentação dos democratas, que, neste ano, chegaram a ter 26 pré-candidatos na disputa à indicação. Atualmente, são 17 os nomes em jogo.

Caberá a ela convencer os correligionários de que há motivos para entrar na luta que ela defende. “Lutar muito” e sem medo, promete a senadora, devem ser combustíveis constantes na jornada que ela escolheu trilhar.

(Fonte: https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2019/11/05 – UNIVERSA / NOTÍCIAS / Por Janaina Garcia / Colaboração para Universa – 05/11/2019)
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