A primeira mulher a comandar a maior penitenciária do RS

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Diretora de presídio no RS: ‘Me perguntam por que gosto tanto de preso’

 

O Rio Grande do Sul foi o primeiro Estado a formar policiais militares homens e mulheres juntos

 

Como diretora da Cadeia Pública de Porto Alegre, a maior do Rio Grande do Sul, Ana Maria Hermes, 47, lida diariamente com 3.000 presos, a maioria deles membros de facções criminosas do estado. O presídio já foi considerado o pior do país até que, em 2013, a OEA (Organização dos Estados Americanos) exigiu do governo brasileiro que resolvesse o caos carcerário instaurado na unidade .

 

Hermes diz ser respeitada e nunca ter sofrido ameaças por parte dos detentos, com quem afirma manter um bom diálogo. Em sua gestão, a qual assumiu em meados de 2021, tem como foco implementar iniciativas de profissionalização e ressocialização. Bandido bom é bandido morto? Não para ela.

 

“Algumas pessoas questionam: ‘Você gosta tanto assim de preso?’. Não é isso. A pessoa precisa ter oportunidade de ser diferente do que era antes do cárcere e fazer diferença após sair daqui. Penso que nós, enquanto gestores de casas prisionais, não podemos perder de vista o tratamento penal correto, que não é apenas pelo preso, mas por toda a sociedade”, diz, em conversa com Universa.

 

Hermes é a primeira mulher a comandar a maior penitenciária do estado em 56 anos, desde que foi fundada. Diz, porém, que relutou em destacar esse marco histórico, por acreditar que seu gênero não deveria ser o foco. Foi a filha de 14 anos — ela é mãe de outro rapaz de 24 — que lhe abriu os olhos. “Comentei em casa que estava me sentindo um pouco desconfortável com essa situação. Manoela me disse: ‘Mãe, imagina quantas mulheres pensam que não podem estar em uma função dessas? E você, estando onde está, mostra que é possível estar em qualquer lugar’. Vi que ela tinha razão.”

 

Em 2018, um preso deu um depoimento na Feira do Livro de Porto Alegre, depois de ficar em terceiro lugar em um concurso de redação nacional, e nos chamou atenção. Como o texto saiu nesse livro, editado com contos advindos do sistema prisional. O rapaz era órfão, foi criado na rua e começou a cometer pequenos delitos para comprar comida e usar entorpecentes. Diz que conheceu a diferença entre o ‘sim’ e o ‘não’, limites, o que pode ou não ser feito, na Cadeia Pública de Porto Alegre.

 

Qualquer especialista jurídico que analisa o nosso conjunto legal vai ver que o que fazemos é muito avançado. Mas isso não depende do nosso entendimento. A pessoa presa tem a garantia de todos os seus direitos legais, isso transcende qualquer avaliação pessoal ou do pensamento mantido por parte da sociedade. Me pauto pela Lei de Execução Penal. É isso que importa.

(Fonte: https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2022/03/10 – MULHERES INSPIRADORAS / por Franceli Stefani / Colaboração para Universa, em Porto Alegre – 10/03/2022)

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