A primeira mulher a liderar hipismo

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Bilionária, ex-técnica da ginástica quer ser a 1ª mulher a liderar hipismo

 

Bárbara Laffranchi, candidata à presidência da confederação de hipismo.
(Imagem: DIREITOS RESERVADOS)

 

 

A candidata mais rica do Brasil não estará nas urnas eletrônicas da eleição do próximo dia 15 de novembro. Única herdeira do casal que vendeu uma universidade por R$ 1,3 bilhão em 2011, a técnica olímpica de ginástica rítmica Bárbara Laffranchi é a favorita para ser a próxima presidente da Confederação Brasileira de Hipismo (CBH). Entre as promessas da candidata de oposição para o caso de vitória está um contrato (segundo ela) já assinado para que um banco privado patrocine a entidade.

 

Essa não é a primeira movimentação dos Laffranchi na política esportiva brasileira. Em meados da década passada, a mãe dela, Elizabeth, então vice-presidente da Federação Internacional de Ginástica (FIG), travou uma guerra de bastidores contra a então presidente da Confederação Brasileiro de Ginástica (CBG), Vicélia Florenzano, chegando a se lançar candidata ao cargo e a conseguir uma liminar para tirar a antiga aliada do poder.

 

Diversas vezes listada entre os bilionários brasileiros pela revista Forbes, a professora Elizabeh é referência na ginástica rítmica brasileira. Enquanto atuava como árbitra internacional, cabia ao marido, Marco Antônio Laffranchi, administrar a universidade que eles criaram em Londrina (PR), a Unopar, que se tornou referência no ensino à distância. Quando a instituição foi vendida para o grupo Kroton, era líder de mercado em EAD.

 

Graças aos investimentos da família Laffranchi, Londrina se tornou referência em ginástica rítmica no Brasil, com Bárbara chegando ao comando da seleção enquanto a Unopar patrocinava a equipe. No começo dos anos 2000, o conjunto chegou ao grupo dos 10 melhores do mundo e se classificou a duas Olimpíadas. Mas, na véspera dos Jogos de Atenas, os Laffranchi e a CBG romperam.

 

 

 

Bárbara, à direita, com a seleção de ginástica rítmica no Pan de 2003. Na outra ponta, a assistente Camila Ferezin (Imagem: Milton Dória/Folhapress)

 

 

“Meu pai chegou e me colocou na parede, dizendo que me queria na universidade. Assim, durante a preparação, anunciei que ia encerrar minha carreira como técnica. Quando eu fiz isso, a Vicélia (Florenzano, presidente da CBG na época) se sentiu traída, porque fui acudir meu pai e deixei ela mão. E aí começou um movimento para cortar participação da Unopar junto à confederação”, explica Bárbara.

 

Na época, a polêmica foi mais complexa. Dias antes da Olimpíada, Vicélia decidiu que, sem Bárbara, a seleção permanente deixaria de treinar na Unopar e comunicou isso às atletas. As Laffranchi não concordaram com a decisão, que prejudicava a equipe da universidade, base da seleção. Começava ali uma disputa de poder que chegou a ser tema de audiência pública na Câmara e durou anos. Em 2005, Elizabeth chegou à eleição da CBG como candidata de oposição. Impedida de falar na assembleia, acabou retirando a candidatura. No ano seguinte, a Unopar conseguiu o afastamento de Vicélia da confederação, acusando-a de não prestar contas de verbas recebidas pela Lei Piva, Duas semanas depois, a dirigente foi reconduzida. Elizabeth se afastou da ginástica algum tempo depois.

 

Hoje, Bárbara e a Vicélia são amigas. “Hoje não sou mais brigada. A gente se reencontrou depois disso, voltamos a ser amigas”, conta a ex-treinadora, que é doutora em treinamento esportivo e guarda com carrinho no currículo a coreografia do “Brasileirinho”, a histórica apresentação de Daiane dos Santos que encantou o mundo há mais de 15 anos.

 

“A escolha do Brasileirinho foi minha. Ajudei a fazer a música, ajudei a desenvolver a música. A coreografia de solo é dividida em duas partes. Tem os exercícios de dificuldade e a parte de dança. Eu montei essa parte coreografada”, lembra. Seu último contato com a ginástica foi há cerca de cinco anos, quando passou um mês em Aracaju (SE) auxiliando a atual técnica da seleção, Camila Ferezin, sua antiga pupila. Camila é nora da atual presidente da CBG, Luciene Resende, antiga vice de Vicélia. Desde aquela visita, Bárbara e Camila não se falam. “Um afastamento natural, coisas da vida”.

 

Agora no hipismo

 

Se Bárbara chegou à ginástica por influência da mãe, foi por causa da filha, Kika, que Bárbara se aproximou do hipismo. “Ela começou a montar com sete anos, está para fazer 29. Então são 22 anos acompanhando a carreira dela, e eu me apaixonei pelo esporte esse tempo todo”, conta.

 

Formada em moda, Kika dedica-se com exclusividade às provas de saltos e, no ano passado, ganhou o Campeonato Brasileiro na prova com obstáculos de 1,40m. “Minha filha tem um cavalo muito importante, que eu considero o melhor em território nacional, o Chicago O”. De tanto frequentar a Hípica Paulista, a própria Bárbara virou amazona, mas no adestramento. Comprou um cavalo e, ao montá-lo, percebeu que o animal era bom demais para ela. Tão bom que Biso das Lezírias, um puro sangue lusitano, ganhou o bronze nos Jogos Pan-Americanos do ano passado, montado por João Victor Oliva — o filho de Hortência, campeã mundial do basquete.

 

Foi a partir de um episódio desse Pan, aliás, que Bárbara passou de mãe de atleta a figura política no hipismo. A equipe de adestramento foi bronze em Lima e, com o resultado, garantiu uma vaga em Tóquio. Só aí é que alguém percebeu que, para manter essa vaga, seria necessário que os conjuntos obtivessem índices individuais em provas de nível internacional, que não existem no Brasil. Mas enviar um cavalo para a Europa ou para os EUA não é algo fácil e a única chance era aproveitar o corredor sanitário aberto para o Pan por alguns dias.

 

“Foi ali que eu pensei: ‘Eu já mexi tanto com isso, tenho duas Olimpíadas, quatro Pans, 14 Mundiais, tenho tanta experiência nesse tipo de coisa, porque não me envolvo de uma vez com isso? Por que não faço as coisas pelo esporte que estou envolvida?”‘. Biso não foi para a Europa. Voltou para o Brasil e agora é montado por Bárbara. João Victor chegou a fazer índice olímpico, com outro cavalo emprestado, que já foi vendido por seus proprietários.

 

A falta de animais, aliás, é problema crônico do hipismo brasileiro. Mas Bárbara diz que não pensa em investir dinheiro próprio para comprar montarias. “Hoje meu objetivo é gerir o esporte. Tem tanta coisa para se fazer, tem tanto problema, tanto projeto para tocar. O dinheiro que gastei em cavalo, eu gastei para eu mesma montar, para minha filha montar. Não pensei como proprietária.”

 

Se eleita, Bárbara não pretende fazer como o presidente da Confederação Brasileira de Basquete (CBB), Guy Peixoto, que colocou dinheiro do bolso na entidade. “Seria assinar embaixo minha incompetência como gestora”, ela argumenta. Sua ideia é que o hipismo, um esporte “não elitizado, mas glamourizado”, atraia mais patrocinadores. Hoje, a confederação não tem nenhum.

 

A candidata tem uma carta na manga: um contrato com um banco, que ela não revela qual é, que patrocinaria a confederação a partir de janeiro se ela for eleita. Ela reconhece que esse é um trunfo ligado ao seu poderio financeiro. “O fato de eu ter posses permitiu que eu tivesse patrocinador. Quem vai patrocinar a confederação é um banco, mas só se eu for eleita. E isso porque a gente tem relacionamento. E por que a gente tem relacionamento? Porque eu tenho dinheiro. Quero aproveitar o fato de ter muito dinheiro para fazer a máquina girar”.

 

De contato em contato, ela ganhou apoios importantes, entre eles, dos principais cavaleiros do país, como Doda e Rodrigo Pessoa. Luiz Roberto Guigni, presidente da entidade até 2016, a apoia contra seu antigo aliado, o atual presidente Ronaldo Bittencourt — candidato à reeleição, o brasiliense não respondeu aos pedidos de entrevista feitos pelo blog.

 

Durante a pré-campanha, Bárbara foi envolvida em uma polêmica. Seu treinador pessoal, Leandro Aparecido da Silva, cavaleiro olímpico, foi filmado agredindo um pônei e, em julho, o vídeo viralizou em grupos de defesa dos animais. Diante da pressão, a Sociedade Hípica Paulista suspendeu a credencial para que Leandro e seu filho (que fez a gravação, rindo) frequentassem o clube.

 

Como Leandro é também o treinador dos quatro cavalos que ela mantém nas cocheiras da hípica, Bárbara tirou os animais de lá e os enviou para o haras de Leandro. Ela nega que defenda a postura do seu técnico. “Eu achei que aquela atitude no vídeo foi horrorosa. Foi horrível. Eu liguei pro Leandro e ele me disse que foi extremamente infeliz e explicou que o pônei mordeu a filha dele, ele perdeu a cabeça e se sentia mal. Continuo achando que a atitude foi horrorosa, mas como professor e treinador ele é muito bom. Hoje eu consigo montar o Biso porque eu faço aula com ele. Quando a credencial foi suspensa, eu não tinha o que fazer. Eu sei que o Leandro não é um abusador, não é um cara que maltrata. Ele teve um momento infeliz”, opina.

 

A eleição da CBH não tem ainda data para ocorrer. A previsão é que ela seja realizada na segunda quinzena de novembro. Votam 21 federações e sete representantes de atletas.

(Fonte: https://www.uol.com.br/esporte/colunas/olhar-olimpico/2020/10/03 – ESPORTE / OLHAR OLIMPÍCO / por Demétrio Vecchioli – 03/10/2020)

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